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Rinoplastia é considerada uma das cirurgias plásticas mais complexas

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Imagem: iStock

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

19/10/2021 04h00Atualizada em 25/10/2021 12h00

Resumo da notícia

  • A rinoplastia está entre os mais populares procedimentos cirúrgicos de todo o mundo
  • Para além do objetivo estético, a técnica pode melhorar a funcionalidade das vias aéreas
  • Tem custo variado e, por ser estética, em geral, não tem cobertura total do convênio médico
  • É o procedimento mais feito em pessoas com idade inferior a 18 anos

No mundo todo, a preocupação com a estética do nariz colocou a rinoplastia —cirurgia plástica que esculpe o nariz e ainda pode melhorar a função das vias aéreas— entre os 5 procedimentos mais populares, principalmente entre os jovens.

Com a pandemia, que promoveu a maior exposição às telas do celular e do computador, o rosto ficou ainda mais em evidência e os médicos já observam um maior interesse por esse procedimento em seus consultórios.

Na maioria das vezes esse paciente é do sexo feminino, tem idade entre 19 e 34 anos, mas segundo dados (2019) da Isaps (sigla em inglês para Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), pessoas com 18 anos ou menos continuam sendo as que mais se submetem à rinoplastia. Aliás, o Brasil é o segundo país onde ela é mais realizada.

Independente da faixa etária, antes de decidir por esse procedimento, é preciso saber que ele é considerado uma das práticas mais complexas da cirurgia plástica, mesmo quando realizada por um médico experiente. A razão para isso é que cada nariz é único, e não existe um padrão que sirva para todos.

Além disso, a obtenção de resultados consistentes depende de fatores como variações anatômicas internas, tecidos, cicatrização, entre outros.

Apesar disso, os especialistas garantem que quando a cirurgia é bem indicada, as expectativas são realistas e há paciência em respeitar todos os tempos e passos da recuperação, a recompensa é um resultado favorável.

Quando ela é indicada?

A otorrinolaringologista Luciana Carolina Peruzzo Kokubo, professora da disciplina de otorrinolaringologia do curso de medicina da UFPR, diz que, além do objetivo estético, a rinoplastia pode ser indicada como tratamento para problemas funcionais, embora seja possível combinar os dois objetivos.

Entre as causas funcionais que admitem essa estratégia terapêutica se destaca o desvio de septo, além da hipertrofia dos cornetos, a famosa carne esponjosa. Muitas vezes, o otorrino e o cirurgião plástico trabalham juntos, mas também podem fazê-lo de forma separada.

Seja para a correção estética, seja para melhora da função local, o procedimento só deve ser realizado quando todas as cartilagens e estruturas do nariz estiverem completamente desenvolvidas, o que acontece por volta dos 15 anos (mulheres) e 17 anos (homens).

Quais são as mudanças mais buscadas?

As estruturas classicamente modificadas por meio da rinoplastia são as seguintes:

Ponta do nariz - as pessoas se referem a ela como bolinha ou batatinha, o que caracteriza a ponta bulbosa ou caída;

Dorso nasal - região que começa na testa e termina na ponta do nariz: olhando de perfil, ele pode ser elevado (giba) e ter a forma de uma corcova de camelo;

As outras alterações buscam adequar o tamanho do nariz às estruturas da face, a largura do dorso nasal, as narinas, assimetrias, bem como algum desvio.

Saiba quais são as contraindicações

Algumas situações contraindicam o procedimento, como, por exemplo, a presença de doenças crônicas (cardiovasculares, obesidade ou diabetes descompensado), além de estados de instabilidade emocional decorrentes de situações da vida como a morte de um ente querido, ruptura de relacionamentos e até depressão. Enquanto perdurarem esses quadros, a rinoplastia não deve ser realizada.

Apneia do sono, uso de cocaína e tabagismo também podem impedir o procedimento, dado o potencial para complicações.

E há, ainda, uma contraindicação absoluta: a presença de um distúrbio psiquiátrico, o TDC (Transtorno Dismórfico Corporal), que faz com que a pessoa tenha uma percepção equivocada da própria imagem. Os especialistas afirmam que 5% dos pacientes de cirurgias plásticas podem ter esse perfil.

Caso o médico conclua pela inexistência das alterações descritas pelo paciente, mesmo após a análise objetiva do seu nariz, considerada a relação entre parâmetros matemáticos, angulação e posicionamento de suas estruturas, a cirurgia não pode ser feita.

Possíveis riscos da cirurgia

A maioria dos procedimentos não apresenta complicações. Quando elas se manifestam, as mais comuns são:

Riscos anestésicos
Sangramento
Assimetria do nariz
Cicatrizes (ou má cicatrização)
Ruptura de pequenos vasos
Infecções
Inchaço prolongado
Alterações nas vias áreas
Necessidade de novo procedimento cirúrgico

O seu nariz é único

A rinoplastia é considerada uma das cirurgias mais desafiadoras que existe, uma das razões para isso é a sua limitada previsibilidade, além da grande variabilidade anatômica dos narizes.

Antes do procedimento, os pacientes devem estar cientes de que o nariz é uma estrutura dinâmica que, após a cirurgia, estará sujeita à ação de 5 forças: o peso da pele, o tecido da cicatrização, a respiração, a manipulação e a musculatura da região.

Depois da intervenção e por toda a vida, todas elas agirão em cima do nariz, o que tende a modificar o seu resultado. Sabendo disso, o cirurgião deve ser hábil na construção de uma escultura reversível, consistente e durável para que a nova estrutura dure até o fim da vida da pessoa.

O que acontece durante a cirurgia?

Os especialistas consultados afirmam que é preferível que o procedimento seja realizado em ambiente hospitalar, dada a maior segurança que ele confere ao paciente.

Após as práticas pré-operatórias indicadas pelo seu médico, você será encaminhado ao centro cirúrgico. Existem várias técnicas possíveis, mas todas elas terão o seguinte passo a passo:

1. Anestesia - ela poderá ser geral (a mais indicada) ou local, que é associada à sedação do paciente;

2. Incisão - o corte pode ser na parte externa ou interna do nariz ou combinar as duas regiões. Na sequência, toda a pele é levantada, o que permite que se chegue à sua parte interna e às suas estruturas ósseas e cartilaginosas;

3. Correções das estruturas do nariz - o trabalho do médico envolve a manipulação de tecidos para correção (raspagem/corte/quebra dos ossos e/ou ressecção da cartilagem/corte/mudança de posição/enxerto);

4. Fechamento da incisão - uma vez efetuadas todas as alterações necessárias, a pele volta ao seu lugar, dão-se os pontos, colocam-se os curativos e o paciente é encaminhado para a recuperação. Na maioria das vezes, o paciente pode voltar para casa no mesmo dia.

O que esperar do pós-operatório?

É comum sentir uma sensação de peso, ter inchaço, além de dificuldade respiratória porque as regiões por onde o ar passa foram manipuladas. A boa notícia é que esse mal-estar é transitório. Em 2 ou 3 dias já será possível observar alguma melhora. E passada 1 semana —quando haverá a retirada dos pontos— o bem-estar geral será notório.

Geralmente não há queixa de dor no pós-operatório, mesmo quando há necessidade de fratura óssea. Isso porque o nariz permanece estabilizado pelos curativos e o paciente estará medicado com analgésico e anti-inflamatório.

Muitos médicos adotam o esquema de retorno após 1 ou 2 semanas da intervenção para avaliação geral, e também no 30º dia posterior ao evento, quando poderão ser visualizados os primeiros resultados da intervenção, mas serão melhor observados somente após 6 meses.

Saiba como colaborar com a recuperação

A melhor forma de garantir um pós-operatório tranquilo é acatar as recomendações de seu médico, especialmente evitando todo tipo de esforço físico nos primeiros 7 dias seguintes à cirurgia —e isso inclui pegar crianças no colo e levantar peso. A medida previne o sangramento. Exercícios físicos também entram nessa lista. Na maioria das vezes é preciso esperar 2 semanas para retomá-los.

Outra medida importante é evitar a exposição ao sol, considerada prejudicial para cicatrizes recentes e pode deixá-las pigmentadas. Caso tenha de sair de casa, use filtro solar e chapéu. Praia e piscina estão proibidas até que seu médico o libere.

A depender do tipo de atividade profissional, a volta ao trabalho pode se dar no dia seguinte, caso você trabalhe em esquema de home office e não se incomode em se expor nas telas com curativo e hematomas.

A cirurgia pode ter de ser refeita?

Pedro Coltro, professor da disciplina de cirurgia plástica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, explica que quando o objetivo da rinoplastia é meramente estético, o procedimento visa alcançar um resultado belo, delicado e natural, que não chame a atenção. Segundo o especialista, o segredo é a sutileza, porque resultados muito chamativos são tidos como ruins.

"Considerando esse fator e também a complexidade da rinoplastia, cujo desenlace não depende apenas das habilidades do cirurgião, pode, sim, ser necessário algum procedimento complementar. Mas isso só acontecerá após o decurso do prazo de 6 a 12 meses, quando será possível fazer uma avaliação mais precisa do resultado", diz o cirurgião.

Alguns médicos podem até fazer o procedimento antes, mas o paciente deve ser esclarecido sobre os processos internos de cicatrização, que nesse período ainda deixam o nariz muito endurecido, o que poderia dificultar a nova cirurgia. "Ser paciente e aguardar 1 ano passar facilitará a nova abordagem", conclui Coltro.

Como escolher o cirurgião

Muitos profissionais que não são cirurgiões plásticos nem otorrinolaringologistas se propõem a fazer esse procedimento. No entanto, a falta de treinamento adequado aumenta —e muito— o risco de resultados catastróficos. Lembre-se que uma rinoplastia mal feita pode impossibilitar uma posterior correção.

A sugestão dos especialistas é que você esteja atento à capacitação do médico. Ele deve ser membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) ou da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), que exige do médico treinamento adequado, além de uma avaliação para certificá-lo.

Sugere-se ainda conhecer o histórico do cirurgião, sua experiência e trajetória profissional. Todas essas precauções elevam as chances do sucesso da rinoplastia.

Quanto ao preço, ele varia a depender da qualificação e experiência do profissional da saúde e, em geral, esse valor não é coberto totalmente pelos convênios médicos. Alguns deles poderão oferecer reembolso, que quase nunca é total. E mesmo que ela seja realizada pelo otorrinolaringologista, a cobertura poderá se limitar apenas à parte funcional.

Importante ressaltar que cirurgias secundárias —indicadas para a correção de resultados não satisfatórios de procedimentos anteriores— na maioria das vezes tem custo elevado porque são mais trabalhosas e complexas.

Fontes: Alan Landecker, cirurgião plástico e membro titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), especialista em rinoplastia pela Universidade do Texas Southwestern (Estados Unidos); Luciana Carolina Peruzzo Kokubo, médica otorrinolaringologista com mestrado em ciências médicas pela UnB (Universidade de Brasília) e professora da disciplina de otorrinolaringologia do curso de medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná, campus Toledo); Pedro Coltro, professor de cirurgia plástica da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), membro titular da SBCP e especialização pelas Universidades Harvard e Yale (Estado Unidos). Revisão técnica: Pedro Coltro.

Referências: SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica); American Society of Plastic Surgeons; Fichman M, Piedra Buena IT. Rhinoplasty. [Atualizado em 2021 Jun 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK558970/.