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Óleo de algodão é alternativa no preparo de alimentos; veja benefícios

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Cecilia Felippe Nery

Colaboração para o VivaBem

15/12/2021 04h00

Com baixo teor em gordura trans, o óleo de algodão é uma alternativa para o óleo de soja, milho ou canola tradicionais, e vem conquistando o interesse do consumidor. Tem um gosto mais forte que ajuda a realçar o sabor dos alimentos, e é fonte de ômega 6, ômega 9 e vitamina E, que atua no organismo como um forte antioxidante e anti-inflamatório. Além disso, vem sendo largamente usado como uma forma de biocombustível.

O óleo de algodão é derivado das sementes Gossypium hirsutum (americano) ou Gossypium barbadense (egípcio) e é originário da Índia. Ele é extraído a partir da semente da planta de algodão, e não da fibra (utilizada na produção de tecidos e outros objetos), como explica a médica endocrinologista Maria Edna de Melo. "As sementes são descascadas e o miolo é prensado até liberar o óleo", acrescenta.

Para entender melhor, o processo de obtenção do óleo consiste na abertura do caroço de algodão para a captura do grão e seu posterior esmagamento, do qual será extraído o óleo por prensa hidráulica ou extração química. Ele apresenta uma coloração escura, que é clarificada por meio de refino técnico, sendo esta a fase de maior importância na determinação da qualidade e da estabilidade do produto final. Por isso, é submetido a três etapas para a total clarificação.

O óleo de algodão é composto por ácido linoleico (49 a 58%), ácido oleico (15 a 20%), ácido palmítico (22 a 26%), além de ácido beénico e ácido lignocérico/ácido araquídico (10%). Sua composição é rica em tocoferois, que são uma excelente fonte de vitamina E, antioxidantes e ácidos graxos insaturados e saturados.

Ele é mais saudável?

Comparativamente ao óleo de soja, um dos mais utilizados, o óleo de algodão possui em média mais gordura saturada (26% contra 15%), menos gordura poli-insaturada (54%, enquanto o de soja tem 61%) e um pouco menos de gordura monoinsaturada (19%, e o de soja tem 24%).

Por outro lado, o óleo de algodão atua no organismo como um forte antioxidante, além de ser anti-inflamatório. "Vale destacar também que o óleo de algodão fortalece o sistema imunológico por ser rico em vitamina E", pondera a nutricionista Vera Lúcia Morais Antonio de Salvo.

Óleo/ Azeite - iStock - iStock
Óleo de algodão tem cor dourada e o sabor se assemelha ao da castanha
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Apesar de ser boa fonte de nutrientes, para Melo, isso não quer dizer que o óleo de algodão é mais saudável que o de soja, porque tem mais gordura saturada.

Além disso, a endocrinologista afirma que as gorduras vegetais, em geral, tendem a ter uma composição nutricional boa, sendo fonte de energia e gorduras boas que estão associadas a menor risco cardiovascular. "Entretanto, é fundamental lembrar que óleos são gorduras, macronutriente com maior quantidade de calorias e um consumo maior levará ao aumento de peso", adverte.

A palavra-chave, como sempre, é moderação —você não precisa ter medo de gordura. A nutricionista Eva Débora de Oliveira Andrade aponta que em uma colher (sopa), cerca de 13 ml, o óleo de algodão apresenta 120 kcal; já no teor de gorduras, destaca-se por conter um alto valor de poli-insaturadas (7,1 g), que apresentam benefícios à saúde. "Junto com os nutrientes, é um tipo de gordura bem interessante, porém é preciso parcimônia em seu consumo, nenhum excesso é benéfico", diz.

Como consumir

Por ter um ponto de fusão maior se comparado a outros óleos, o de algodão pode ser utilizado para fazer frituras até cerca de 180ºC antes de perder nutrientes e qualidade. "Por sua característica mais densa, não encharca os alimentos, deixando-os mais crocantes. Rende quatro vezes mais, por sua estabilidade, o que aumenta seu custo-benefício", garante Salvo.

Para se ter uma ideia, a redução no consumo do óleo chega de 50% até 70% em relação ao de soja, e de até 50% em relação às gorduras vegetais hidrogenadas.

O óleo de algodão pode ser utilizado também no preparo de carnes, legumes e verduras para refogar. Ainda em receitas como pães, bolos, molhos e refogados. Por ter um sabor mais forte do que os outros, semelhante à castanha, aconselha-se sempre utilizá-lo em receitas que serão refogadas e assadas, evitando as preparações cruas.

Deve ser usado em pequenas quantidades, cerca de duas colheres (de sopa) por dia para cada pessoa. O ideal é que seja alternado com o uso de gorduras mais saudáveis, como o azeite e o óleo de linhaça.

Para o consumo, prefira sempre a versão orgânica, que é mais saudável, pois contém gorduras poli-insaturadas e monoinsaturadas, além de vários outros antioxidantes. Verifique também se o óleo foi refinado, pois se não foi, pode conter uma substância tóxica chamada gossipol, que não pode ser digerida pelos seres humanos. Para quem não está habituado ao consumo, convém acrescentar à alimentação aos poucos até se acostumar.

Óleo de algodão em frasco pequeno - TolikoffPhotography/IStock - TolikoffPhotography/IStock
Ele é mais resistente a altas temperaturas, sem perder qualidade e nutrientes
Imagem: TolikoffPhotography/IStock

Contraindicações

Como qualquer óleo, o de algodão possui alta densidade energética. "Como destacado, conta com uma boa quantidade de gordura saturada, assim o uso moderado é indicado para não aumentar o peso e não anular os efeitos benéficos sobre a saúde cardiovascular, especialmente se usado em frituras de imersão", recomenda Salvo.

Melo concorda e ressalta que a restrição está mais relacionada com a quantidade, por conta da possibilidade do aumento de peso. "Em dietas de emagrecimento, por exemplo, não existe a recomendação na literatura médica para seu uso. Essa prática não é baseada em evidência científica, aliás, o consumo exagerado pode até levar ao ganho de peso", assegura.

Importante destacar que a versão não processada pode conter mais de 70% de gorduras insaturadas. O hidrogenado é extremamente rico em gorduras saturadas, que têm efeitos colaterais negativos sobre o corpo. Isso acontece porque o processo de hidrogenação altera o perfil de ácido graxo, o que significa que as gorduras monoinsatuadas aumentam. Por isso, é melhor evitar.

Salvo lembra que nenhum alimento, isoladamente, deve ser visto como mágico, um superalimento, ou ainda demonizado. "É importante observar, como diria o médico argentino Pedro Escudero, nas famosas Leis da Alimentação, a quantidade, a qualidade, a harmonia e a adequação dos alimentos no conjunto, em uma refeição, sem radicalismos".

Convém destacar que o uso de produtos químicos nas plantações de algodão tem levantado muitas preocupações sobre a segurança do uso de óleo de algodão. "Porém, é preciso considerar que nem todos são feitos da mesma maneira, optando-se, se possível, pela versão orgânica", orienta Andrade.

Estudos e pesquisas

Em um estudo, pesquisadores da University of Georgia, em Atenas, na Grécia, descobriram que adicionar óleo de semente de algodão a uma dieta rica em gordura pode ser efetivo para a diminuição dos níveis de colesterol "ruim" (LDL). Comparada a uma dieta com azeite, a com óleo de algodão manteve o nível de LDL mais baixo (cerca de 15% a menos) e triglicérides (cerca de 30% a menos). Quem consumiu azeite não teve mudanças significativas. Entretanto, o grupo analisado foi pequeno (15 participantes).

Uma revisão, por exemplo, já mostrou que os estudos não são suficientes para recomendação populacional.

Fontes: Eva Débora de Oliveira Andrade, nutricionista e mestranda em nutrição pelo Programa de Pós-graduação em Nutrição da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Maria Edna de Melo, médica endocrinologista, presidente do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Vera Lúcia Morais Antonio de Salvo, nutricionista, conselheira do CRN-3 (Conselho Regional de Nutrição - 3), pós-doutora em saúde coletiva pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o óleo de algodão tem quantidades insignificantes de ômega 3. A informação foi corrigida.