Gastrite ou dor de estômago? Não confunda mais - há diferenças entre elas

Sabe aquela dor de estômago misturada com um desconforto local que insiste em incomodar e não passa com remédios comuns para azia e má digestão? Pode ser gastrite, mas também pode ser apenas uma reação do organismo a algum alimento, bebida alcoólica ou medicamento que você ingeriu.

Gastrite é uma inflamação localizada na mucosa, ou seja, no revestimento interno do estômago. Essa inflamação pode ser dividida, principalmente, em aguda e crônica. No entanto, independentemente da classificação, geralmente uma dieta balanceada ajuda a melhorar os sintomas. Para isso, vale diminuir o consumo de álcool, cigarro, café e alimentos condimentados.

Contudo, caso não haja melhora no quadro e o paciente tenha outros sintomas além da dor, como enjoo, pode ser necessário fazer tratamentos diferentes com medicamentos específicos. Em último caso, a gastrite pode evoluir para úlcera e outras doenças mais graves, mas, no geral, a inflamação pode ser curada.

Conheça, a seguir, os diferentes tipos de gastrite.

Gastrite aguda

Esse tipo de gastrite é passageiro e permanece por poucos dias. Trata-se de uma inflamação aguda quase sempre secundária ao uso de álcool, aspirina e anti-inflamatórios. Quando você bebe muito você acaba tendo uma gastrite aguda, já que o álcool irrita o estômago.

Outras vezes, a gastrite aguda pode ser uma complicação posterior a cirurgias extensas, grandes queimaduras e septicemia. Nesta situação, as gastrites agudas podem se complicar com sangramentos digestivos. O tratamento pode ser feito à base de medicamentos. No entanto, esse tipo de gastrite tende a ser confundido com quadros de dispepsia, que explicamos mais abaixo.

Gastrite crônica

São as mais frequentes. É possível que levem muito tempo para ocorrer e podem provocar sintomas clínicos ou não. Para ser identificada e classificada, é necessário a realização de uma endoscopia.

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Essa gastrite tem fundamentalmente duas causas: a primeira é a presença da bactéria Helicobacter pylori, presente em 95% das gastrites crônicas. Na maioria das vezes, a H pylori é adquirida durante a infância e, após sua instalação no estômago, promove uma gastrite crônica e assim permanece por toda a vida sem provocar sintomas relevantes. Uma parcela pequena dos portadores de gastrite crônica pode evoluir para formas mais graves com atrofia da mucosa.

Essa bactéria leva a destruição da proteção da mucosa do estômago, fazendo com que o ácido produzido pelo órgão agrida continuamente a mucosa, podendo evoluir para um quadro mais avançado, dito gastrite atrófica. Caso o paciente tenha a bactéria e consiga eliminá-la por meio do tratamento, antes do aparecimento das formas mais graves, em praticamente todos os casos a cura é completa e a chance de contrair novamente a H pylori é muito pequena. Isso ocorre porque o próprio organismo cria anticorpos e não permite que a bactéria se instale novamente no estômago.

O Helicobacter pylori é considerado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) um agente causador de câncer do estômago tipo 1. Isso significa que está comprovado que quem tem H pylori tem um risco maior de ter câncer do estômago, do que quem não tem. O risco é pequeno, mas ele existe.

A outra causa de inflamação crônica no estômago é a gastrite autoimune, que normalmente afeta mulheres com problemas de tireoide e provoca atrofia numa parte do estômago, que produz o ácido clorídrico. O especialista salienta que, se não diagnosticada adequadamente, o paciente pode desenvolver um quadro de anemia, por falta da vitamina B12, que não é absorvida pelo estômago, devido a atrofia. Nesta situação, os pacientes têm que fazer reposição da vitamina B12 durante a vida inteira.

Gastrite medicamentosa

Esse tipo de gastrite se dá pelo uso de medicamentos tóxicos para o estômago, causando a inflamação na mucosa. A gastrite medicamentosa por uso de anti-inflamatórios pode evoluir com sangramento, às vezes em grande quantidade e de difícil controle, o que pode colocar o paciente em risco. O uso do anti-inflamatório é perigoso. Esse tipo de gastrite também pode ser tratada apenas com a suspensão do uso do medicamento causador da inflamação.

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Também é possível usar medicações específicas para gastrite. Após o tratamento, no geral, a inflamação tende a desaparecer. Quando o uso de anti-inflamatórios é imprescindível para o tratamento de outras doenças, é possível fazer uso de medicamentos que impedem ou reduzem o surgimento das gastrites medicamentosas e suas complicações, como o sangramento ou o aparecimento de uma úlcera no estômago.

Gastrite eosinofílica

Essa gastrite é provocada por um fator imunoalérgico que causa uma irritação na mucosa gástrica. Essa inflamação é rara e corresponde a apenas 1% das gastrites. O diagnóstico se dá por meio de uma biópsia do estômago.

A consulta com um imunoalergologista e a realização de testes cutâneos (próprios para alergia) pode auxiliar na identificação da reação alérgica e orientar o tratamento.

Gastrite linfocítica

A gastrite linfocítica também é rara e ainda não tem uma causa estabelecida, portanto, também é necessário a realização de uma biópsia do estômago para o seu diagnóstico. Os especialistas apenas acompanham a gastrite por meio de biópsias e prescrevem medicações de acordo com os sintomas.

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Elas fazem parte das apresentações raras de gastrites. Eosinofílica, linfocítica, por outras doenças, como sarcoidose e tuberculose, por alguns tipos de vírus. Porém, isso tudo corresponde a um universo muito pequeno entre todas as gastrites.

Especialistas afirmam que existem ainda outras classificações de gastrites, bem menos frequentes. De maneira geral, é necessário mudança de hábitos alimentares, como evitar jejum prolongado, fracionar a alimentação, mastigar adequadamente os alimentos, não ingerir líquidos junto com as refeições, evitar refrigerantes, bebidas gaseificadas e bebidas alcoólicas. Além disso, se possível, suspender fatores desencadeantes, como determinados medicamentos, café, chá preto e evitar o tabagismo.

"Gastrite nervosa" não existe...

Gastrite é a inflamação da mucosa do estômago
Gastrite é a inflamação da mucosa do estômago Imagem: Gabriela Sánchez/VivaBem

Além das gastrites citadas acima, há também aquelas que ficaram "popularmente" conhecidas. Esse é o caso da famosa gastrite nervosa. Quem nunca viu alguém ficar nervoso por determinada situação e dizer em seguida: "Atacou minha gastrite e meu estômago está doendo". Pois bem, embora seja muito comentada, ela não existe.

O que existe são pessoas que têm um estômago hipersensível e apresentam sintomas sobre ele. Se faço uma endoscopia, o resultado nunca encontra alterações importantes. Isso não tem nenhum risco para a pessoa ao longo da vida.

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Esses casos referem-se exclusivamente aos sintomas comuns da gastrite. Ou seja, nem sempre quando o paciente tem algum sintoma semelhante ao da gastrite, ele está efetivamente com ela.

Então, o que você sente?

Os especialistas afirmam que, às vezes, o paciente pode estar apenas com uma dispepsia (má digestão), acompanhada de dor, azia, enjoo, estufamento e uma sensação de desconforto na parte superior do abdome.

Neste caso, o estômago não é doente, ele reage às nossas emoções como tensão emocional, ansiedade, depressão ou pressão social. Outras vezes, ele reage às agressões, como maus hábitos alimentares, alimentação irregular, excessos alcoólicos e muitos medicamentos. Esse quadro de dispepsia é transitório e corresponde a quase 30% das consultas com um gastroenterologista.

O tratamento das dispepsias é sintomático e elas podem ser evitadas com uma boa alimentação, não usar anti-inflamatórios sem recomendação médica e a correção dos hábitos, em geral.

Fontes: Luiz Gonzaga Vaz Coelho, professor titular de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); Marcelo Borba, médico da divisão de clínica cirúrgica do Hospital Universitário da USP (Universidade de São Paulo) e colaborador da disciplina de coloproctologia do departamento de gastroenterologia do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); e Simone Reges Perales, médica-cirurgiã do aparelho digestivo

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*Com matéria publicada em 25/05/2020

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