Transplante de coração: o que acontece se o órgão for rejeitado?

Fausto Silva passou por uma cirurgia de transplante de coração na tarde deste domingo (27), no Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Internado na unidade desde o dia 5 de agosto com insuficiência cardíaca, ele entrou na fila do SUS para receber o órgão cerca de duas semanas depois.

O apresentador segue internado na UTI para acompanhamento da adaptação do órgão e controle de rejeição, informou o hospital. Embora a operação só seja feita mediante avaliação de compatibilidade, os riscos de o novo coração ser rejeitado pelo corpo existem.

A rejeição só ocorre porque o sistema imunológico, que é onde se produzem anticorpos contra qualquer infecção ou corpo estranho, é ativado. Marise Gomes, PhD em cirurgia cardiovascular

Como o novo órgão é considerado um corpo estranho, a tendência do organismo é combatê-lo. Para que isso não ocorra, o paciente é medicado com imunossupressores, remédios que diminuem a ação do sistema imunológico contra o "invasor".

O problema é que essas medicações atuam de forma generalizada e o corpo fica mais vulnerável a infecções, pois deixa de reconhecer contra o que deve realmente agir.

"É uma matemática que precisa ser feita", diz Gomes. "Não pode entrar com muito imunossupressor, senão tem mais risco de infecção. Se entrar com menos, o corpo reconhece o coração como algo que não pertence a ele."

Momento crítico

"As primeiras 48 horas são bastante críticas", diz João Vicente da Silveira, doutor em cardiologia e médico do Hospital Sírio-Libanês (SP). "O paciente pode ter infecção, arritmia cardíaca, a sutura pode alargar. São feitos vários exames, como de sangue, raio-X, ultrassom, e eletrocardiograma diariamente", explica o médico.

Enquanto se está no hospital, esses exames são necessários para o devido acompanhamento de adaptação do coração e controle de rejeição.

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Nessa fase, o interesse da equipe médica é avaliar se o novo órgão está batendo corretamente, se a pressão arterial é ideal para abastecer todo o corpo de sangue e se não há sangramento local, pelos muitos pontos realizados na cirurgia.

Gomes afirma que a preocupação se mantém por pelo menos 5 anos depois que a pessoa volta à vida normal.

Nesse período, exames de rotina devem ser mantidos e são feitas biópsias seriadas por meio de cateterismo, em que um fragmento do tecido do coração é retirado para análise.

Por toda a vida, os imunossupressores são usados.

Silveira diz que o risco de rejeição é baixo, tendo em vista a compatibilidade sanguínea e de superfície corpórea do coração, bem como pelos medicamentos que buscam evitar o cenário.

Sinais de rejeição

Os indícios de que o organismo está rejeitando o novo coração são representados pelo choque cardiogênico, explica Gomes, que é quando o coração não consegue bombear sangue de forma adequada. Ela destaca que o caso não é comum.

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Quando isso acontece, os sinais são:

  • Pressão arterial reduzida;
  • Sinais de infecção, como febre;
  • Taquicardia;
  • Falta de ar;
  • Extremidades do corpo azuladas.

A aceitação ou rejeição do novo órgão é bem particular, depende de todo o quadro e histórico clínico da pessoa.

Se paciente tem diabetes, se a função do rim ou fígado não é boa, se foi tabagista crônico, com certo grau de doença pulmonar, a evolução vai ser pior. Por isso tem de ser monitorado de perto. João Vicente da Silveira, doutor em cardiologia

Acompanhamento médico é primordial

Por toda a vida, uma pessoa que fez transplante de órgão precisa tomar imunossupressores para evitar uma possível rejeição. Um bom controle requer acompanhamento médico próximo, com exames periódicos.

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Essa investigação constante também ajuda no controle de infecções, tendo em vista que a resistência imunológica está mais baixa. É esse rastreio contínuo que vai indicar o controle certo dos imunossupressores, na dose ideal.

O coração foi rejeitado, e agora?

Ao identificar sinais de uma possível rejeição, a equipe médica busca controlar o quadro clinicamente, reforçando os medicamentos imunossupressores. O objetivo é reverter a ação do organismo contra o coração e manter o órgão no corpo.

Caso o esforço não dê o resultado esperado, há possibilidade de um novo transplante, mas é uma situação mais arriscada e difícil. "Precisa entender por que isso está acontecendo, se vale a pena um novo transplante. Se o coração é rejeitado, em geral a gente perde o paciente", diz Gomes.

Mas Silveira comenta que essa também é uma situação difícil de acontecer, seria o pior dos cenários, e ele mesmo já tratou de pessoas transplantadas pela segunda vez.

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