Saiba como cuidar de um filtro de barro, como o de Filó e Zé Leôncio

Lá nas fazendas do Pantanal esse figurante aparece sempre: o filtro ou talha de cerâmica está na cozinha de Filó (Dira Paes), assistindo às conversas dela com Zé Leôncio (Marcos Palmeira); está no Rancho Pouca Boia, de Tenório (Murilo Benício); e nos galpões dos peões.

A novela está na reta final e é verdade que quase nunca os personagens aparecem bebendo água e isso até explica por que o filtro de barro de Zé Leôncio —que tem até um chapéu de crochê— aparece intacto desde a primeira fase da novela, que se passava cerca de 25 anos atrás: ele nunca deve ter tido água dentro.

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Na vida real e nas cozinhas comuns, os filtros que realmente são usados passam por um desgaste natural que algumas vezes pode ser confundido com sujeira ou mofo e causar dúvidas sobre a qualidade da água armazenada.

VivaBem ouviu especialistas para explicar como acontece o processo de filtragem da água nesses equipamentos, considerado um dos melhores sistemas de purificação de água do mundo. Também perguntamos os cuidados corretos para que ele dure bastante e não cause nenhum problema de saúde.

Como funciona?

O filtro de barro completo é composto por três partes básicas: a superior, onde é colocada a água; o elemento filtrante (conhecido como vela); e a parte inferior, onde fica a torneira para a saída do líquido filtrada.

O que faz mesmo o serviço de retirada das impurezas é a vela, que é feita de material cerâmico e pode ter em seu interior carvão ativado e um revestimento de prata coloidal.

É um processo físico: a água passa pela cerâmica porosa, que já retém algumas partículas sólidas, e os outros dois elementos retiram metais pesados, bactérias, protozoários e melhoram também o gosto e a aparência da água. A filtragem não é capaz de eliminar vírus, mas o cloro, obrigatório na água tratada no Brasil, sim.

Em 2017, um estudo feito pelo Instituto Vital Brasil (RJ) ganhou o noticiário ao mostrar que esse sistema é capaz até de transformar água de esgoto em água potável, mas os especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o ideal é que qualquer água passe por um tratamento prévio, como fervura ou adição de hipoclorito de sódio (distribuído gratuitamente em postos de saúde), caso não venha tratada de uma rede pública de águas e saneamento.

Os recipientes feitos de argila ajudam a proteger a água da luz, diminuindo a proliferação de algas e outros microrganismos, além de ser capaz de manter a água até 5ºC abaixo da temperatura ambiente, dando a sensação de frescor. Isso ocorre devido à argila também ser um material poroso, pelo qual parte da água evapora, trocando calor com o ar da parte externa.

Como usar

O filtro novo deve ser lavado por dentro para retirar quaisquer impurezas. A cerâmica de alguns modelos pode ter um revestimento bactericida na parte de dentro, que ajuda a diminuir a proliferação natural dos microrganismos presentes na água, como algas, por exemplo.

Encha o filtro com água da rede de tratamento ou água fervida e clorada previamente (1 a 2 gotas por litro, deixe agir por pelo menos 30 minutos antes de consumir), caso a água do local não seja tratada. Também é recomendado descartar as primeiras duas filtragens a cada troca de vela, pois a água pode ficar com algum sabor residual.

Como manter

A primeira coisa a se dizer é que a umidade que aparece do lado de fora da cerâmica não é prejudicial à saúde. O mesmo vale para o a camada um pouco pegajosa que se forma na parte interna depois de um tempo de uso. São processos naturais que não interferem na qualidade da água, desde que seja feita a higienização e manutenção periódica do filtro.

A camada pegajosa é chamada de filme biológico e quando está em pequenas quantidades é benéfica para o processo. Mas, com o tempo, ela pode aumentar muito e prejudicar a filtragem ou deixar um gosto ruim, causado pelas algas e outros elementos em excesso.

O recomendado é lavar toda a parte interna, inclusive a vela filtrante, uma vez por mês ou a cada um mês e meio. Para isso, use só água e uma esponja nova, limpa e do lado macio. Qualquer produto pode deixar gosto e resíduos e a esfregação gera atrito e abrasão, fazendo com que as peças se desgastem e possam não funcionar corretamente.

A recomendação é trocar a vela a cada 6 meses ou antes, dependendo da intensidade de uso. Já as talhas de argila têm validade indeterminada e sua deterioração visual vai depender da umidade do ar, da temperatura ambiente, da luminosidade que o filtro recebe e dos cuidados ao longo do tempo.

A parte de fora deve ser limpa com pano macio e úmido uma vez por semana. As manchas esbranquiçadas ou acinzentadas que se formam do lado de fora não são fungos e nem bolor, são causadas pela chamada eflorescência da água: ao atravessar os poros da cerâmica e trocar calor com o ambiente, os sais minerais presentes na água ficam depositados na parte de fora da talha de barro.

Isso não prejudica em nada a saúde, mas com o tempo deixa o filtro mais parecido com aquele velhinho do quarto do Solano (Rafa Sieg) na casa de Tenório do que com o bonitão da cozinha do Zé Leôncio.

Fontes: Emílio Garcia Neto, superintendente da Cerâmica Stéfani; José Carlos Mierzwa, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo); e Wanderley da Silva Paganini, professor livre docente do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP.