Férias do terapeuta? Como não 'surtar' no recesso do profissional

O final do ano chega carregado de celebrações, reuniões familiares e um pouco de ansiedade para alguns. Afinal, é nessa época que muitas resoluções, seja no âmbito pessoal ou profissional, são colocadas em xeque pela própria pessoa.

Sem contar todas essas preocupações, é nesse período que os terapeutas tiram alguns dias de férias, e com isso vem o desespero: como não "surtar" sem esse profissional?

Para quem está em tratamento, a ausência do terapeuta durante o recesso pode ser um momento de angústia e incerteza. Afinal, a terapia é um espaço seguro e de confiança, onde a pessoa pode se expressar livremente e contar com o apoio do especialista.

Mas, assim como todas as pessoas, eles também precisam de férias. Além deles, é crucial que você também tire uns dias off do profissional, para rever alguns pontos e até fazer uma autoanálise.

Fabiana Thiele Escudero, psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da PUCPR, reforça que o terapeuta é alguém que desenvolve um trabalho junto com esse paciente, mas não deve ser visto como uma muleta.

"O objetivo maior que tenho como terapeuta é me tornar desnecessária, é chegar num ponto onde esse paciente não precise de mim, onde ele já tem as ferramentas para lidar com as suas angústias, com os seus debates internos", diz a profissional.

Por isso, neste período, é fundamental tirar um tempo para fazer resoluções práticas, colocar no papel tudo que já aprendeu e o quanto consegue se sustentar em momentos difíceis.

"Os pacientes podem usar esse momento para uma coisa muito positiva, que é perceber a sua capacidade, a sua independência", recomenda Escudero.

Como se preparar para esse processo?

Não é da noite para o dia que as sessões vão acabar. E isso precisa ser acordado um pouco antes com o profissional. Questões mais sérias precisam ser levadas em consideração e tratadas durante os encontros.

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O ideal é ter uma troca bacana com o terapeuta para expor pontos cruciais, inclusive se as sessões farão falta. É importante ter em mente ainda que o profissional tem preparo para saber se aquele paciente pode ou não ficar sem o atendimento por algumas semanas.

"Essa decisão, ela é primariamente do psicólogo que está acompanhando essa pessoa, mas vai ser sempre conversado e ajustado individualmente com cada caso", destaca Talita Perboni, neuropsicóloga do Hospital INC e terapeuta cognitiva-comportamental.

De acordo com a profissional, há casos mais graves em que é permitido abrir exceções, já que o paciente pode estar muito debilitado, em situação de perigo e/ou vivendo uma condição extrema.

É normal se sentir "esquisito" nessa época?

O fim do ano é uma época de festividades, alegria e celebração. No entanto, para algumas pessoas, esse período pode ser marcado pela tristeza e melancolia. Esse sentimento, conhecido como "tristeza de fim de ano", é mais comum do que se imagina e pode ter diversas causas.

"É uma época que as pessoas remetem muito à família, ao cuidado, aconchego, amor. Infelizmente, nós sabemos que na nossa sociedade, no nosso mundo, muitas pessoas não vivenciaram isso de uma forma saudável ou tiveram perdas muito recentes, de pessoas muito queridas e que também pode levantar maior vulnerabilidade, maior fragilidade emocional", ressalta Perboni.

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Essa data tende a ser desafiadora para muita gente, mesmo para quem faz terapia. Diante desse cenário, o ideal é tentar não se forçar a fazer coisas que não deseja ou ser consumido por muitas informações.

Caso não queira ir a uma festa com os amigos ou naquele típico amigo secreto, seja educado, recuse e simplesmente não vá. O importante, segundo os especialistas, é buscar coisas relaxantes, mesmo que seja por poucos momentos.

Caso você tenha alguns dias de férias coletivas, o ideal é se desligar por completo de algo que desperte gatilhos. Além disso, não exija muito de si, a autocobrança pode prejudicá-lo ainda mais nesta época do ano.

A primeira dica que a gente dá é seja gentil com você mesmo. É normal se sentir sobrecarregado, é normal se sentir cansado, é normal se sentir pressionado, então autocompaixão é muito importante nesse momento, se acolher, falar 'tudo bem, eu estou me sentindo assim'. Fabiana Thiele Escudero, psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da PUCPR

Vale contatar o terapeuta em casos emergenciais?

A segurança e o bem-estar do paciente vão ser sempre prioridade. E todo terapeuta tem um procedimento para lidar com a situação de emergência que sempre fica combinado com os pacientes, mesmo que eles estejam de férias.

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Agora, se você tem uma crise emocional e não tem um terapeuta, o ideal é ligar para um número de emergência e até para CVV (Centro de Valorização da Vida). Sempre procure ajuda, fale com alguém ou busque por um serviço de saúde emergencial aberto 24 horas.

"Em casos graves de transtornos mentais, o suporte de uma equipe ou instituição especializada é fundamental e até mais importante que o apoio individual de um terapeuta", reforça Claudio Melo, psicólogo da Holiste Psiquiatria, em Salvador, Bahia.

Dicas práticas para passar pelo recesso do terapeuta de forma tranquila

Mantenha uma rotina: durante o recesso, é tentador se perder na falta de estrutura. Mas manter os hábitos pode ajudar a trazer estabilidade.

Pratique autocuidado: dedique um tempo para atividades que o ajudem a relaxar e recarregar as energias. Seja caminhadas ao ar livre, leitura, ou simplesmente ouvir música.

Reflita: utilize esse tempo para refletir sobre suas metas terapêuticas e sobre o progresso alcançado. Isso pode fortalecer seu compromisso com o processo terapêutico.

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Atividade rápida: em casos de surtos ou crises, tente fazer polichinelos, que é um exercício que cansa rapidamente. Pode ser ainda uma corrida em lugar seguro. Não faça atividades em áreas de risco ou que você fique ainda mais vulnerável.

Contate pessoas de confiança: se precisar conversar com alguém ou desabafar, procure alguém que não vá te julgar. Seja da família ou de outro círculo, o importante é se sentir bem com aquele indivíduo e que possa contar com ele.

Mantenha o foco no seu progresso: pense em tudo o que você já aprendeu e o quanto você já evoluiu durante a terapia. Isso vai ajudar a manter a motivação.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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