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Jovem toma zolpidem, compra viagem e não se recorda; como isso é possível?

Do VivaBem, em São Paulo

12/08/2022 15h40

Dois pacotes de viagens, no valor total de R$ 9.000: essa foi a compra que um jovem fez durante alucinação desencadeada pelo medicamento zolpidem, segundo relato compartilhado por ele próprio em seu perfil no Twitter. A história chamou a atenção dos usuários da rede e acendeu o debate sobre os possíveis efeitos colaterais do remédio —desde ontem (11/8) está entre os assuntos mais comentados da plataforma.

O fármaco é um dos medicamentos mais prescritos para tratamento de curta duração da insônia em todo o mundo. Sonolência, dor de cabeça, boca seca e fadiga são exemplos de seus efeitos colaterais mais conhecidos, mas algumas pessoas também podem ter alucinações, agitação e pesadelos, de acordo com a bula eletrônica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O zolpidem é um hipnótico não benzodiazepínico do grupo das imidazopiridinas. Essas substâncias agem sobre os centros do sono que estão localizados no cérebro. É por isso que o medicamento pode ser indicado para pessoas que têm dificuldade para dormir. A substância só pode ser comercializada sob prescrição médica, e não é indicada para grávidas, lactantes ou crianças.

O fármaco também não deve ser utilizado por pacientes com insuficiência respiratória severa e/ou aguda (dificuldade respiratória), com insuficiência do fígado severa ou em pessoas alérgicas a qualquer componente do medicamento.

Fatores que aumentam risco de sofrer reações adversas

Segundo Gabriel Freitas, consultor do CFF (Conselho Federal de Farmácia) e professor de ciências farmacêuticas da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), o perfil de tolerabilidade do remédio é considerado alto e as reações adversas graves geralmente são mais raras. Mas existem alguns fatores que podem aumentar o risco de uma pessoa sofrê-las.

"Os efeitos adversos são dose-dependente. Ou seja, tomou muito, vai ter mais chance de ter reações graves. Se tomou na dose certa, a chance é menor", explica o farmacêutico, alertando para a importância de sempre respeitar a orientação médica.

Altas doses de zolpidem também estão associadas a um aumento no risco de dependência, especialmente entre pessoas que apresentam risco, histórico de abuso ou dependência de outras substâncias.

Adultos com idade acima de 65 anos ou pacientes debilitados também têm maior risco de desenvolver reações adversas. Em idosos, por exemplo, a bula do remédio afirma que a dosagem não deve exceder 10 mg por dia.

O consumo de zolpidem juntamente com bebidas alcoólicas ou de medicamentos contendo álcool também pode contribuir para efeitos colaterais indesejados e, por isso, não é recomendada: o álcool promove uma intensificação do efeito de sedativos e hipnóticos ou de substâncias relacionadas, afetando a capacidade de vigilância do indivíduo e aumentando o risco de acidentes na condução de veículos ou na operação de máquinas, por exemplo.

Remédio - iStock - iStock
Altas doses de hipnóticos como o zolpidem estão associadas a um aumento no risco de efeitos adversos e dependência
Imagem: iStock

De acordo com a bula do medicamento, outro fator de risco são as interações medicamentosas. O uso concomitante de zolpidem com antipsicóticos (neurolépticos), hipnóticos, ansiolíticos/sedativos, agentes antidepressivos, analgésicos narcóticos, drogas antiepiléticas, anestésicos e anti-histamínicos pode aumentar a sonolência e o comprometimento psicomotor, incluindo a habilidade de dirigir.

No caso de analgésicos narcóticos, pode ocorrer aumento da sensação de euforia, levando à ocorrência de dependência psicológica. Além disso, o uso concomitante de benzodiazepínicos (medicamentos ansiolíticos) e outros fármacos hipnóticos sedativos, incluindo zolpidem, e opioides aumenta o risco de sedação, depressão respiratória, coma e até mesmo óbito.

"Se o uso concomitante for necessário, a dose e a duração do uso concomitante de benzodiazepínicos e opioides deve ser limitado", alerta a bula.

Ainda de acordo com o documento, se o medicamento causar sonambulismo ou outros comportamentos incomuns (como dormir enquanto dirige ou faz uma ligação, por exemplo), além de episódios de delírio —na manhã seguinte a pessoa poderá não lembrar o que fez durante a noite, semelhante ao que pode ter ocorrido com o jovem que compartilhou seu relato no Twitter—, a recomendação é que o tratamento seja interrompido e o paciente procure o seu médico ou funcionário da saúde.

Como diminuir risco de "amnésia anterógrada"

Sedativos e hipnóticos como o zolpidem podem causar um quadro conhecido como "amnésia anterógrada", isto é, a perda da memória para fatos que aconteceram logo após o uso do medicamento. Segundo a bula, isso geralmente ocorre algumas horas após a administração.

Por isso, para evitar a situação, a recomendação é tomar o medicamento imediatamente antes de deitar e assegurar condições favoráveis para um sono ininterrupto com duração de 7-8 horas.

Não é remédio para a vida toda

Segundo Freitas, uma das principais características do zolpidem é a rápida ação —a substância começa a agir no organismo em cerca de 30 minutos. O objetivo do medicamento é encurtar o tempo em que a pessoa demora para pegar no sono e reduzir o número de vezes que ela acorda durante a noite.

Mas o medicamento não deve ser usado como uma "muleta" sempre que alguém estiver sofrendo com a insônia: a duração do tratamento deve ser a menor possível e, assim como com todos os hipnóticos, não deve ultrapassar 4 semanas. "Não são fármacos para usar a vida inteira, não foram feitos para isso. Medicamentos como o zolpidem foram feitos para agir pontualmente", enfatiza o farmacêutico.

A recomendação é que a causa primária da insônia seja identificada sempre que possível e que ela seja tratada antes da prescrição de um hipnótico. Segundo a bula do zolpidem, a falta de efeito do tratamento após 7 a 14 dias de uso também pode indicar a presença de um distúrbio psiquiátrico primário ou uma desordem física, e o paciente deve ser reavaliado.

Além disso, Freitas explica que o tratamento da insônia nunca deve ser baseado somente em remédios. "Os estudos mostram que o uso do zolpidem sozinho não é efetivo para tratar a insônia, são necessárias outras medidas não farmacológicas, principalmente a higiene do sono", afirma.

A higiene do sono é um conjunto de técnicas aplicadas antes de deitar, ou até mesmo durante o dia, com o objetivo de preparar o corpo para o dormir e, assim, alcançar um repouso mais saudável.

As técnicas incluem:

  • Criar um ambiente agradável (quarto escuro e silencioso, por exemplo);
  • Acordar e ir para a cama no mesmo horário todos os dias;
  • Reduzir o uso de eletrônicos pelo menos uma hora antes de deitar; e
  • Evitar exercícios ou refeições perto da hora de dormir.