Fim de ano tá maluco? Saiba como ver os sinais de um burnout e evitá-lo

Em novembro é dada a largada para a típica correria de fim de ano. Com o ritmo frenético comum nesse período, uma velha amiga do estresse chega para ameaçar muita gente: a síndrome de burnout, que atinge em torno de 30% da população brasileira, segundo a Isma (International Stress Management Association). Definida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como um fenômeno ocupacional, resulta da sobrecarga de tarefas no trabalho e pode levar à depressão, ansiedade e a problemas físicos, como a gastrite.

Tudo começa com uma dedicação intensa às tarefas cotidianas, o que podemos chamar de hiperativação. Para dar conta de uma lista imensa de atividades (muito comum nesta época do ano), a pessoa até reduz seu tempo de lazer.

Mas é depois de atingir um pico desumano que a produtividade despenca. Com uma profunda sensação de esgotamento, o sujeito passa mal só de pensar em trabalho. Tremores nas pálpebras, enxaquecas e dores nas costas são alguns dos sinais do organismo avisando que algo ali não vai bem. Como diz a própria terminologia 'burnout', que vem do inglês, a pessoa trabalha até queimar o último fio.

Por que no fim do ano?

É fácil entender por que o fim do ano é um prato cheio para essa síndrome aparecer. O momento reúne uma série de estressores, como o excesso de expectativas para o início de um ciclo e a necessidade de finalizar projetos pessoais e profissionais. Nesse clima de "agora ou nunca", o corpo cobra a conta.

A Isma estima que o estresse aumente em torno de 75% no último mês do ano. E a pressão laboral tende a impulsionar esse boom. Alves reforça que, embora o burnout venha de um processo de longo prazo e não apareça de um dia para o outro, o excesso de trabalho do fim do ano pode ser o estopim para a síndrome.

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Imagem: Getty Images

A professora de língua portuguesa Janaína More, 36, entende bem o que é isso. Lecionando em uma escola particular, em Curitiba, precisava bater altas metas no fim do ano, sendo cobrada pela performance de seus alunos em provas finais.

Com 15 anos de carreira, a educadora conta também que, assim que o ano letivo se encerrava, era o momento de saber quem permaneceria no corpo docente. E, a depender da avaliação do colégio, o profissional era desligado.

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Apesar da pressão, sempre vestia a camisa da empresa e trabalhava muito. Até começar a ter sintomas de depressão. Primeiro, veio a desilusão com suas atividades. Depois, a insônia. Mas o que acendeu de vez o alerta foram as perdas cognitivas, que só aumentavam. "Percebi que não estava conseguindo entender sequer uma linha dos textos que eu lia. Quando isso acontece com uma professora de literatura, é por que a situação é crítica", diz.

Incentivada por colegas de trabalho, Janaína resolveu buscar ajuda terapêutica e, embora tivesse muita dificuldade para aceitar sua condição, iniciou o tratamento. Precisou se afastar três meses por depressão e, quando voltou, foi demitida.

Depois da experiência traumática, deixou de lecionar e entrou no mestrado em administração. Hoje, pesquisa os efeitos do burnout em professores. "Esse problema demanda atenção do trabalhador. Mas as empresas também precisam mudar para lidar com ele", argumenta.

Trabalho remoto pode piorar problema

Se o fechamento do ano pode acabar em burnout em um período normal, na pandemia, o problema foi ainda maior. A começar pelo home office, que em muitos casos fragilizou os limites entre casa e empresa.

Segundo um estudo da multinacional de tecnologia Oracle, com dados de 11 países, 35% da força de trabalho remota afirmou ter trabalhado mais horas desde o início da crise sanitária.

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Quem fica especialmente à mercê dessa linha tênue são as mulheres, ainda responsabilizadas pela esfera do cuidado. Uma pesquisa da SOF (Sempreviva Organização Feminista) mostra que 50% delas passaram a cuidar de alguém nesse momento.

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Imagem: iStock

E aí, com o fim de ano se aproximando, a atenção deve ser redobrada não apenas no trabalho, já que a síndrome é multifatorial. Pode ser que o excesso de atividades na companhia somado ao volume de tarefas domésticas contribua significativamente para esse quadro.

No período que antecede o Natal e o Réveillon, vários setores costumam contratar temporários. Como muitos se esforçam ao máximo para uma efetivação nessa corrida tão acirrada, o esgotamento pode surgir. Se uma pessoa já apresenta algum grau de depressão ou ansiedade, está ainda mais vulnerável diante desse contexto todo.

Como se prevenir

E o que fazer, então, para não sucumbir a esse vendaval? Para começar, reduzir hábitos que aumentam os níveis de estresse, como fumar e beber café, ajuda na prevenção.

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É importante adotar práticas de estilo de vida saudáveis, estabelecendo limites na própria rotina. Portanto, programe-se para limitar horas trabalhadas por período e jamais negligencie o autocuidado.

Caso identifique algum sintoma que possa configurar burnout, busque ajuda de um psiquiatra ou psicólogo. Dá para tratar o problema por meio de psicoterapia, mas em alguns casos a inserção de medicamentos é importante.

Para não restar dúvidas, confira 7 sinais de que sua carga de trabalho neste fim de ano está passando do limite.

  1. Sua rotina é quase toda preenchida por trabalho e você não tem tempo para atividades de lazer e autocuidado;
  2. Pensar em trabalho gera angústia e você já não têm motivação para atividades laborais que antes empolgavam;
  3. Recentemente tem identificado sintomas como dor de cabeça frequente, fadiga, pressão alta, dores musculares, tremores ou espasmos, alteração nos batimentos cardíacos e problemas gastrointestinais;
  4. Sente uma negatividade constante e frequentemente se enxerga como alguém incompetente;
  5. Tem tido insônia, fadiga ou alterações no apetite;
  6. Tem muita vontade de se isolar;
  7. Não consegue mais se concentrar como antes.

Fontes: Ana Priscilla Christiano, professora do curso de psicologia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Lucas Alves, médico e presidente da APB (Associação Psiquiátrica da Bahia) e José Diogo Souza, médico e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo).

*Com matéria publicada em 17/11/2021

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