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'Não sentia nada, de repente descobri 2 tipos raros de câncer aos 21 anos'

Pedro Miranda em tratamento para o câncer: "Notaram que a anemia tinha piorado muito" - Arquivo pessoal
Pedro Miranda em tratamento para o câncer: 'Notaram que a anemia tinha piorado muito' Imagem: Arquivo pessoal

Lorraine Perillo

Colaboração para VivaBem

09/01/2023 04h00

O designer Pedro Miranda, de 22 anos, descobriu em 2021 dois tipos de câncer no cólon, uma parte do intestino grosso. Esses tumores são raros em jovens e o diagnóstico só ocorreu porque médicos desconfiaram de uma anemia que não melhorava. Ele teve de passar por três cirurgias e sessões de quimioterapia no Rio, onde mora. A VivaBem, ele conta sua história.

"Tive sintomas de ansiedade e depressão em 2021 e fui a um psiquiatra investigar. Para controlar uma anemia, ele me passou uma suplementação de ferro e, depois de três meses, fizemos uma nova avaliação e a anemia tinha piorado muito.

Fui encaminhado a uma hematologista [especialista em problemas no sangue], que pediu uma tomografia de tórax e abdome. Como meu tio é médico, conseguimos agilizar tudo e foi constatado que eu tinha tumor no cólon direito. Me internei no dia seguinte. Se tivesse esperado mais uma semana, a situação teria sido bem mais complicada.

Não sentia nada. Jogava vôlei todo fim de semana e, antes de me internar, por exemplo, pedalei 14 km sem sentir nada. Estava tranquilo, vivendo minha vida normalmente.

Pedro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pedro já passou por três cirurgias e faz sessões de quimioterapia
Imagem: Arquivo pessoal

Em setembro de 2021, fiquei sete dias no hospital nesta primeira internação e comecei a quimioterapia cinco dias depois do meu aniversário. Senti um clima de despedida [pessoas em volta achavam que ele não resistiria]. Tive de adiar algumas quimioterapias porque peguei covid e trombose durante o processo.

Depois dessa primeira leva, fiz uma cirurgia citorredutora [para remover os focos de células tumorais espalhados na cavidade abdominal] com HIPEC, uma técnica experimental contra o câncer, que funciona em algumas ocasiões.

Meu caso era indicado para isso: aplicam a quimioterapia dentro da barriga em temperatura bem quente. Essa técnica tem alto risco de morte e, depois dessa cirurgia, que foi a pior e mais perigosa, fiquei internado 22 dias. Foi a pior sensação do mundo.

Minha namorada terminou comigo por mensagem no dia em que voltei para casa e fiquei muito mal. Apesar de tudo, meus amigos estavam sempre comigo. Quando fiz quimioterapia pela primeira vez e meu cabelo caiu, eles rasparam a cabeça comigo, foi bem legal.

mãe de pedro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Mãe de Pedro, Martha Figueiredo, acompanha o filho no hospital
Imagem: Arquivo Pessoal

Continuava fazendo acompanhamento com minha oncologista uma vez por mês, fazia exames de imagem e sangue constantemente. No Rock in Rio, cobri todos os dias do evento para o canal [de entretenimento] Riff. Logo depois, foi constatado que os marcadores tumorais tinham subido de novo, o que era indicação para voltar ao tratamento. Decidimos fazer mais uma cirurgia e quimioterapia.

Se não fossem as pessoas próximas, não estaria aqui. Tenho muitos amigos que me apoiam todos os dias, em momento nenhum me senti sozinho. Minha família se juntou a ponto de fazer reuniões e jantares nas casas uns dos outros. Isso era inimaginável

Meus pais são separados desde os meus 8 anos e, por causa da minha doença, eles se falam quase diariamente. Minha mãe foi ao hospital comigo todos os dias, dormiu lá e ficou ao meu lado o tempo todo. Foi ela quem correu atrás do vídeo da campanha para eu conhecer o Bring Me the Horizon [banda britânica].' Foi maravilhoso.

'A música me salva'

A música me salva todos os dias. Depois da segunda cirurgia, tive muita depressão pela quimioterapia que foi usada. Não conseguia fazer nada e colocamos as músicas para eu dançar com o fisioterapeuta.

Pedro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Pedro realizou sonho de conhecer a banda Bring Me the Horizon
Imagem: Arquivo pessoal

Não sei como vai ser a minha vida daqui para frente. Ainda tenho sessões de quimioterapia e talvez eu tenha de fazer radioterapia. Minha vida é fazer acompanhamentos com exames de imagem e sangue e ir a consultas até as coisas [os tumores] começarem a não voltar.

É uma luta que quem nunca passou não sabe como é. Não posso falar que vai ficar tudo bem, mas a única opção é lutar. O importante é saber que ninguém está sozinho.

Entenda a doença

Pedro foi diagnosticado com dois tipos de câncer de cólon: adenocarcinoma e tumor neuroendócrino. Esses tumores são raros, principalmente em jovens.

  • Adenocarcinomas são tumores malignos que se originam nas células epiteliais dos órgãos. No sistema digestivo, são as células que revestem a superfície interna do órgão.
  • Os tumores neuroendócrinos (TNE) se originam nas células neuroendócrinas de diversos órgãos do corpo. No intestino e estômago, essas células estão relacionadas às funções hormonais que controlam o metabolismo do órgão.

Gabriel Oliveira, médico patologista responsável pelo grupo de trabalho da Patologia Gastrointestinal do AC Camargo Cancer Center, explica que, nos tumores neuroendócrinos colorretais, os sintomas geralmente são discretos ou imperceptíveis.

A maioria dos diagnósticos é feita quando a pessoa faz um exame de colonoscopia de rotina para rastreio por outro motivo ou quando a doença já está avançada e se manifesta em outro órgão (metástase)
Gabriel Oliveira, médico patologista

Oliveira explica, ainda, que os dois tipos de tumores não têm relação entre si —ou seja, um não foi o responsável pelo surgimento do outro. No Brasil, médicos indicam exames para rastreio de câncer colorretal a partir dos 45 anos.

Quando médicos se deparam com o diagnóstico em pessoas tão jovens como Pedro, a primeira suspeita é de algum componente genético. No caso dele, porém, foram feitos estudos do tipo para verificar se havia algum fator hereditário. "Descobrimos que não existe nenhuma alteração ou predisposição no meu organismo", diz Pedro.