Tudo bem não ser grato pelo ano que passou, mas sentimento faz bem à saúde

Há quem diga que 2020 demorou uma eternidade para acabar. As pessoas passaram o ano inteiro recebendo uma enxurrada de informação de todos os lados: pandemia, mortes, sequelas, crise econômica, isolamento social. Foi um ano difícil.

Neste cenário, praticar a tão falada gratidão não é tão fácil assim. Este foi um ano de muitas perdas, não só de familiares ou pessoas que conhecemos, mas também de costumes, hábitos. Nem todos conseguiram se recuperar do trauma, embora muitos se sintam "forçados" a serem gratos por estarem vivos.

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Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista, lembra que o sentimento de gratidão não deve ser forçado. "A gratidão não é uma tarefa, é algo que acontece dentro da gente. Não tem problema se eu não me sentir grato, porém, se eu conseguir, o meu organismo vai processar e melhorar o meu bem-estar".

De acordo com a psicóloga Mariana Luz, é normal não sentir gratidão em meio a situações difíceis, bem como não conseguir enxergar a "luz no fim do túnel". "A gratidão precisa ser uma escolha dentro das possibilidades da vida para aquelas pessoas que se sentem assim. Se você forçar, pode trazer impactos muito ruins, inclusive ansiedade e depressão", alerta.

A especialista enfatiza que está tudo bem você sentir o que tiver que sentir e lidar com isso. "Sentir-se grato é um processo de escolhas que a gente vai fazendo". Ela diz, ainda, que a individualidade precisa ser respeitada, sobretudo em situações adversas.

Sentir-se grato, quando natural, faz bem

Apesar de a tal da gratidão ser pregada de forma exaustiva nos últimos anos, ela realmente faz bem à saúde, quando sentida genuinamente. E há estudos que comprovam isso.

Um deles, realizado por cientistas da Universidade de Oregon e de Harvard (EUA), mostrou que a gratidão torna o cérebro mais altruísta. Por meio de exames de ressonância magnética, eles provaram que o sentimento inclina o sistema de recompensa do cérebro em direção a recompensas para os outros, não só para si mesmos.

Outro estudo, realizado por pesquisadores da Indiana University Bloomington (EUA), mostrou uma melhora significativa na saúde mental dos participantes, que estavam fazendo tratamento psicoterápico para depressão e/ou ansiedade, após escrever cartas de agradecimento.

Ao que parece, a gratidão faz com que o corpo libere serotonina, hormônio responsável pelo bem-estar, pois quando nos sentimos gratos, também estamos felizes. "É importante pensar que o autocuidado emocional ajuda a equilibrar esse hormônio", comenta a psicóloga clínica Mariana Luz.

Cultive gratidão pelas pequenas coisas

É fácil sermos gratos por grandes acontecimentos, como se curar de uma doença, passar em uma universidade, formar uma família ou comprar uma casa. Coisas simbólicas ou "menores" passam despercebidas, no entanto, os especialistas garantem que saber olhar para a simplicidade e as coisas boas do cotidiano é um bom caminho.

"Este ano não foi fácil, mas até ler esta matéria pode ser motivo para você ser grato a alguém ou a uma força maior por estar vivo", avalia Rita Khater, psicóloga, pedagoga e professora da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas). "Eu acho que uma prova de gratidão à vida é sobreviver a todas essas adversidades pelas quais nós passamos".

Seja qual for o motivo para agradecer, se for genuíno, fará bem.