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Com dor de estômago e falta de ar, ele descobriu que coração estava parando

Aos 29, Jhonatan descobriu que apenas 16% do órgão estava funcionando - Arquivo pessoal
Aos 29, Jhonatan descobriu que apenas 16% do órgão estava funcionando Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

14/09/2022 04h00

Jhonatan de Martine, 29, sempre levou uma vida saudável. Fazia academia seis vezes na semana e tinha uma alimentação regrada com auxílio de nutricionista e nutrólogo. Ou seja, estava com a saúde "em dia".

Por isso, quando as fortes dores de estômago apareceram, Jhonatan achou estranho e procurou um hospital. Tomou remédio por dois dias e o incômodo passou. No último final de semana de janeiro deste ano, ele foi a uma festa com amigos em São Paulo, onde vive.

Na volta, dormiu na casa de um colega que mora perto dele e, quando acordou, resolveu ir embora. Mas um trajeto que demoraria 5 minutos durou 40 minutos. "A cada 5 ou 10 metros, eu perdia completamente o fôlego. Tinha que parar, descansar e andar mais alguns passos", lembra o publicitário. As dores de estômago também reapareceram neste momento.

Quando chegou, enfim, em casa, foi descansar. "Mas não conseguia respirar. Sabia que algo sério estava acontecendo. Pensei que era covid pelos sintomas respiratórios e resolvi voltar para o hospital".

Quando os médicos realizaram um ecocardiograma, exame que analisa o coração, veio o susto: apenas 16% do órgão estava funcionando, era uma insuficiência cardíaca aguda. Com isso, ele foi internado imediatamente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Insuficiência cardíaca sem causas

Jhonatan de Martine - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Primeiros sintomas de Jhonatan foram as dores no estômago e, depois, falta de ar
Imagem: Arquivo pessoal

Até hoje, não se sabe ao certo o que causou o problema no coração —inclusive, nem a biopsia no órgão conseguiu concluir algo. Neste contexto, o publicitário seguiu internado, tomando medicações intravenosas. Só que ele não apresentava melhora. Pelo contrário, Jhonatan foi piorando de forma progressiva.

"Cheguei a sair durante 3 dias, mas piorei e voltei. Quando fizeram uma ressonância magnética, viram que eu tinha uma miocardite [inflamação no coração] antiga, que eu teria tido há 6 meses", diz. "Só que até hoje, não sabemos ao certo o que causou tudo isso. Temos apenas algumas teorias."

Quando os médicos perceberam que o caso seria mais complexo do que o esperado, Joe, como é chamado, precisou ser transferido para outro hospital, onde surgiram as primeiras conversas sobre o transplante de coração. Por isso, ele foi encaminhado para o InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), em São Paulo, referência em casos como esse.

Os médicos disseram que não sabiam se teria outra solução além do transplante. Aí foi um choque e entendi a gravidade da situação. Jhonatan de Martine

De acordo com Bruno Biselli, cardiologista da Unidade Clínica de Insuficiência Cardíaca do InCor, que acompanhou o caso do jovem, nenhuma das hipóteses sobre as causas do problema foi confirmada —nem covid-19, que Joe teve duas vezes, nem uma possível doença com origem genética.

Jhonatan de Martine - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jhonatan levou um susto quando descobriu que precisaria de transplante
Imagem: Arquivo pessoal

"Ele não tinha nenhum antecedente, nenhum fator de risco para ter uma insuficiência cardíaca, nenhuma exposição ou causa clara que indicasse o problema", explica o médico. "Também não sabemos se foi a miocardite. Por isso, assim como em boa parte dos casos, ele ficou com o quadro idiopático [quando não há causa definida]".

'De repente, estava nas mãos de uma doença que não sei a causa'

Depois da chegada ao InCor, as coisas foram acontecendo rapidamente. Ele foi internado no dia 31 de janeiro deste ano, descobriu que precisaria de transplante no dia 25 de fevereiro e, uma semana depois, já estava na fila.

A equipe médica seguiu com as medicações que apenas amenizavam os sintomas do publicitário. Mesmo assim, ele ainda passava mal em alguns momentos, principalmente pela fraqueza no corpo. Com isso, os especialistas optaram pelo balão intra-aórtico, que dá mais suporte ao "trabalho" do coração, principalmente na circulação sanguínea —o procedimento foi ponto principal que o colocou como prioridade na fila de transplante.

"Neste tempo, fiquei muito bem, não tive sintomas por poucos dias, mas não podia sair da cama, nem sentar. O cateter ficava inserido na virilha, então não conseguia dobrar a perna, que ficava amarrada. Dormir e ir ao banheiro eram um inferno. Tudo era muito complexo de fazer", diz.

Jhonatan conta que esse período foi bem difícil, que chegou perto de "bater as botas". Em vários momentos, quando a pressão dele caía, a equipe toda corria para o quarto. Apesar disso, nunca foi intubado ou precisou ser ressuscitado.

Exatamente por esse quadro grave, progressivo e de piora acentuada, ele entrou como prioridade na lista de transplante de coração. "Passei na frente de todo mundo. Estava tomando a dose máxima de medicamentos", diz

Foi realmente tudo muito rápido e isso foi bom porque não deu tempo para pensar direito. Foi uma maluquice! Jhonatan de Martine

Jhonatan de Martine - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Foto de Jhonatan assim que acordou do transplante
Imagem: Arquivo pessoal

Quando o transplante cardíaco é necessário?

Importante explicar que o caso de Jhonatan não é o mais comum, de acordo com o cardiologista. "Dentro dos transplantes de coração, geralmente são pacientes que já tinham diagnóstico prévio de insuficiência cardíaca tratada há anos."

Na maioria das situações, a pessoa apresenta esse quadro agudo no coração, toma medicação e melhora. Depois, no futuro, se ela tem uma piora, é possível que precise de um transplante, mas depois de anos —algo entre 5 e 7 anos, segundo o médico.

Ainda de acordo com o cardiologista do InCor, o transplante cardíaco é a última linha de tratamento para quem tem insuficiência cardíaca. "É quando o paciente está sintomático persistentemente ou com uma falência cardíaca que é necessário o uso de medicação ou de outros mecanismos. É quando não há mais nenhuma alternativa", diz Biselli.

E esse era o caso de Jhonatan, que não apresentava melhora de forma alguma.

Quando ele chegou, não tínhamos mais margem ou perspectivas para que ele saísse das medicações e continuasse vivo. Por isso, indicamos o transplante. Bruno Biselli, cardiologista do InCor

Jhonatan de Martine - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Registro do dia em que ele teve alta do hospital
Imagem: Arquivo pessoal

Diferente de outros órgãos, o coração conta com alguns detalhes que tornam a doação um pouco mais difícil, segundo Biselli. Primeiro, não há órgão suficiente para a quantidade de pessoas que precisam de um novo.

Além disso, é um órgão que sofre muito em uma morte encefálica. De acordo com o médico, 80% dos possíveis doadores não são aceitos por diversos fatores, como idade, cardiopatia prévia e esse sofrimento do órgão.

Outro ponto é o tempo que o coração pode ficar fora do corpo, esperando o receptor. "Ele precisa ser colocado, idealmente, no novo corpo no máximo em 3 a 4 horas, senão perco o coração e o receptor", explica. Outros órgãos, por exemplo, podem ficar até 48 horas esperando o novo corpo.

Foram 8 corações ofertados até o transplante dar certo

Jhonatan de Martine - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Em foto atual de Joe, é possível ver cicatriz do transplante
Imagem: Arquivo pessoal

Normalmente, uma pessoa fica cerca de 4 meses na fila de transplante. Mas Jhonatan ficou um mês e meio aguardando seu novo coração. "Acabou sendo mais rápido por conta da gravidade. Ele ficou em primeiro lugar e acabou sendo priorizado."

Mas até o dia chegar, foram 8 corações ofertados e recusados por diversos motivos —alguns citados acima, além de compatibilidade de tamanho (Jhonatan tem 1,85 metro).

No dia 12 de abril, ele, enfim, fez a cirurgia de transplante e recebeu um novo coração. Sem rejeição do órgão, hoje, Joe faz reabilitação cardíaca e, recentemente, voltou a fazer as atividades rotineiras.

Além disso, vai tomar imunossupressores para sempre, já que eles evitam a rejeição do órgão. Já são 4 meses com o novo coração. "Não consigo colocar em palavras ou explicar o momento em que acordei da cirurgia e vi que tudo tinha dado certo."

Sou muito grato. Aprendi muita coisa nessa experiência, a olhar as coisas de uma forma diferente... Principalmente essa loucura de só pensar na carreira, de trabalhar muito. Isso tudo me ajudou a ver o que realmente importa na vida. Quando eu paro para pensar, sei que tive muita sorte. Jhonatan de Martine

De tudo que passou, Jhonatan levou muita coisa. Além de ser um defensor da doação de órgão, ele começou a fazer um trabalho voluntário no InCor, exatamente para desmistificar o assunto. "É para mostrar que existe vida depois disso", diz. "Tenho algumas restrições alimentares até completar um ano e preciso usar máscara sempre, mas posso sair de casa, ver meus amigos. Existe vida após um transplante", reforça.

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