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Projeto atendeu mais de 84 mil casos suspeitos de covid por vídeo, de graça

Missão Covid: mais de 84 mil atendimentos de casos suspeitos de covid-19 em 2020 - Divulgação
Missão Covid: mais de 84 mil atendimentos de casos suspeitos de covid-19 em 2020 Imagem: Divulgação

Giorgia Cavicchioli

Colaboração para VivaBem

28/12/2020 04h00

Era 20 de março de 2020 e o cardiologista Leandro Rubio conversava com alguns amigos sobre o que poderia ser feito para que ele pudesse ajudar a combater a pandemia do novo coronavírus, que estava começando a chegar ao Brasil. Foi assim que nasceu a Missão Covid (https://missaocovid.com.br/), uma plataforma online em que pessoas que estão com sintomas da doença podem fazer uma consulta com médicos voluntários via chamada de vídeo e de graça.

De acordo com ele, o principal objetivo do projeto é diminuir o número de pessoas que vão aos postos de saúde e desafogar o sistema. Para transformar sua ideia em algo concreto, o médico contou com a ajuda de um vizinho: Cristiano Kanashiro, CEO da GO.K. Ele topou cuidar da parte tecnológica do projeto e tudo ganhou forma.

Com ajuda de um especialista na área de desenvolvimento de sua empresa, Kanashiro criou um sistema intuitivo e de fácil acesso até para pessoas que não têm muita prática com internet. "O paciente faz um cadastro rápido, de 30 segundos, e vai para uma fila, depois faço uma triagem com um sistema automatizado. A pessoa recebe uma ligação com uma gravação que pergunta sobre os sintomas", explica.

"Do outro lado, médicos vão pegando as pessoas e fazem o atendimento por chamada de WhatsApp. No fim, tem a parte de prescrição médica, recomendações e tudo mais. Isso fica registrado na plataforma", explica o especialista em tecnologia.

"No começo, a gente conseguiu os médicos para fazer parte do projeto muito no 'boca a boca'. Depois, a gente ganhou muita repercussão na mídia e outros se cadastraram. Mas a gente ainda precisa de mais médicos voluntários. A demanda está muito grande de novo", completa Rubio.

O cardiologista afirma que a procura pelo serviço da Missão Covid teve dois grandes momentos durante o ano. "A primeira fase foi no primeiro pico [da doença]. As pessoas estavam desesperadas e, muitas vezes, ansiosas. Metade delas tinha a hipótese diagnóstica da covid, mas a outra metade estava simplesmente ansiosa. Hoje, na segunda fase, as próprias pessoas já fazem o diagnóstico, elas já sabem os sinais da doença e o número de pessoas com hipótese diagnóstica já foi para 70%", explica.

Segundo Rubio, o projeto todo foi levantado em dois dias e causou um grande impacto na vida de quem não tem um plano de saúde, por exemplo, ou que mora em áreas isoladas.

A gente atendeu indígenas que moram em aldeias e até pessoas que estão morando fora do Brasil. Olha como a telemedicina pode ajudar o país. Leandro Rubio, cardiologista e idealizador da plataforma Missão Covid

"Ele me deixou falar e escutou tudo"

Eliana, paciente Missão Covid - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Eliana Maria de Jesus, 53, analista contábil, foi atendida por Rubio quando usou a plataforma depois de já ter sido diagnosticada com a doença em um hospital particular e de ter descoberto a Missão Covid pelas redes sociais.

A moradora do Rio de Janeiro destaca a qualidade e a rapidez do atendimento. "O médico foi super acolhedor e explicou sobre vários pontos que eu tinha dúvida", afirma.

"O atendimento aconteceu minutos depois do meu cadastro. O médico entrou em contato comigo pelo WhatsApp pedindo para eu confirmar se eu queria mesmo a consulta. Aí confirmei e, alguns minutos depois, ele fez uma chamada de vídeo pelo mesmo aplicativo me dando toda a atenção. Ele me deixou falar, escutou tudo e me orientou. Gostei muito. Foi uma consulta com calma, sem pressa. Mas não demoramos muito. Foi o tempo necessário para atender minha expectativa", diz.

De acordo com ela, os sintomas começaram por volta do dia 28 de novembro. No sábado, ela diz que começou a se sentir mal e percebeu seu olho avermelhado. Como os sintomas só pioraram, na segunda-feira seguinte, ela procurou o hospital para fazer o teste, que comprovou suas suspeitas. "Fiz uma tomografia e tomei a medicação que o médico do hospital me indicou. Mas como meu pulmão estava ok, voltei para casa", relata.

Eliana tem plano de saúde, mas ela sofre descontos no salário toda vez que o usa. Sendo assim, para não prejudicar ainda mais o orçamento do mês, ela decidiu fazer uma nova consulta no dia 4 de dezembro por meio da Missão Covid. "Terminou meu remédio e senti a necessidade de uma nova consulta. Então, ele me orientou a tomar um remédio para a febre", afirma.

Durante o período em que ficou doente, Eliana afirma ter tossido muito, sentido fadiga ao se levantar, febre, olhos vermelhos e perda de olfato e paladar. Como ela não divide sua casa com mais ninguém, diz que conseguiu fazer o isolamento com tranquilidade e que se sentiu grata por poder fazer o tratamento em seu lar e não em um hospital.

"De um modo geral, fiquei bem tranquila. Não me permito cair na depressão. Estava em casa, não estava intubada. Fiquei até agradecida por não estar com falta de ar, mas mesmo assim não é fácil [enfrentar a doença]", alerta.

"O médico me tranquilizou"

Simone, paciente Missão Covid - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Simone Luiza Rossetto, 44, lojista, também precisou ser tranquilizada pelo médico ao ser diagnosticada com a doença. "Dá medo de morrer, de passar para as pessoas, da solidão… uma coisa que as pessoas precisam muito é desse apoio psicológico. É muito difícil passar por isso. A covid não traz só danos físicos", afirma a paciente dizendo que soube da plataforma ao ver uma postagem de um amigo nas redes sociais.

"Já estava com alguns sintomas, mas não tinha certeza se era mesmo. Estava com dor de garganta só, mas, como tinha começado a incomodar, salvei a postagem e compartilhei com alguns amigos. Passou um dia e os sintomas se intensificaram. Aí fiz um exame, que foi pago, e foi confirmado: estava com covid-19. Aí já me isolei, mas não tinha ido em médico nenhum. Então, resolvi fazer um cadastro", diz.

A lojista fez seu cadastro na noite do dia 3 de dezembro, quando passou a sentir um pouco de dificuldade para respirar, e recebeu um retorno no dia seguinte logo pela manhã. "A dor no corpo é muito grande. A gente sente um cansaço muito grande também. Não dá vontade de fazer nada", relata.

Como não tem plano de saúde, a moradora de Florianópolis ainda precisava de ajuda. "Na consulta da Missão Covid, o médico me tranquilizou. Quando falamos com um profissional, ficamos mais tranquilos. Ele foi me explicando o que eu deveria fazer, que tipo de ajuda eu deveria procurar se eu precisasse. É reconfortante", explica.

"As aflições, os medos, a gente consegue resolver"

Bárbara, médica voluntária da Missão Covid - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Foi pensando em dar esse tipo de atendimento acolhedor para os que mais precisavam que a médica Bárbara Juarez Amorim se tornou uma voluntária do projeto. "Trabalho com medicina nuclear no HC [Hospital das Clínicas] da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e, no começo da pandemia, pararam os atendimentos de áreas que não fossem ligadas à covid e passei a fazer home office. Reduziu muito o nosso trabalho de rotina e fiquei querendo ajudar de alguma maneira. Aí meu marido viu uma reportagem da Missão Covid e me falou. Então entrei em contato com eles em abril e fiz meu cadastro", relata.

"A enorme maioria dos pacientes dá para acompanhar em casa tranquilamente, mas, muitas vezes, eles têm medo e muita coisa dá para resolver por vídeo. As aflições, os medos, a gente consegue resolver. Só uma minoria dos casos a gente precisa encaminhar para um atendimento presencial", afirma a médica.

Para ela, o atendimento por vídeo faz com que ela se sinta mais próxima do paciente por poder fazer a consulta sem todo o material protetor que profissionais da saúde precisam usar na consulta presencial.

Frutos da Missão Covid

Após 84 mil atendimentos, os mesmos criadores da Missão Covid resolveram ampliar seus trabalhos e criaram a startup Starbem. De acordo com Kanashiro, a proposta veio a partir de uma demanda das pessoas que eram atendidas pelos médicos voluntários.

"A gente jamais esperava que [a Missão Covid] tivesse essa proporção. Aí milhares de pessoas começaram a entrar em contato com a gente para ter outros atendimentos, mas a gente só fazia para covid", afirma. Então, eles resolveram estender o atendimento de telemedicina para outras questões de saúde.

Além disso, Rubio afirma que, cobrando valores simbólicos dos pacientes, que variam entre R$ 14,90 por mês (anual) e R$ 19,90 (mensal), eles conseguem fazer com que os médicos também recebam uma remuneração equivalente a um plantão para prestar seus serviços para os que estão mais necessitados.