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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ela conta como encara o câncer de mama com alto astral: 'Feliz peitão novo'

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

08/08/2022 04h00

Uma semana antes de completar 38 anos, Sarita Cruz recebeu a notícia de que estava com câncer de mama, e a primeira pergunta que fez à médica é se iria morrer. Passado o susto com o diagnóstico, a consultora financeira e estudante de psicologia adotou uma postura positiva frente ao tratamento, que o tornou mais leve e até divertido.

Na última sessão de quimioterapia, ela foi para a Oncologia D'Or do Hospital Assunção, em São Bernardo, no ABC paulista, a bordo de um carro com teto solar e fantasiada de Mulher-Maravilha. A comemoração teve direito até a um bolo com a frase "Adeus peitinho velho, feliz peitão novo". A seguir, Sarita compartilha sua jornada.

"Faço check-up todo ano e estou sempre atenta às campanhas de conscientização. Em agosto de 2021, estava deitada na cama quando fiz o autoexame e notei um nódulo na mama esquerda, parecia um caroço de manga achatado. Fiquei assustada e fui dormir pensando naquilo.

No dia seguinte, consegui agendar uma consulta com mastologista para 15 dias. A espera gerou um pouco de ansiedade, mas sempre tentei me policiar em relação aos pensamentos negativos, a confrontá-los e a modificá-los para não sofrer antes do tempo.

No dia da consulta, expliquei para a médica o que estava acontecendo, ela me examinou e pediu alguns exames. No dia que o resultado da biópsia ficou pronto, acordei e fiz uma reflexão.

Se aquele fosse meu último dia de vida, meu desejo final seria estar ao lado das pessoas que amo e ser grata a elas. Se não fosse, teria o compromisso de continuar vivendo com a alegria e a espontaneidade que sempre vivi. Ou seja, fosse a situação boa ou ruim, ia tentar transformar algo negativo em algo bom.

Sarita Cruz tem câncer de mama - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Fui para academia, voltei para casa para me arrumar e depois fui para o consultório. Chegando lá, a médica abriu o resultado e disse que eu estava com câncer de mama —o tumor tinha 6 cm e estava no estágio inicial.

Minha primeira pergunta foi: 'Vou morrer?'. Ela me falou sobre as chances de cura com o tratamento. A segunda foi: 'Vou ficar careca?'. Ela disse que sim, desabei de chorar, ela me deu um abraço e me consolou.

Recebi a notícia uma semana antes do meu aniversário de 38 anos. Já tinha uma viagem marcada para celebrar a data e mantive meu compromisso. Aproveitei o máximo que pude, fiquei triste quando voltei e me dei conta da nova realidade, mas coloquei na cabeça que era uma fase que ia passar.

Toda base de conhecimento que adquiri na faculdade de psicologia, além do meu processo terapêutico com uma psicóloga, foi importante para lidar com a situação.

Antes de iniciar a primeira etapa, a oncologista me alertou que eu poderia ter problemas com infertilidade e entrar em menopausa precoce após o tratamento oncológico. Não tenho filhos e nem a plena convicção de ser mãe, mas achei melhor deixar a possibilidade em aberto e fiz o congelamento de óvulos.

No dia 23 de dezembro de 2021, fiz a primeira de 16 sessões de quimioterapia. Adotar uma postura positiva frente ao tratamento me ajudou a tornar o processo mais leve.

Algumas atitudes simples faziam toda diferença, uma delas era me arrumar, ir bem vestida e maquiada para as sessões —já estava doente, não queria estar feia.

Sarita Cruz tem câncer de mama - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Um outro costume que criei era preparar e levar um prato diferente para toda equipe, que incluía desde os médicos até o pessoal da limpeza. Amo cozinhar, a cozinha tem um lado afetivo para mim e foi a forma que encontrei de retribuir o carinho e cuidado daquelas pessoas comigo. Além disso, levava bilhetes, flores, balões, cantava e fazia coreografia de músicas.

Continuei com a mesma rotina de antes da doença, apenas diminuí o ritmo de trabalho. Sofri pouco com os efeitos colaterais, ia todos os dias para a faculdade e para academia —inclusive nos dias de químio—, me sentia com mais energia e disposição fazendo musculação.

Uma outra estratégia foi retomar as atividades que gostava de fazer quando era jovem. Acampar, fazer trilhas, rapel, saltar de paraquedas e voar de parapente foram coisas que fiz no decorrer do tratamento e que fizeram eu me reconectar comigo mesma e com a natureza.

Tive momentos difíceis também, não era fácil me olhar no espelho e não me reconhecer, chorei muitas vezes, mas entendi que era possível me admirar estando careca, sem sobrancelhas e sem cílios. Fiz um ensaio fotográfico para guardar de recordação a mulher forte, feminina, sensual, com vontade de viver e que nunca desistiu de ser feliz.

Fui a minha própria inspiração, mas o apoio e a motivação dos meus familiares, amigos e equipe médica também foram fundamentais para eu me fortalecer.

Sarita Cruz tem câncer de mama - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

No dia 26 de maio de 2022, fui para a minha última sessão vestida de Mulher-Maravilha, a bordo de um carro com teto solar segurando três balões coloridos "Q16", químio de número 16. A festa teve direito a bolo com a frase 'Adeus peitinho velho, feliz peitão novo' e docinhos personalizados. Fiquei feliz com a comemoração, a primeira etapa estava concluída.

A segunda aconteceu no dia 12 de julho. A indicação cirúrgica era eu retirar um quadrante da mama esquerda, mas, por prevenção, optei por fazer uma mastectomia radical das duas mamas e fiz a reconstrução imediata.

Estou me recuperando bem e aguardando para iniciar a terceira etapa, as sessões de radioterapia. Tem uma frase que gosto bastante da sabedoria da água que diz assim: 'A água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna'.

Tenho encarado a jornada contra o câncer com alegria e alto astral, não perdi a minha essência. Acredito que não há nada que tenhamos tão pouco que não possamos compartilhar com o próximo, compartilho a minha experiência e gratidão pela vida."

A importância da positividade no tratamento

Sarita Cruz tem câncer de mama - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ter uma postura positiva pode favorecer o tratamento de qualquer doença. Aqueles pacientes que compreendem o que vai ser feito e acreditam no sucesso do processo tendem a sentir menos efeitos colaterais e cumprir todas as etapas nos períodos indicados.

Diversos estudos, inclusive, já apontaram que ter uma postura otimista ajuda no tratamento oncológico e está associada a uma menor incidência de depressão. O estado de ânimo pode influenciar o organismo e o sistema imunológico na recuperação de doenças.

Nesse sentido, foram criadas duas novas especialidades para o apoio desses pacientes: a oncopsicologia e a oncopsiquiatria. No caso do câncer de mama, por exemplo, além da doença em si, a mulher ainda precisa lidar com a alteração corporal, que é um capítulo à parte e pode afetar a percepção sobre a sua feminilidade, a relação com a sua imagem e influenciar negativamente a parte psicológica. Logo, as medidas de intervenção precoce são fundamentais.

A depressão também pode influenciar no tratamento porque está associada à ausência de prazer em realizar as atividades habituais. Traz sentimentos como falta de esperança, tristeza, irritabilidade, culpa, apatia e pode prejudicar o sono. A doença mental também está associada à baixa da imunidade e, de forma geral, contribui para um pessimismo de todo o processo.

A participação do paciente é muito importante, pois ele precisa aderir ao tratamento e seguir as orientações, como ter uma dieta adequada, praticar atividade física e usar corretamente as medicações prescritas. No indivíduo deprimido, o ânimo para seguir esta jornada fica prejudicado, o esforço que ele tem de fazer é muito maior.

Sarita Cruz tem câncer de mama - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

O medo e uma postura negativa podem ser paralisantes. Como consequência, algumas pessoas podem protelar a ida ao médico pelo receio da confirmação diagnóstica, podem fazer o tratamento de maneira inadequada e incompleta. Há ainda aqueles que preferem acreditar que não estão com a doença e acham que o problema irá desaparecer.

Ter uma rede de apoio de familiares e amigos, bem como o suporte de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, entre outros profissionais, influencia diretamente no bem-estar do paciente oncológico e, consequentemente, na sua maior adesão.

Vale ressaltar que o papel do oncologista nesse processo vai além de tratar o câncer em si. Ele participa da metamorfose do paciente, ajudando-o na sua transformação, na mudança dos seus hábitos e no modo de enfrentar a vida.

Fonte: Vanessa Petry, oncologista do Hospital Assunção, da Rede D'Or São Luiz, e da Oncologia D'Or Catequese.