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Mieloma múltiplo: entenda o câncer raro que matou Cristiana Lôbo

Reprodução/Globo News
Imagem: Reprodução/Globo News

Giulia Granchi

Do VivaBem, em São Paulo

11/11/2021 10h23

Após um longo tratamento contra o mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer, a jornalista e colunista de política Cristiana Lôbo, 64, morreu nesta quinta-feira (11). Seu estado de saúde piorou após ela ter uma pneumonia. Ela estava sendo tratada no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O que é o mieloma múltiplo

É um tipo de câncer na medula óssea —tecido encontrado no interior dos ossos (tutano) e responsável por produzir as células sanguíneas.

A doença, que não tem cura, causa um processo de alteração genética das células sanguíneas chamadas de linfócitos de célula B, fazendo com que ocorra uma proliferação anormal e descontrolada. "Com o acúmulo, a medula vai sendo invadida. Quando o câncer se instala e vai progredindo, as células fabricam substâncias que danificam diretamente os ossos", explica o oncologista André Murad, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

A fraqueza óssea causada pela doença, aponta o professor, constantemente causa fraturas patológicas, osteoporose e, em geral, um processo de destruição dos ossos, que faz com que o tecido comece a liberar cálcio no sangue.

"O excesso do cálcio no organismo pode provocar uma série de problemas, como alterações musculares, perda de apetite, constipação, confusão mental e até insuficiência renal. Muitas vezes se torna uma emergência médica", esclarece o especialista.

Como é um câncer que afeta células produtoras de proteínas, pode também levar o aumento de produção dessa substância, deixando o sangue muito viscoso e impactando na circulação sanguínea em algumas áreas, como por exemplo no cérebro, rins e pulmões.

Outro problema causado pelo mecanismo da doença é a diminuição de produção das outras células, como glóbulos vermelhos, o que costuma levar à anemia e causar sintomas como fraqueza e tontura.

"Além disso, a baixa produção de glóbulos brancos, como os neutrófilos, pode prejudicar a imunidade e facilitar infecções", aponta Murad.

"Embora seja considerado raro, ele é o segundo tipo de câncer sanguíneo mais frequente na população", explica o oncologista. Estima-se, de acordo com dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer), que 7.600 brasileiros recebam o diagnóstico por ano. Geralmente, os acometidos são pessoas com 65 anos ou mais.

Entre os principais sintomas estão dor óssea, anemia e insuficiência renal. "80%, 90% dos pacientes têm dores ósseas. 60% apresentam anemia por conta da infiltração na medula, que atrapalha na produção de toda parte vermelha do sangue", explica Vania Hungria, diretora médica da clínica São Germano (SP), professora de Hematologia da Santa Casa de São Paulo e cofundadora da IMF Latin America.

Além disso, 20% dos pacientes também podem apresentar insuficiência renal. Por essa variedade de sintomas, o diagnóstico pode demorar. "As pessoas acham que dor nas costas é porque dormiu mal ou sentou errado. Por isso, [os médicos] não pedem exames e o paciente, muitas vezes, demora para ter diagnóstico porque ninguém pensa na possibilidade de ser um mieloma", diz.*

Diagnóstico

Exames específicos de sangue e de urina são usados tanto para diagnóstico, como para estadiamento e acompanhamento do tratamento. Os testes são capazes de medir níveis de cálcio e alterações nas proteínas monoclonais produzidas pelos plasmócitos doentes no sangue e na urina.

A punção de medula também deve ser pedida e, como o mieloma múltiplo pode causar tumores nos ossos ou nos tecidos moles ao redor deles, uma biópsia desses tumores também pode ser necessária.

A avaliação por exames por imagem também integra a lista de procedimentos para diagnóstico desse tipo de câncer, entre eles raios X, densitometria óssea, ressonância magnética, tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT) e tomografia.

Tratamento

São várias as opções de medicamentos que compõem o tratamento do mieloma múltiplo, desde drogas impedem o processo de replicação da célula, alvo moleculares, até imunomodulares.

Uma delas é o transplante de medula óssea autólogo (quando a medula transplantada é a do próprio paciente) que, a depender de fatores como o estadiamento da doença e condições físicas do paciente, pode ser a primeira opção de tratamento.

*Com informações do Hospital A.C. Camargo e da reportagem de Luiza Vidal