Asian squat: por que curiosa agachadinha de descanso é tão difícil para nós

Aconteceu comigo: estava andando pelas ruas de Xangai, na China, e, do nada, vi pessoas agachadas, com os dois calcanhares retos no chão, e as costas levemente inclinadas. Às vezes, para acender um cigarro, responder uma mensagem no celular ou tirar uma foto.

Tudo isso parecia ser feito sem nenhum esforço, como um descanso mesmo.

Essa posição é chamada de "asian squat" (agachamento asiático, em tradução livre). Em português, o termo mais comum para descrevê-la é cócoras.

Homem em Xangai para na posição "asian squat" para tirar foto de mulher
Homem em Xangai para na posição "asian squat" para tirar foto de mulher Imagem: Guilherme Tagiaroli/UOL

Vendo essas pessoas, notei que eu não conseguia fazer exatamente igual (a posição dos pés, retos e apoiados totalmente no chão, dificultava esse tipo de agachamento). Comentei com pessoas do Brasil e poucos aguentavam ficar segundos assim. Imagina mais tempo? Ou o tornozelo doía muito, ou não tinham equilíbrio para ficar na posição.

A verdade é que crianças em todo o mundo conseguem chegar à posição facilmente. A mobilidade do tornozelo nessa época é maior, mas, ao longo do tempo, isso se perde. A habilidade de fazer o movimento, no entanto, varia de pessoa para pessoa.

Na China e em outros países asiáticos, é a coisa mais comum do mundo. E não é que eles ficam por alguns segundos: vi gente ficar minutos desse jeito sem se incomodar, enquanto jogava um game no celular ou respondia alguém por mensagem no WeChat (app de mensagem mais famoso do país e que lembra o WhatsApp).

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Eu até tentei, mas só conseguia permanecer na posição por mais tempo ficando um pouco na ponta dos pés —mas aí é truque.

Por que eles conseguem, e eu não?

Alguns motivos —anatômicos e culturais— podem explicar essa habilidade maior, segundo o fisioterapeuta Renato de Paula, da clínica Trato Ubuntu, no Rio.

Questão anatômica. Os brasileiros têm, de um modo geral, troncos e pernas grandes, diferentemente dos asiáticos, que costumam ter pernas e troncos menores. Isso facilita fazer o movimento sem desequilibrar.

Treino antigo. Desde pequenos, chineses e outros povos asiáticos adquirem o hábito de ficar nessa posição. E, culturalmente, isso se mantém. O motivo tem relação com o vaso sanitário de agachamento, que fica no chão —e é mais comum nestes países.

Para evacuar, sobretudo em banheiros públicos, a pessoa aprende que deve ficar de cócoras. A prática desse movimento auxilia na mobilidade do tornozelo, que é importante para manter-se agachado dessa maneira.

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Vaso sanitário de agachamento é comum em paises asiáticos
Vaso sanitário de agachamento é comum em paises asiáticos Imagem: Getty Images

Aliás, essa posição para fazer o número 2 pode parecer esquisita para os brasileiros, mas é a mais recomendada por médicos. Ela evita ter de fazer tanta força para o cocô, e reduz o risco de hemorroidas. Em vaso sanitário mais elevado, como o usado em geral no Brasil, podemos colocar um banquinho nos pés para ficar mais inclinado ao evacuar.

'Maior facilidade'

A youtuber chinesa Si Liao, 36, do canal Pula Muralha, morou no Brasil por 12 anos e confessa que não notou de cara que esse tipo de agachamento era algo que brasileiros não conseguiam fazer ou não faziam com destreza.

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Ela brinca que na China o "asian squat" é simplesmente "se agachar". Como sempre pratica, "faz na maior facilidade", diferentemente de seu marido brasileiro, que não consegue fazer igual.

Agachamento profundo (ou cócoras) é uma posição super comum para crianças e adultos de países asiáticos
Agachamento profundo (ou cócoras) é uma posição super comum para crianças e adultos de países asiáticos Imagem: Getty Images/iStockphoto

Filha de chineses e professora da língua na Chinbra (escola especializada na cultura chinesa), Serena Qi, 22, lembra que o hábito de se agachar também tem relação com limpeza.

Os chineses não gostam de sentar no chão. Se você vir uma criança com os pais, dificilmente estará tocando diretamente o solo com o bumbum, para não absorver friagem. Mesmo antigamente, com muito trabalho agrário e sem lugares para se sentar, as pessoas ficavam agachadas dessa forma.
Serena Qi

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Sobre ficar na posição "asian squat", Serena diz que aprendeu com a mãe, que não a deixava ficar muito tempo no chão. Mesmo assim, confessa que sua mãe fica muito mais confortável do que ela própria. "Ela tem mais de 60 anos e consegue ficar assim por muito tempo. Eu só aguento um pouco."

Tem suas vantagens

De acordo com Renato, que também é membro do Crefito-2 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2ª Região), há várias vantagens em praticar a posição como exercício. Ela é boa para:

  • Sustentação do próprio corpo e equilíbrio;
  • Estimular os movimentos peristálticos, evitando a constipação intestinal (dificuldade de evacuar);
  • Usar menos força para evacuar, além de evitar hemorroidas;
  • Aumentar a circulação do fluxo sanguíneo que, em mulheres, pode reduzir cólicas.
Homem tranquilão descansando na calçada com um caderno em mãos e de cócoras, em foto de 2003
Homem tranquilão descansando na calçada com um caderno em mãos e de cócoras, em foto de 2003 Imagem: Guang Niu/Reuters

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E como fazer o asian squat?

A posição de cócoras consiste em agachar-se com a coluna reta (ou levemente inclinada), com os quadris abaixo da altura dos joelhos. Os joelhos, inclusive, devem estar projetados para frente, mas não a ponto de ficarem à frente dos pés. Se você conseguir fazer isso sem sentir dor, ótimo.

Caso você queira ir aos poucos, o recomendável é procurar um educador físico para analisar seu nível de flexibilidade e força para executar o movimento.

É recomendável fazer séries aos poucos para se acostumar com a posição —inclusive, usar apoios, seja segurando algo em frente para se equilibrar ou usando alguma sustentação, como um livro para elevar os calcanhares.

*O jornalista viajou a convite da BYD

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