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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Jornalista descobre que ronco era apneia grave; quando se preocupar?

Rodrigo Capelo publicou relato nas redes sociais - Reprodução/Instagram
Rodrigo Capelo publicou relato nas redes sociais Imagem: Reprodução/Instagram

Do VivaBem*, em São Paulo

31/10/2022 14h56

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O jornalista esportivo Rodrigo Capelo, do Grupo Globo, contou nas redes sociais que vai se afastar do trabalho para fazer uma cirurgia de tratamento contra a apneia do sono, descoberta no ano passado. "Na minha ignorância, achava que era ronco. Incômodo, mas inofensivo. É muito pior", disse. O problema é um distúrbio do sono que causa paradas na respiração durante a noite, inclusive sem perceber, e prejudica a saúde e o bem-estar.

Além de prejudicar a oxigenação, as interrupções respiratórias levam a pessoa a despertar sem perceber diversas vezes durante a noite. Resultado? Cansaço e sonolência durante o dia, falta de produtividade e até de libido.

"Do começo da pandemia para cá, também passei a ter insônia. Nunca fui de dormir e acordar cedo, mas comecei a ter sono só por volta das 4 ou 5 da manhã, muito além de qualquer outro momento da vida. A combinação dos dois problemas é cruel, porque me impede de descansar há anos", afirmou Capelo.

Mas as consequências a longo prazo são a maior preocupação dos especialistas em sono: a apneia obstrutiva do sono aumenta muito o risco de hipertensão, diabetes, depressão, doença arterial coronariana e de morte por infarto ou derrame. Ainda existem estudos que associam a falta de sono reparador à dificuldade para perder peso e até maior risco de demências.

Sem o sono reparador, Capelo contou que enfrenta vários sintomas, como tontura, dor de cabeça, cansaço, problemas no ouvido e dificuldades cognitivas. "De junho para cá, comecei a ter o seguinte episódio: durmo às 5 da manhã, tenho uns 15 ou 20 minutos de sono e acordo em pânico, com coração disparado, dores de cabeça, ouvido latejando, calafrios, dor no peito. Achei que estava morrendo, mas não era infarto, nem nada do tipo."

Por que roncar é alerta para a apneia do sono?

O ronco é a vibração dos tecidos das vias aéreas (ou mais especificamente do palato mole) diante da passagem do ar. Quanto maior o esforço para respirar e a flacidez desses tecidos, mais barulhento será o ronco. A obstrução pode causar uma apneia completa ou apenas parcial (hipopneia). Por isso, o ronco pode ser um sinal da síndrome da apneia obstrutiva do sono, mas nem sempre está relacionado a ela. Ou seja: nem todo mundo que ronca tem apneia, mas muita gente com apneia ronca.

Aqui vale um alerta: quem ronca alto ou sofre de cansaço e sonolência diurnos sem razão aparente deve consultar um profissional de saúde. A medicina do sono é uma área de atuação que envolve diferentes especialistas, como neurologistas, otorrinolaringologistas e pneumologistas, entre outros.

Quais os sintomas da apneia do sono?

Os mais comuns são:

  • Ronco alto e frequente;
  • Ronco irregular (porque há paradas respiratórias);
  • Engasgos durante o sono (que fazem a pessoa acordar ou não);
  • Sonolência e cansaço durante o dia.

Também pode haver:

  • Dor de cabeça ao acordar;
  • Sono agitado;
  • Aumento da vontade de urinar durante a noite;
  • Boca seca ou sede ao acordar;
  • Perda de produtividade.

Condições que podem ser causadas ou agravadas pela apneia do sono:

  • Irritabilidade;
  • Depressão;
  • Ansiedade;
  • Problemas de libido;
  • Dificuldade de aprendizado;
  • Problemas de memória ou concentração;
  • Agravamento da asma;
  • Síndrome metabólica;
  • Diabetes;
  • Hipertensão;
  • Problemas no coração (como arritmias);
  • Doença cardiovascular, como infarto ou derrame.

Qual é o tratamento para a apneia?

O tratamento deste distúrbio do sono depende da causa e da gravidade do quadro, e costuma ser multidisciplinar. Muitas vezes, medidas como perda de peso, orientações para dormir de lado ou exercícios fonoaudiológicos são suficientes para evitar a apneia nos casos mais leves.

Em outros, são necessárias medidas como o uso de aparelhos na boca ou de máscaras que facilitam a respiração durante o sono. Alguns pacientes ainda podem precisar de cirurgia, o que é mais comum entre as crianças com problemas nas amídalas ou adenoides.

Principais abordagens utilizadas para controlar a síndrome

  • Mudanças no estilo de vida: exercícios físicos e readequação de dietas são medidas essenciais. Parar de fumar, evitar o uso de álcool à noite e de certos medicamentos para dormir, além de se policiar para dormir sempre de lado (e não de barriga para cima) também são orientações importantes;
  • Terapia com fonoaudiólogo: exercícios específicos para fortalecer os músculos que envolvem a língua, a faringe e a face pode trazer bons resultados para alguns casos de ronco e apneia;
  • Controle de certas doenças: o tratamento de problemas hormonais ou crônicos, como a rinite alérgica, bem como a substituição de medicamentos, como aqueles utilizados contra insônia, podem ser necessários para evitar a apneia;
  • Aparelhos intraorais: eles ajudam a reposicionar a mandíbula inferior, a fim de manter as vias aéreas desobstruídas durante a noite. Existem várias modalidades no mercado, mas os mais eficazes são aqueles moldados para cada paciente e tituláveis. Ou seja, por meio de uma engrenagem posicionada no aparelho, o posicionamento é ajustado aos poucos até que não haja mais ronco e apneias. O tratamento ainda não é coberto por planos de saúde ou SUS (Sistema Único de Saúde);
  • Aparelhos de pressão positiva: o CPAP (Aparelho de Pressão Positiva Contínua) é considerado o tratamento padrão para a síndrome de apneia obstrutiva do sono moderada a grave. O equipamento mantém a via aérea desobstruída por meio da passagem constante de ar a uma certa pressão, com uma máscara (geralmente nasal) que deve ser adaptada ao formato do rosto do paciente. É importante que o paciente realize testes para determinar a pressão e a máscara mais indicadas para o seu caso. Existem diferentes opções de aparelhos no mercado, com diversos tamanhos e materiais, e nem todas são cobertas pelo SUS ou pelos planos de saúde. Embora pareça desagradável dormir toda noite com uma máscara, em geral os pacientes sentem uma melhora tão grande na qualidade de vida que aderem bem ao tratamento.
  • Cirurgia: a retirada da amídala e/ou adenoides pode solucionar boa parte dos casos de apneia do sono em crianças. Já em adultos as cirurgias são indicadas em casos mais específicos, como desvios de septo nasal ou presença de pólipos. Para pacientes com determinadas doenças graves, o último recurso é a traqueostomia (procedimento cirúrgico que abre um orifício e leva o ar diretamente à traqueia por meio de uma cânula).

Jornalista fará cirurgia ortognática: saiba o que é

No relato, Rodrigo Capelo contou que vai passar nesta segunda-feira (31) por uma cirurgia ortognática para corrigir o problema. "O cirurgião vai quebrar o maxilar para puxá-lo milímetros para a frente, abrir espaço no nariz e tirar quatro dentes do siso, pois precisarei, com aparelho, reencaixar a dentição. Lógico, minha aparência mudará."

O procedimento estético-funcional é indicado para casos de apneia, dificuldades para mastigar e falar, por exemplo. A cirurgia consiste em realinhar as estruturas da mandíbula e/ou da maxila (osso responsável por suportar os dentes superiores e a mandíbula, os inferiores), com serras, parafusos e placas de titânio em um centro cirúrgico, além do acompanhamento odontológico prévio.

A intervenção é invasiva e o processo de recuperação nem sempre é simples —varia de acordo com o quadro do paciente, ou seja, quais estruturas foram alteradas. As primeiras 48 horas são as mais delicadas. O indicado, no geral, é que a pessoa fique afastada, no mínimo, 15 dias do trabalho, em repouso (é possível andar, ir até o banheiro etc.). A recuperação, gradativa, ocorre após um mês.

Antes desse período, o paciente não pode fazer atividades físicas que demandem muito esforço e/ou de esportes de contato. Pessoas com doenças descompensadas, como diabetes ou hipertensão, não têm indicação para a cirurgia. Até por isso são solicitados diversos exames pré-operatórios antes do procedimento.

No pós-cirúrgico, os pacientes podem relatar dormência no lábio inferior, que ocorre porque as bases ósseas são movimentadas e há a presença de diversos nervos. Inclusive, os cirurgiões orientam que os pacientes procurem o auxílio de fisioterapeutas e fonoaudiólogos após o procedimento.

Como em qualquer operação, existe risco de infecção pós-operatória, além de sangramentos. Ainda em ambiente hospitalar, o paciente já inicia a medicação com antibióticos, que pode durar até duas semanas.

*Com informações de reportagens publicadas em 02/04/19 e 04/10/21.