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Saiba como imunidade infantil se desenvolve e como reduzir risco de doenças

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Imagem: PeopleImages/iStock

Alexandre Raith

Colaboração para VivaBem

12/10/2021 04h00

Combater invasores que podem atacar o nosso organismo, disseminar vírus e bactérias e desenvolver uma série de doenças. Não, essa não é a missão de um herói de um filme de ficção científica, mas do sistema imunológico. Ele é formado por um conjunto de órgãos, tecidos e células que nos protegem de possíveis infecções causadas pela entrada de agentes estranhos em nosso corpo. A pele, por exemplo, é a maior e uma das primeiras linhas de defesa.

Para cumprir sua função, o sistema imunológico reage com a produção de anticorpos. Tal resposta é classificada de duas formas: a inata, que está pronta desde o nascimento e é ativada independentemente de contato prévio com o microrganismo invasor, e a adaptativa, que cria células de memória após o reconhecimento do antígeno (substância estranha ao organismo).

Por isso, crianças mais velhas, que já tiveram contato com diversos patógenos ao longo da infância, apresentam uma proteção mais eficiente que os recém-nascidos.

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Tudo começa no útero

A maturidade imunológica faz parte de um longo processo. Durante a gestação, a imunidade do feto decorre da corrente sanguínea da mãe, e no parto vaginal o sistema imune entra em contato com as bactérias benéficas. Já após o nascimento, a responsabilidade fica por conta do leite materno, sobretudo, nos primeiros seis meses de vida. Depois desse período, a incumbência cabe às vacinas.

Tal sequência explica as alterações que acontecem no sistema imunológico, que somente estará completo no início da adolescência. Mas como se desenvolve, de fato, a imunidade das crianças?

Do nascimento aos seis meses de vida, o bebê ainda não tem imunidade suficiente e, por isso, está mais suscetível a infecções —o risco é maior quando é menor o período gestacional, uma vez que o feto é dependente da transferência materna de anticorpos.

Para desenvolver a imunidade e combater bactérias, vírus e outros agentes, o recém-nascido precisa fundamentalmente por seis meses do leite materno, rico em anticorpos, enzimas e proteínas. Além disso, a sua composição varia a cada mamada, o que permite que a lactação forneça uma diversidade nutricional de estímulos imunológicos.

O período de seis meses é suficiente para que o bebê continue ao longo do crescimento adquirindo a capacidade de promover a tolerância imune e apresentar uma adequada e progressiva resposta imunológica.

Vacina oral para criança - aquaArts studio/iStock - aquaArts studio/iStock
Imagem: aquaArts studio/iStock

O papel das vacinas

Finalizado o tempo mínimo de amamentação, o desenvolvimento imunológico da criança passa a depender da ciência. O bebê ainda apresenta imaturidade devido à ausência natural de alguns anticorpos, que não passam pela placenta nem pelo leite materno. É neste momento que entram as vacinas.

A imunização estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos contra os microrganismos presentes nas vacinas. Portanto, o cumprimento do calendário vacinal é sinônimo de defesa, ou seja, é a formação de uma barreira de proteção que impedirá que a criança se contamine com agentes infecciosos agressivos.

Do nascimento aos 9 anos de idade, a criança deve se vacinar contra tuberculose, hepatite B, rotavírus, difteria, tétano, coqueluche, meningite, febre amarela, sarampo, entre outras tantas. A lista completa de imunizantes (do recém-nascido ao idoso), a idade indicada e a quantidade de doses recomendada, inclusive as de reforço, estão disponíveis no calendário de vacinação do Ministério da Saúde.

É importante estar atento às datas estipuladas para cada fase da vida, pois a criança pode ter reações adversas caso se vacine antes do período recomendado. Vale lembrar que a vacina é uma forma segura de se prevenir contra doenças e evitar que as enfermidades já erradicadas voltem a circular entre a população. Os imunizantes que constam no calendário do Ministério da Saúde estão disponíveis gratuitamente nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Criança após tomar vacina - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Como reduzir o risco de doenças

Atingir a maturidade imunológica é o segredo para diminuir o risco de a criança adoecer, e o período mais importante de desenvolvimento do sistema imune compreende da gestação até o segundo ano de vida. Isto é, desde a dieta da mãe durante a gravidez, passando pelo aleitamento materno e a alimentação do bebê, que deve ser integral, natural e rica em fibras, até a vacinação e o contato com outras crianças e agentes infecciosos.

Hábitos saudáveis do dia a dia também ajudam a ampliar a imunidade da criança. Algumas recomendações são:

  • Aleitamento por seis meses: o leite materno é rico em anticorpos e outras substâncias que protegem o bebê contra uma variedade de doenças e infecções;
  • Cobertura vacinal: as vacinas estimulam a produção de anticorpos e preparam o sistema imune para se defender contra agentes invasores;
  • Alimentação: a dieta rica em nutrientes, como vitaminas e sais minerais, fortalece o organismo;
  • Atividade física: a prática de exercícios moderados e regulares na idade escolar influencia positivamente a maturação imunológica;
  • Dormir bem: boas horas de sono e o controle do estresse permitem que a ansiedade não interfira no funcionamento adequado do sistema imune;
  • Higiene: lavar as mãos antes de levá-la à boca, nariz e olhos

Sinais indicam deficiência imunológica

As imunodeficiências primárias representam um conjunto de enfermidades genéticas que se manifestam principalmente na infância devido a falhas do sistema imunológico. Entre as mais comuns estão a deficiência de IgA (infecções recorrentes ou doenças autoimunes), que pode ser assintomática e ocorre em uma de cada 500 pessoas, e a doença de Brutton ou hipogamaglobulinemia, caracterizada pela falta de anticorpos.

As imperfeições imunológicas podem provocar também doenças de autoimunidade —o sistema não reconhece e agride células e tecidos de si próprio—, e alérgicas, em que a criança responde de forma exagerada a estímulos do ambiente, como alérgenos de ácaros e epiderme de animais. Mas não se preocupe por antecipação.

Algumas imunodeficiências graves são identificadas no teste do pezinho. O exame deve ser realizado em todas as crianças recém-nascidas, a partir de 48 horas de vida até 30 dias do nascimento. De qualquer forma, diversos sinais são indicativos:

  • Mais de seis resfriados por ano em uma criança de até 5 anos de idade;
  • Repetidas infecções respiratórias (pneumonia, sinusite, otite) e graves (meningoencefalite, osteomielite), além de sérias doenças alérgicas;
  • Estomatites constantes ou monilíase (sapinho) por mais de dois meses;
  • Abcessos de repetição ou ectima (infecção de pele com formação de pus);
  • Diarreia crônica;
  • Efeito adverso à vacina BCG;
  • Diabetes mellitus ou outras doenças autoimunes;
  • Cardiopatia congênita;
  • Atraso na queda do cordão umbilical;
  • Hipocalcemia (baixo nível de cálcio no sangue);
  • Histórico familiar de abortos ou de irmãos que apresentaram infecções graves com óbito, além de pais e parentes com imunodeficiência.
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Rito de passagem

A fase de transição da infância para a adolescência não é marcada por uma grande transformação, no que diz respeito ao sistema imunológico, uma vez que as células, as proteínas e os órgãos são os mesmos. No entanto, graças à cobertura vacinal completa até esta fase da vida, a imunidade adaptativa está mais desenvolvida e, portanto, o organismo é capaz de reconhecer e combater os agentes infecciosos com mais eficiência.

Por esses motivos, na adolescência, geralmente em torno dos 12 anos de idade, ocorre a finalização da maturação imunológica, quando o desenvolvimento do sistema imune chega à completude para responder aos estímulos externos e agentes agressores

Fontes: Leonardo Oliveira Mendonça, coordenador do Centro de Doenças Raras e da Imunidade do Hospital Nove de Julho (SP); Renata Guardiano Dias, imunologista do Hospital da Criança da Rede D'Or São Luiz (SP); Fernanda Pontin Calvo, imunologista do Hospital da Criança da Rede D'Or São Luiz; Emanuel Sarinho, professor titular da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia) e Ministério da Saúde.