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'Tinha medo de não conseguir respirar e morrer', diz mulher com DPOC

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

11/01/2023 04h00

Fumante por quase três décadas, a produtora rural Ana Regina Majzoub, 56, foi diagnosticada com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) em 2009, aos 43 anos. Atualmente com 32% de capacidade respiratória, Ana conta que viu sua saúde mental ficar comprometida nos primeiros anos pós-diagnóstico. Ela tinha medo de não conseguir respirar e de morrer. Superada as dificuldades, Ana encoraja as pessoas a abandonar o cigarro e compartilha sua história a seguir:

"Comecei a fumar aos 17 anos. Sabia dos malefícios do cigarro, vivia dizendo que ia parar, mas nunca tomava uma atitude efetiva em relação a isso. Em 2008, fiz uma promessa de Ano-Novo e consegui parar por um mês usando adesivos de nicotina, mas acabei voltando.

Um ano depois, passei mal, senti cansaço e fadiga durante o banho. Achei estranho e procurei um clínico geral para fazer um check-up. Os exames não apresentaram grandes alterações, mas o médico me orientou a procurar um pneumologista. Chamou a atenção dele o fato de eu ser fumante há 26 anos. Fui ao pneumo e ele pediu alguns exames complementares.

Alguns dias depois, abri sozinha o resultado de um dos exames e li a palavra enfisema pulmonar. Não sabia exatamente o que era, mas imaginei que não era coisa boa.

Levei o resultado para o médico e fui para o consultório sem levar meu maço de cigarro —tinha o hábito de carregá-lo para qualquer lugar que fosse, mas fiquei tão assustada que deixei em casa.

Ao ver o exame, o pneumologista me diagnosticou com DPOC, disse que ela foi causada pelo tabagismo e explicou que o meu tipo estava associado à enfisema pulmonar.

A DPOC é uma doença respiratória causada por uma inflamação das vias aéreas que leva à obstrução persistente dos brônquios, dificultando a respiração, e tem como sintomas: cansaço, falta de ar e perda irreversível da capacidade respiratória.

Fiquei chocada com o diagnóstico e naquele mesmo dia já iniciei o tratamento com o uso de bombinhas e parei de fumar —caso não abandonasse o cigarro poderia ter sérias complicações.

No começo foi difícil, mas adotei algumas estratégias para ajudar. Parei de tomar café por alguns meses e não ficava em ambientes com outros fumantes, incluindo ficar longe do meu marido quando ele estava fumando.

Acredito que o maior impacto que a DPOC causou foi na minha saúde mental. Tinha crises de ansiedade, muito medo de passar mal, de não conseguir respirar e morrer. Não saía para lugar nenhum sozinha, tinha que estar sempre acompanhada, não fazia qualquer atividade que exigisse esforço físico.

Ana tem DPOC - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ana é produtora rural e teve que parar de ir até a lavoura
Imagem: Arquivo pessoal

No meu trabalho —sou produtora rural— parei de andar na lavoura, ficava no escritório, não frequentava mais feiras e eventos. Não andava nem mais no quarteirão perto de casa, preferia fazer tudo de carro.

O médico recomendou que eu praticasse alguma atividade física, ele disse seria benéfico para o tratamento. Mas pensava que só de andar um pouco mais rápido já ficava com falta de ar, imagine se fizesse um exercício mais intenso. Tinha medo e não fazia. Além disso, não gostava de me expor, quase não falava sobre o meu problema de saúde com outras pessoas.

Tive dois episódios em que fiquei internada por conta da DPOC, sempre causadas por crises de tosse e falta de ar. A primeira internação foi uma complicação que começou com um quadro de sinusite. A segunda foi porque senti uma fadiga extrema que me impossibilitou de fazer tarefas simples do dia a dia —ficava cansada só de andar do quarto para cozinha e de tomar banho.

Uma coisa que me ajudou no processo foi participar de grupos, no Facebook e no WhatsApp, de pacientes que tem DPOC, como o #CDD Informa Respiratórios.

Ouvir as histórias, dificuldades e superações de outras pessoas me fizeram enxergar a doença de uma outra perspectiva.

Ana tem DPOC - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ter contato com outras pessoas com DPOC ajudou Ana a lidar com a própria doença
Imagem: Arquivo pessoal

Esse contato me encorajou a perder o medo de fazer exercício físico e experimentar coisas novas. Fiz pilates por um tempo e passei a fazer fisioterapia respiratória.

Aprendi a respirar e a identificar minhas limitações. Atualmente, tenho apenas 32% de capacidade respiratória, mas, de forma geral, levo uma vida normal e procuro fazer as coisas mais devagar, no meu ritmo.

Por muitos anos, ouvi de algumas pessoas que deveria parar de fumar. Se tivesse seguido o conselho delas, talvez não tivesse desenvolvido a DPOC. Incentivo os fumantes a abandonar o vício e a buscar hábitos de vida mais saudáveis."

Saiba mais sobre a DPOC

DPOC é uma doença irreversível que leva à diminuição persistente da taxa de fluxo de ar dos pulmões, devido à uma obstrução crônica e progressiva das vias áreas, e a perda da capacidade respiratória. Ela tem início lento, mas pode evoluir de modo rápido para o estágio mais grave, levando à insuficiência respiratória e morte.

Fica entre a terceira e a quarta causa de morte em países em desenvolvimento. O Brasil tem um óbito a cada 15 minutos relacionado à doença, que é marcada por quadros persistentes de bronquite crônica e/ou enfisema pulmonar. Na bronquite, há persistente produção de muco e inflamação das vias aéreas. No enfisema, há destruição dos alvéolos, estruturas responsáveis pela troca dos gases (oxigênio e gás carbônico) nos pulmões.

  • Uma das principais causas da DPOC é o tabagismo, uma vez que a combustão do cigarro lesiona as vias respiratórias.
  • Vale ressaltar que além do cigarro tradicional, o uso do cigarro eletrônico (vape) e do narguilé também levam à doença.
  • Além disso, também está vinculada à inalação de outras substâncias tóxicas, como a exposição à fumaça de biomassa (lenha, carvão vegetal) e à poluição do ar.

Os sintomas são:

  • Falta de ar (dispneia) progressiva e limitante;
  • Cansaço;
  • Fadiga crônica;
  • Tosse crônica que pode ser acompanhada de catarro que se exterioriza principalmente pela manhã.

As principais dificuldades. Devido à falta de ar, o paciente pode não conseguir realizar atividades corriqueiras, como tomar banho, subir escadas, caminhar, trabalhar. O cansaço excessivo também causa impactos na saúde física e mental.

O paciente tende a ficar limitado, restrito, isolado e com a qualidade de vida comprometida, o que pode levá-lo a um quadro de depressão. Muitas vezes há o sentimento de culpa, porque a pessoa adoeceu em razão do tabagismo.

O tratamento para DPOC consiste em:

  • O primeiro ponto é a cessação do tabagismo e o uso dos dispositivos inalatórios --as famosas bombinhas-- que levam os medicamentos broncodilatadores direto para o pulmão.
  • Também pode ser recomendado o uso de corticosteroides como anti-inflamatórios.
  • Há casos em que a dificuldade da troca gasosa é tão intensa que o paciente necessita de suplementação de oxigênio.
  • Também é indicado um programa de reabilitação pulmonar com sessões de fisioterapia.
  • Os tratamentos retardam a progressão da doença, controlando os sintomas e reduzindo as complicações.
  • Não tem cura, mas pode ser controlada e reduzir o risco de morte.

Vale ressaltar que todos os tratamentos estão disponíveis no SUS, e que houve um avanço importante no Brasil com a incorporação no novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de 2021 de broncodilatadores de classes diferentes, com administração em um único dispositivo, ampliando as opções terapêuticas.

Fonte: Clystenes Odyr Soares, pneumologista e professor da disciplina de Pneumologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).