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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ele ficou 8 anos sem tratar o diabetes corretamente; hoje, usa tecnologia

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

28/05/2023 04h00

Convivendo há oito anos com diabetes tipo 2, o administrador de empresas Marcos Vinicius, 59, sempre teve dificuldades de fazer o tratamento da forma adequada e era constantemente alertado sobre os riscos que isso poderia trazer à sua saúde.

A seguir, ele conta sua história e compartilha como tem se motivado a se cuidar através da tecnologia, por meio de um programa de monitoramento voltado para pacientes com diabetes e hipertensão.

"Uma vez por ano fazia check-up. Em um deles, a glicemia deu em torno de 140 mg/dl —o normal varia entre 70 mg/dl a 99 mg/ld. O clínico geral disse para acompanharmos a evolução das taxas, recomendou que eu passasse com uma nutricionista para ajustar minha alimentação, mas não passei.

Um ano depois repeti os exames, a glicemia subiu para 170 mg/ld e fui diagnosticado com diabetes tipo 2, em 2015. O médico reforçou que eu precisava de um acompanhamento nutricional, fazer atividade física regularmente e me prescreveu uma medicação.

De todas as orientações, a única que segui foi tomar o remédio todos os dias.

Como não tinha nenhum sintoma, não sentia nada de diferente, era como se não fizesse sentido fazer o tratamento.

Um susto no carro

Todos os anos repetia o check-up e todas as vezes a taxa de glicose só aumentava, mas continuei não dando importância até que um dia estava dirigindo e senti como se uma cortina tivesse se aberto e fechado na minha visão.

Tomei um susto, fui a um hospital oftalmológico e fiz alguns exames. A oftalmo perguntou se eu era diabético, respondi que sim, mas que não me tratava.

Ela disse que eu estava com uma doença nos olhos causada pelo diabetes, chamada retinopatia diabética proliferativa, e que se ela avançasse eu poderia perder a visão.

Marcos Vinicius 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A médica explicou que eu precisaria fazer a aplicação de laser nos dois olhos e iniciar o tratamento contra diabetes o quanto antes.

Fiz o laser nos olhos e cheguei a procurar uma nutricionista, mas o fato de a maioria só atender de forma particular e de ter uma vaga para consulta só em três meses me desanimou.

Voltei no clínico geral que me acompanhava, ele me deu uma bronca e me alertou sobre as várias complicações e sequelas que eu poderia ter caso não tratasse o diabetes adequadamente. Poderia ficar cego, ter dificuldades de cicatrização, ter que amputar algum membro, ter problemas no coração e nos rins, entre outros.

O clínico ligou para o endocrinologista pessoal dele e conseguiu um encaixe para mim. O endócrino me prescreveu mais uma medicação e me encaminhou para a nutricionista. Ela me passou uma dieta para diabéticos, disse que eu precisava fazer atividade física e pediu para retornar em três meses.

Neste período, não fiz o tratamento da forma correta, comecei a fazer caminhada, mas parei no inverno e segui a dieta mais ou menos.

A dificuldade com a alimentação adequada

Diminuí o consumo de alguns alimentos, como pães e massas, mas continuei tomando refrigerante, suco de caixinha, suco natural de frutas e cerveja todos os dias. Também tive dificuldade para não exagerar nas frutas, era acostumado a comer 4 bananas seguidas, mas podia comer só uma.

Voltei na nutricionista, ela reforçou que eu precisava seguir as recomendações e pediu para eu retornar em quatro meses. No retorno, levei o resultado do exame, a taxa de glicemia não tinha subido, mas também não tinha baixado.

A nutri ficou frustrada em saber que eu não estava fazendo o tratamento do jeito certo e disse que nenhuma medicação poderia me ajudar se eu não me ajudasse e não mudasse meus hábitos. Ela me alertou que mesmo não tendo sintomas, eu poderia ter sérios problemas de saúde, como um AVC ou até mesmo morrer.

Ela disse que só me atenderia novamente se eu levasse minha esposa na próxima consulta, levei, mas não surtiu muito efeito, nunca mais voltei nela.

Tinha consciência que estava errado e sendo negligente, mas comer do jeito que eu comia era um estilo de vida que me deixava feliz e não queria abrir mão disso.

O despertar da consciência

Marcos Vinicius 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Durante quatro anos continuei a medicação e diminuí algumas coisas da dieta por conta própria, mas fiquei sem acompanhamento médico regular, só fazia os check-ups anuais.

Em fevereiro de 2023, ouvi no rádio a propaganda do "Vigilantes da Saúde", um programa de monitoramento de saúde à distância voltado para pacientes com diabetes e hipertensão. Entrei em contato e fechei o plano por um ano, paguei o valor de R$ 840.

O meu pacote inclui um kit com produtos como monitor de glicemia, tiras de glicemia, glicose líquida, cremes para as mãos e calcanhares, entre outros. Também tenho direito a passar em teleconsulta com nutricionistas, médicos, profissionais de educação física e de saúde mental, e um acompanhamento diário com uma enfermeira.

No dia em que iniciei o tratamento com o Vigilantes, minha glicose bateu 458 mg/dl, nunca tinha sido tão alta, fiquei em choque e pela primeira vez reconheci a gravidade da situação e quis me cuidar.

Desde então, venho seguindo quase todas as orientações. Fiz uma teleconsulta com a nutricionista, estou me alimentando de 3 em 3 horas e seguindo quase toda a dieta. Estou caminhando cerca de 6 km todos os dias, quero emagrecer e fazer academia.

Três vezes por dia, uma enfermeira me manda mensagem no WhatsApp perguntando como está a taxa de glicemia, minha alimentação e coisas do tipo. Um momento marcante foi quando compartilhei que a glicose estava em 111 mg/dl.

Ter diariamente uma profissional acompanhando meu progresso sem me julgar e me cobrar é uma motivação para me cuidar.

Nesse processo, entendi que não respondo bem a imposições, o programa tem funcionado comigo porque me conscientiza de como viver com uma doença crônica de forma mais leve.

Ele não substitui a realização de exames preventivos e nem o contato anual com o médico, mas tem me trazido muitos benefícios. Estou feliz com a minha evolução e espero continuar melhorando a cada dia."

Adesão ao tratamento é essencial para controle do diabetes

Caneta de insulina - iStock - iStock
Imagem: iStock

O bom controle do diabetes demanda disciplina, tempo e energia do paciente, o que pode se tornar uma carga muito grande se não houver apoio de familiares, amigos e não ter uma ajuda especializada.

Uma pesquisa publicada em 2019 na Revista Mineira de Enfermagem retrata uma realidade bem parecida com a de Marcos Vinicius.

Foram entrevistadas 408 pessoas com diabetes tipo 2, a idade média era de 66,5 anos, 84,1% relataram aderir ao tratamento medicamentoso, 29,4% realizavam atividade física regularmente e 24% tinham alimentação adequada.

Quanto mais descompensado estiver o diabetes, maior o risco de desenvolver as complicações da doença, que geralmente ocorrem de modo silencioso. Por isso a importância de se fazer exames preventivos anuais.

As principais complicações são:

  • alterações nos olhos
  • rins
  • perda da sensibilidade nos pés
  • AVC
  • infarto do coração

O diabetes é uma das maiores causas de cegueira, falência dos rins e necessidade de diálise, de amputação não traumática de membros inferiores e possui fator de risco de doenças vasculares no cérebro e no coração.

Existe também risco aumentado para depressão, demência, câncer, alterações dentárias, fraturas dos ossos e insuficiência cardíaca.

A necessidade de se bons manter hábitos e o medo constante de complicações crônicas impactam diretamente na saúde psicológica da pessoa.

O uso de medicação contínua e a necessidade de um acompanhamento regular com profissionais da área da saúde podem trazer preocupações financeiras e baixa aderência ao tratamento.

A relação dos profissionais com o paciente deve ser aberta, de apoio, diálogo, de aproximação e disponibilidade, e não de cobrança excessiva e afastamento.

Um programa de monitoramento diário de saúde é uma boa ferramenta para melhorar o controle da doença e oferecer suporte ao paciente.

A coleta de dados por meio de programas de acompanhamento pode conscientizar ainda mais o paciente sobre a sua real situação e contribuir para que ele tenha uma melhor adesão ao tratamento.

Fonte: Fernando Valente, endocrinologista, professor da disciplina de endocrinologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - regional São Paulo).