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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


É perigoso para a saúde entrar em contato com o que cai do espaço?

Meteorito de cerca de 50 cm de tamanho e 5 e 6 kg caiu no Pará em 2017 - Reprodução/Facebook
Meteorito de cerca de 50 cm de tamanho e 5 e 6 kg caiu no Pará em 2017 Imagem: Reprodução/Facebook

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

13/06/2022 04h00

Você tem costume de olhar para o alto? Pois é bom ficar atento, muita coisa vinda lá de cima tem caído sobre nós, terráqueos, ultimamente. Óvnis (objetos voadores não identificados), meteoritos, fuselagem de espaçonaves. Em março deste ano, por exemplo, um pedaço de metal retorcido do que pode ser um foguete espacial, apontado como da SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk, caiu em uma propriedade rural em São Mateus do Sul, no Paraná.

No mesmo mês também foi noticiado que cientistas e autoridades locais reconheceram como legítima uma rocha espacial que caiu no fundo de um terreno na cidade de Nova Olinda, no sertão paraibano, e passou quase seis anos servindo como enfeite de mesa em uma casa.

Morador encontra suposta peça do foguete da SpaceX que caiu no Paraná - Reprodução - Reprodução
Morador encontra suposta peça do foguete da SpaceX que caiu no Paraná
Imagem: Reprodução

Agora, o caso mais recente, de maio, é sobre uma misteriosa chuva de bolas de metal que atingiram vilarejos de Gujarat, na Índia. As suspeitas apontam para fragmentos de satélite.

Cientistas também acreditam que sedimentos espaciais podem ter depositado na Terra as substâncias necessárias para o surgimento da vida. Para se ter ideia, em três meteoritos que caíram nas últimas décadas, foi encontrada toda a base molecular do nosso DNA e RNA. Achados valiosos para a humanidade compreender melhor sua origem e tudo o mais que a rodeia, mas que geram a pergunta: há risco para a saúde se aproximar do que cai do espaço?

Danos podem ser psicológicos

Em se tratando de meteoritos, saiba que eles, embora possam atingir temperaturas incandescentes ao cruzarem nossa atmosfera em altíssima velocidade, ao tocarem o solo logo perdem calor, então não causam queimaduras.

A não ser que você seja atingido em cheio por algum, o que também pode render traumas e até matar, mas esse é um tipo de acidente raro: há somente um único registro oficial de vítima, não fatal, de meteorito na história.

Ann Hodges - University of Alabama Museums/Tuscaloosa/Alabama - University of Alabama Museums/Tuscaloosa/Alabama
Ann Hodges segurando o meteorito que atravessou o teto de sua casa e a atingiu em seguida
Imagem: University of Alabama Museums/Tuscaloosa/Alabama

Foi a norte-americana Ann Hodges, atingida em 1954 por um fragmento com cerca de 4 quilos e que lhe causou um hematoma no quadril logo após ter destruído o teto de sua casa e acertado um rádio. Mas o dano que de fato "lhe arruinou", nas palavras de Randy Mecredy, diretor do Museu de História Natural do Alabama, para o qual o meteorito foi doado, foi toda a atenção gerada em torno dela, que sofreu um colapso nervoso e morreu pouco tempo depois.

De acordo com Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo) e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria), fenômenos assim, para lá de incomuns e que repercutem na sociedade, podem afetar a saúde mental.

"Criam estigmas, marcam a pessoa centro daquele evento e geram nela um grande sofrimento psíquico e que, sem nenhum suporte, pode evoluir para transtornos e até estresse pós-traumático."

Sem radiação ou doenças, mas...

Ainda sobre rochas espaciais, saiba que também não são tóxicas e radioativas como o mineral de origem extraterrestre kryptonita, capaz de enfraquecer o Super-Homem, e nem têm bactérias causadoras de doenças.

Pedaço de meteorito - Larry Atkins - Larry Atkins
Imagem: Larry Atkins

Mesmo assim, não sendo especialista em meteoritos ou sem usar luvas, não é indicada sua manipulação, mais para evitar acidentes e não alterar características químicas delas, além de causar possíveis oxidações e prejudicar as investigações científicas.

Em se tratando de peças que possam ter vindo do Cosmos, de tecnologias usadas para sua exploração, mais ainda do nosso céu, em se tratando de aviões, helicópteros, também vale a recomendação para não se aproximar e tocar.

Diferente dos meteoritos, por serem feitos de metais como titânio, bronze, aço e alumínio, elas cortam e queimam, uma vez que reentraram a atmosfera, no caso de naves, ou se chocaram contra o solo e retorceram e pegaram fogo.

Fora o perigo da fumaça e de propelentes como hidrazina, combustível de foguetes e satélites. "Podem intoxicar, provocando quadros leves, como náuseas, dor de cabeça, a manifestações graves, como desmaios e convulsões", adverte Cíntia Maria de Melo Mendes, toxicologista do centro universitário Uninovafapi, da Afya Educacional, no Piauí.

No caso da hidrazina, ela ainda é potencialmente corrosiva e pode causar danos permanentes a tecidos e sistema nervoso.

Veio do alto, faça o seguinte...

Se com lixo normal não se brinca, que dirá com espacial. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) orienta que nessas situações, diante do que parece uma fuselagem, um destroço orbital, se isole imediatamente a área da queda, mantenha distância e acione os bombeiros (193).

Até pode ser que o objeto esteja totalmente inerte, mas é melhor não arriscar e confiar em especialistas com equipamento adequado para fazer sua remoção.

Se já manipulou e mantém guardado algo que parece não ser da Terra ou que não deveria ter caído no seu quintal, enquanto não o encaminha —ou uma amostra sua— para uma instituição científica (universidade pública, museu) proteja esse achado em um local seco e seguro com um pano, lona ou papel resistente, a depender de seu tamanho.

Meteorito - Natural History Museum - Natural History Museum
Imagem: Natural History Museum

Se possível, também registre exatamente o ponto em que ele foi encontrado, para ajudar o trabalho dos pesquisadores.

Por fim, havendo qualquer sintoma (alteração de equilíbrio, frequência cardíaca, respiração, além de náuseas, irritação de pele e mucosas), após um contato com algo cuja origem se desconheça, procure um pronto-socorro o quanto antes.

"É preciso agir contra o tempo para prevenir efeitos colaterais permanentes ou mesmo morte, por intoxicação, asfixia ou agentes corrosivos", faz o alerta Ricardo Cantarin, infectologista do Hospital HSANP, em São Paulo.