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Saúde

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Estresse, surdez, dor nas costas: 10 problemas do trânsito para a saúde

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

29/06/2023 04h00

Quanto tempo você gasta se deslocando de carro? Quem vive em grandes cidades do Brasil passa em média 21 dias por ano no trânsito. É o que revelou a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito em parceria com o Sebrae.

O estudo ainda investigou o tempo perdido em engarrafamentos, chegando a uma média de 64,5 minutos, o equivalente a cerca de 1 hora e 4 minutos do dia.

Motoristas profissionais passam ainda mais tempo. Embora a lei determine que sua jornada de trabalho diária seja de até oito horas, somando 44 horas semanais, muitos, como os que atuam na informalidade —caso de cerca de 1,5 milhão de pessoas que trabalham em aplicativos, segundo o Ipea— ultrapassam esse limite e, às vezes, viram até a noite na direção. Por isso, se você costuma exagerar, tome cuidado para não vir a sofrer com os problemas da lista a seguir:

Transtornos mentais

Quem lida com o trânsito no dia a dia está sujeito a congestionamentos, possíveis atrasos a compromissos, imprudência e falta de educação de outros motoristas, acidentes, falta de segurança e outros problemas.

Todas essas situações geram estresse, que é uma resposta do organismo frente a ameaças e que se não for controlado se intensifica e evolui para outras complicações, como ansiedade, depressão, pânico, burnout e doenças psicossomáticas.

Diminuição da audição

Surdez - iStock - iStock
Imagem: iStock

Buzinas, alarmes, sirenes, caixas de som de veículos de publicidade, motores de motos, tudo isso emite entre 87 a 112 decibéis, mais que o suficiente para causar a morte das células auditivas, que é progressiva e irreversível.

Para se ter ideia, ruídos a partir de 50 decibéis já são capazes de causar danos, variando de acordo com o tempo de exposição e intensidade. Ficar exposto a níveis sonoros superiores a 90 decibéis por mais de 4 horas é altamente prejudicial.

Morbidade respiratória

Em 2012, a OMS atribuiu a morte de cerca de 3,7 milhões de pessoas no mundo à poluição. Motoristas estão mais suscetíveis, comprovou em estudo de 2016 médicos do Incor e do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Pulmões quando expostos longa e continuamente a poluentes, perdem capacidade funcional e estão sujeitos a asma, bronquite, fibrose e câncer.

Trombose venosa

Trombose, trombo, coágulo na perna - iStock - iStock
Imagem: iStock

Formação de coágulos em veias profundas, sobretudo pernas (trombose), não se limita apenas a viagens de avião, o risco também existe em carro, ônibus, quando o trajeto é longo (mais de 4 horas) e não se tem espaço para se movimentar ou já apresenta algum fator predisponente: varizes, obesidade, câncer, idade superior a 60 anos, gravidez e tabagismo.

Se o coágulo se desprender pela corrente sanguínea evolui para embolia, que nos pulmões pode ser fatal.

Ataque do coração

O trânsito intenso é um dos principais propulsores do infarto, que, juntamente a ele, está associado a outros inimigos cardíacos, como poluição, estresse e trombose.

De acordo com a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), que investigou dados de acidentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) entre janeiro de 2014 e julho de 2020, doenças cardiológicas (infartos e arritmias) também são a quarta causa de acidentes nas estradas brasileiras.

Dores ortopédicas

Coluna, homem de costas, coluna vertebral, dor nas costas - iStock - iStock
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Quem fica sentado num banco de automóvel por mais de duas horas dificilmente não se queixa de dores. A coluna sofre desvios, compressões e lesões, os músculos ficam sobrecarregados e fadigados, tendões e nervos encurtados e os movimentos repetitivos, como os da troca de marcha, por exemplo, causam tendinite em punhos ou bursite nos ombros.

Já o ato de frear e pisar na embreagem várias vezes ao dia desgasta com as articulações dos joelhos e tornozelos.

Pedras nos rins

Pedra nos rins - iStock - iStock
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Passar muito tempo no volante pode significar menos acesso à água potável ou disponibilidade para beber a quantidade desejada dela, além de maior risco de exposição contínua a temperaturas muito elevadas e redução de idas ao banheiro a maior parte do dia.

Como resultado, o motorista fica sujeito à desidratação, ao desenvolvimento de cálculos (pedras) renais e infecções urinárias, as quais mulheres tendem a ser mais propensas que os homens.

Ganho de peso

Um levantamento feito pelas concessionárias dos sistemas Anhanguera-Bandeirantes e Castelo Branco-Raposo Tavares, dois dos principais corredores viários do estado de São Paulo, apontou em 2018 que 78% dos caminhoneiros estavam com sobrepeso ou obesidade.

Um sinal de alerta que se estende a demais motoristas, pois falta de atividade física e má alimentação são apontadas como principais causas, aumentando ainda o risco para obesidade, diabetes e pressão alta.

Gastrite

Gastrite, azia, queimação, estômago - iStock - iStock
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Inflamação da mucosa que reveste as paredes internas do estômago, a gastrite quando relacionada ao trânsito pode surgir em decorrência de estresse crônico ou alimentação muito gordurosa e processada, típica de restaurantes de estrada, que priorizam o consumo de lanches e pratos rápidos e fáceis, para quem tem pressa.

Dificuldade de acesso a saneamento básico também pode aumentar a chance de infecção pela bactéria H. pylori, que causa úlceras.

Distúrbios do sono

O trânsito pode afetar o sono de várias maneiras perigosas. Tédio e cansaço extremo e persistente levam muitos motoristas a terem sonolência ao volante, o que frequentemente ocasiona acidentes.

Entre 2014 e 2019, segundo a Abramet foram registrados 20 mil deles, por esse motivo, causando 1.788 mortes e 19.450 feridos. Por outro lado, estresse e preocupações repercutem em insônia, que está relacionada a mal súbito, apneia e alta ingestão de remédios.

Como evitar os malefícios do trânsito

  • Se possível, busque oportunidades em cidades com trânsito menos intenso;
  • Opte pelo uso de transportes como trens e metrô, use bicicleta ou caminhe;
  • Saia de casa com antecedência, ou pesquise trajetos alternativos;
  • Ouça no carro músicas e programas de rádio relaxantes;
  • Considere fazer psicoterapia e descanse bem antes de qualquer viagem longa;
  • Pratique exercícios de alongamento e fortalecimento, aproveite o farol vermelho;
  • Para evitar a poluição, fique com os vidros do carro fechados;
  • Faça paradas a cada duas horas para ir ao banheiro, caminhar e ingerir líquidos;
  • Fique atento à distância entre o banco e o volante e faça ajustes;
  • Revise a espuma dos bancos e, caso seja necessário, realize uma troca;
  • Evite o consumo de doces, frituras e salgados na estrada;
  • Faça visitas regulares ao médico e siga bons hábitos.

Fontes: Fernando Pinho Esteves, cirurgião vascular pela Santa Casa de São Paulo e professor no Grupo Afya Educacional; Gabriela Luxo, psicóloga e doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Guillermo Tierno, ortopedista do Hospital Cárdio Pulmonar, em Salvador (BA); Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião; e Paulo Camiz, clínico geral, geriatra e professor no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.