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Contratura do silicone: ela não conseguia mais usar top e dormir de bruços

Larissa de Almeida teve contratura capsular das próteses de silicone nas duas mamas - Arquivo pessoal
Larissa de Almeida teve contratura capsular das próteses de silicone nas duas mamas Imagem: Arquivo pessoal

Thamires Andrade

Colaboração para VivaBem

21/07/2022 04h00

Aos 28 anos, Larissa de Almeida decidiu colocar silicone. Na época, ela consultou uma série de especialistas e fez várias pesquisas antes de operar. "Em momento algum me falaram sobre contratura capsular, ruptura ou vazamento do gel. Depois de 3 anos com a prótese, tive a primeira contratura capsular e prestes a completar seis anos com a prótese, tive contratura na outra mama", relembra a professora, que começou a sentir dores e hoje é presidente da Associação de Conscientização sobre Explante, Implante, Toxicidade e Adjuvantes.

De acordo com os especialistas ouvidos por VivaBem, cerca de 10% dos implantes podem ter contratura capsular ou romper. São casos considerados raros na literatura médica, mas que quando acontecem impactam na qualidade de vida das mulheres.

Mas, afinal, o que é a contratura capsular?

Prótese de silicone - iStock - iStock
Imagem: iStock

Toda vez que colocamos um "corpo estranho" no corpo —seja uma prótese ou até um pino no caso de cirurgias ortopédicas—, o organismo tenta isolar esse material do resto do corpo, formando uma cápsula ao redor dele. Com o tempo, essa cápsula pode espessar e endurecer, contraindo e "apertando" a prótese de silicone e é quando acontece a contratura capsular.

A contratura capsular é classificada em quatro níveis de acordo com os sintomas e o exame físico das mamas. As contraturas 1 e 2 não têm sintomas físicos. Já no nível 3, o implante começa a ficar endurecido, e muitas vezes a mama fica deformada, enquanto no nível 4, além do endurecimento e da deformação, a mama também fica dolorida.

Foi o caso de Larissa. Após fazer um movimento brusco na academia, ela começou a sentir dor nos seios e procurou um médico. "Ele me disse que era normal, que bastava fazer massagem que melhoraria. Ele também liberou procedimentos estéticos, tipo ultrassom, e eu gastei tempo e dinheiro, mas nada adiantava", conta.

Ela aprendeu a conviver com a dor, mas passou a ter uma série de limitações, como treinar usando top de ginástica, abraçar as pessoas ou dormir de bruços. Quando teve a segunda contratura na outra mama, começou a pesquisar e descobriu que corria o risco de precisar passar por tudo novamente, já que por ter tido contratura uma vez seria mais propensa a ter novamente.

Sinais de rompimento do silicone

Não é em todos os casos de contratura que é necessário trocar as próteses. Quando há uma contratura de nível superior, com deformidade, dores etc., é necessário investigar por meio de uma ressonância magnética a integridade do implante e garantir que a prótese não está rompida.

Além da própria contratura, os principais sinais de rompimento são aparecimento de nódulos, fisgadas e alteração no formato e na firmeza da mama.

O rompimento da prótese é raro e pode acontecer justamente dentro da própria cápsula da contratura. Com os avanços da tecnologia, o gel que preenche os implantes é muito coeso e, mesmo em caso de ruptura, a tendência é que ele permaneça unido e não "vaze" para o organismo.

Doença do silicone e síndrome Ásia

prótese de silicone, mama, seios - iStock - iStock
Imagem: iStock

Quando estava decidindo se trocaria os implantes, Larissa encontrou mais informações sobre a doença do silicone e tomou a decisão de fazer o explante —retirada da prótese de silicone.

"Nesses seis anos que tive silicone fiquei com vários sintomas, como perda de memória, boca e olhos secos, diminuição da libido, queda de cabelo, fadiga e dificuldade para respirar. E nada estava relacionado ao meu estilo de vida, pois seguia fazendo exercício, me alimentando e dormindo bem", conta.

Ela passou por uma bateria de exames e todos estavam normais, mas ainda assim acusavam uma inflamação. "Depois que retirei a prótese, todos os sintomas passaram. Meu corpo desinflamou. Até comecei a surfar, que era algo que seria impossível, pois não conseguia apoiar a prótese de bruços em uma prancha", afirma Larissa.

Esses sintomas atribuídos pelas mulheres aos implantes mamários ainda não são considerados pela literatura médica uma doença, mesmo que cada vez mais e mais comuns. Já a síndrome Ásia —ou síndrome autoimuneinflamatória induzida por adjuvante— tem critérios diagnósticos definidos e é tratada por cirurgiões e reumatologistas.

A síndrome pode aparecer por uma infecção, um marca-passo ou, de fato, por um implante mamário. Portanto, é difícil cravar que a prótese mamária seria o adjuvante que desencadeou a síndrome, que tem sinais e sintomas parecidos com doenças autoimunes, como artrite reumatoide.

Hoje ciente desses e outros problemas que o silicone pode causar, Larissa quer, por meio da associação que preside, que as mulheres que forem se submeter ao silicone estejam conscientes dos riscos dessa escolha.

"Meu objetivo não é que as mulheres parem de fazer a cirurgia, mas que elas estejam cientes de todos os riscos envolvidos nessa operação", finaliza.

Fontes: Alexandre Piassi, cirurgião plástico e membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica); Fernando Amato, cirurgião plástico, membro da SBCP e membro da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps); e Rafael Anlicoara, chefe da Área Assistencial de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).