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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Vai limpar a casa? Faxina é benéfica à saúde, mas excessos podem fazer mal

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

21/09/2021 04h00

Tirar pó dos móveis, aspirar tapetes, trocar roupas de cama e colocá-las para lavar, passar pano. Limpar a casa dá trabalho! Por um lado, ao final, o ambiente fica limpinho, organizado e cheiroso, não é mesmo? Mas atenção, os médicos alertam que existe uma linha tênue entre se dedicar para manter tudo impecável e se dedicar a ponto de causar problemas para a saúde.

O corpo, em diferentes sistemas, tem um limite e dá sinais claros de que está chegando lá. É importante se atentar a eles para evitar um "colapso". Porém, isso não é desculpa para não cuidar do seu lar, até porque falta de higiene e bagunça também fazem mal. Se você está em um desses extremos, entenda a seguir a importância de se chegar a um ponto de equilíbrio.

Não apenas a casa se beneficia

Faxina, limpeza, pano - iStock - iStock
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Sabia que faxinar traz muitos benefícios para o psicológico e as emoções? Quem garante é Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Segundo ele, limpar e arrumar as próprias coisas e se desfazer do que não serve mais, aciona lembranças afetivas e ajuda na tomada de decisões e a aceitar o novo. Além disso, melhora a concentração, reduz ansiedade e estresse e desperta o senso de responsabilidade.

Também é um estímulo para se ouvir música, que ativa diferentes áreas cerebrais. "Animada, ela torna os afazeres mais descontraídos, combate a depressão e estimula o lado artístico e criativo [ótimos para se decorar a casa]. Ficamos mais bem-humorados e eficientes", afirma o psiquiatra, complementando que faxina é sinônimo de "economia de tempo" e contribui para acordar cedo, ajustar o relógio biológico, aproveitar melhor o dia de sol e concluir pendências.

Para o físico há ainda muitas vantagens. Não somente se elimina poluentes, pelos de animais e microrganismos (ácaros, vírus, bactérias) danosos para vias aéreas, olhos e pele, como serve de exercício.

Com cuidados, postura e alongamento prévio é possível queimar até mil calorias em 1 hora e 30 minutos de limpeza e isso sem precisar levar o organismo à exaustão. Entre as atividades que fortalecem músculos estão: varrer, esfregar, lavar louça e roupa e passar ferro.

Com o exagero, danos

Limpeza de vaso sanitário - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Agora, se na academia quem extrapola nos treinos se dá mal, com os "viciados" em faxina não seria diferente. Felipe Gargioni Barreto, neurocirugião especialista em cirurgia da coluna pela EPM Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo), informa que arrastar móveis grandes, carregar excesso de peso e não usar corretamente os instrumentos de faxina (rodo, vassoura, aspirador) prejudica ossos, músculos e articulações.

Fazer isso com intensidade máxima e sem pausas é ainda pior. "Começa-se a ter dores, câimbras, tendinites, fadiga muscular e, com o tempo, se não tratadas, podem agravar e ocasionam desvios posturais, contraturas, torções, lesões, inflamações na altura do nervo ciático e crise de hérnia de disco", enumera Barreto.

Fazer faxina todos os dias também pode agredir os pulmões tanto quanto fumar. Publicado no periódico científico Society's American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, um estudo de 2018 da Universidade de Bergen, na Noruega, e que levou mais de duas décadas para ficar pronto, concluiu que as funções respiratórias ficam tão comprometidas por produtos de limpeza que é como se as pessoas, sobretudo mulheres, fumassem 20 cigarros por dia.

"Produtos não fabricados profissionalmente, sem rótulos, e misturas caseiras de água sanitária com desinfetante, ou com detergente, vinagre e água oxigenada também oferecem enormes riscos de lesões nos tratos digestivo e respiratório. Pode se perder o olfato e até induzir bronquites e asma", alerta Cícero Matsuyama, otorrinolaringologista do Hospital Cema, em São Paulo.

Saúde e faxina em equilíbrio

É possível cuidar da casa no dia a dia e sem precisar se arruinar por ela. Primeiro, reveja seus hábitos de rotina. Chegou da rua? Guarde o que for necessário nos lugares certos (brincos, carteira, relógio, papéis) e coloque a roupa suja direto no cesto para lavar, assim você evita suas coisas espalhadas por todos os cômodos.

Ao acordar, arrume a cama e, antes de sair, lave a louça do café ou do jantar e separe e jogue fora o lixo acumulado.

Fazer uma lista de afazeres (incluindo os individuais) ajuda você a se organizar e com apoio. E para que a faxina não fique concentrada aos finais de semana, quando queremos descansar, busque separar um dia, entre segunda e sexta-feira, para limpar ou ajeitar superficialmente os locais que estejam mais "críticos". Por exemplo, o vaso sanitário, ou a geladeira, o seu quarto.

Limpeza de fogão - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

Se você é do tipo que, se deixar, limpa tudo todos os dias e só percebe os estragos à saúde no dia seguinte, ou ao passar muito mal, aqui vão sinais de que está exagerando: tontura, perda de força, concentração e equilíbrio, enjoos, espasmos, estresse, aceleração do coração e da respiração, lentificação da coordenação motora, visão turva e calor exagerado.

Sobre as complicações musculoesqueléticas, Barreto orienta evitar posições inclinadas para frente ao limpar, preferindo a postura ereta, com ombros para trás, e ainda ao se abaixar, dobrando joelhos e quadris. "Cabos de vassoura e rodo precisam ficar acima dos ombros para não sobrecarregá-los e curvar a coluna. Os cotovelos devem se flexionar próximo a 90 graus".

O uso de EPIs (equipamentos de proteção individual), como luvas, máscaras, óculos e botas, protegem de traumas e exposições químicas e infectocontagiosas. "Em especial, para limpar forros de telhados, calhas e metais enferrujados (onde há risco de tétano) e não andar descalço em áreas externas, que favorecem ferimentos e doenças como leptospirose, que pode matar", finaliza Moacir Jucá, médico infectologista da Rede D'Or, em Pernambuco.