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Projeto do SUS pouco conhecido, CRIE oferece vacinas para grupos especiais

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Imagem: iStock

Renata Turbiani

Colaboração para VivaBem

27/10/2020 04h00

Com 30 anos recém completados —o "aniversário" foi no dia 19 de setembro— o SUS (Sistema Único de Saúde) ainda tem muitos de seus serviços desconhecidos de grande parte da população e, por incrível que pareça, até mesmo dos médicos. Um exemplo são os CRIEs (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais). Já ouviu falar?

Trata-se de uma rede constituída de infraestrutura e logística próprias com a finalidade de facilitar o acesso de pessoas com necessidades específicas de imunização a uma ampla gama de vacinas, soros e imunoglobulinas que não são oferecidos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) ou o são apenas para faixas etárias restritas.

Outra função, segundo o Ministério da Saúde, é "garantir os mecanismos necessários para investigação, acompanhamento e elucidação dos casos de eventos adversos graves ou inusitados associados à aplicação de imunobiológicos".

São elegíveis para tratamento gratuito nestes locais pacientes com doenças crônicas (confira a lista mais abaixo) e/ou com o sistema imunológico comprometido por conta de imunodeficiências congênitas (deficiências da imunidade humoral, combinadas da imunidade celular e humoral, do complemento e da função fagocitária), adquiridas (HIV/Aids), câncer, transplantes de órgãos sólidos ou medula e imunodepressão terapêutica.

Também podem se vacinar nos CRIEs os comunicantes suscetíveis de pacientes com doenças transmissíveis, indivíduos que convivem com imunodeprimidos, profissionais de saúde expostos a riscos, viajantes para áreas endêmicas para doenças imunopreveníveis, alérgicos a soros heterólogos, gestantes suscetíveis a varicela, portadores de patologias hemorrágicas e recém-nascidos prematuros ou de baixo peso.

"Os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais surgiram justamente para atender uma população diferenciada, que precisa de imunizações além das disponíveis nos calendários vacinais normais. Neles, o foco não é exatamente a saúde pública, a coletividade, mas, sim, a saúde individual", diz Tânia Petraglia, consultora técnica do CRIE do Hospital Municipal Rocha Maia, do Rio de Janeiro.

Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), pontua que, apesar das vacinas serem importantes para qualquer cidadão, já que servem para estimular o sistema imunológico e proteger o organismo de uma série de patologias, bem como suas possíveis consequências que podem até levar à morte, no caso dos imunocompetentes (portadores de doenças crônicas) e dos imunodeprimidos essa ação se torna ainda mais relevante.

"Os imunocompetentes correm um risco maior de contrair doenças infecciosas, com possíveis complicações e, se estiverem infectados, de ter a doença base descompensada. Em relação aos imunodeprimidos, eles têm menor capacidade de responder a infecções e essa deficiência eleva a probabilidade de adoecimento", comenta.

Como ser atendido nos CRIEs

O lançamento do CRIE aconteceu em 1993, e as primeiras unidades foram estabelecidas no Paraná, em São Paulo, no Distrito Federal, no Ceará e no Pará. Atualmente, são 51 localizadas em todo o território nacional —desde 2002, cada estado brasileiro conta com pelo menos uma—, que, juntas, informa o governo, são responsáveis pela aplicação mensal de 46.818 doses de imunobiológicos especiais.

Para ser atendido em uma delas é preciso apresentar a prescrição com indicação médica e um relatório clínico sobre a condição de saúde. Essas indicações serão avaliadas pelo médico ou enfermeiro responsável e, se estiverem contempladas pelas normas em vigor, as vacinas necessárias serão aplicadas.

E mesmo quem mora distante de um centro de referência, mas precisa de vacinas especiais, consegue o acesso. Neste caso, a pessoa deve procurar a UBS mais próxima, e caberá a ela fazer a solicitação para a unidade do estado ou à Secretaria Municipals da Saúde. O imunizante, então, é enviado para o local, e a aplicação acontece lá mesmo.

Patologias e casos elegíveis para o uso de imunobiológicos nos CRIEs

  • Asplenia anatômica ou funcional, hemoglobonopatias, disfunção esplênica
  • Pneumopatias e cardiopatias crônicas
  • Fibrose cística
  • Asma persistente moderada ou grave
  • Uso crônico de ácido acetilsalicílico
  • Fístula liquórica
  • Hepatopatia e nefropatia crônicas
  • Doenças de depósito
  • Diabetes mellitus
  • Doença neurológica crônica incapacitante
  • Doenças convulsiva e dermatológica crônicas
  • Implante coclear

Lista de vacinas especiais disponíveis nos CRIEs

  • Dupla infantil (DT)
  • Adsorvida difteria, tétano e pertussis acelular infantil (DTPa)
  • Adsorvida difteria, tétano e pertussis acelular adulto (dTpa)
  • Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT)
  • Haemophilus influenzae tipo b (Hib)
  • Hepatite A (HA)
  • Hepatite B recombinante (HB)
  • Imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB)
  • HPV Quadrivalente (6, 11, 16 e 18)
  • Imunoglobulina Humana Antirrábica (IGHR)
  • Influenza inativada (INF)
  • Meningocócica C conjugada (Meningo C)
  • Meningocócica ACWY conjugada (Men ACWY)
  • Pneumocócicas polissacarídica Pneumo 23-valente
  • Conjugada Pneumo 10-valente
  • Conjugada Pneumo 13-valente
  • Inativada poliomielite VIP
  • Varicela (VZ)
  • Imunoglobulina humana antivaricela-zoster (IGHVZ)

Falta conhecimento, inclusive no meio médico

Médico atende paciente no Programa da Saúde da Família em Ribeirão Preto - Silva Junior/Folhapress - Silva Junior/Folhapress
Imagem: Silva Junior/Folhapress

Apesar da sua importância —e de o Ministério da Saúde afirmar que divulga amplamente a sua existência por meio do PNI (Programa Nacional de Imunização)— grande parte da população brasileira não sabe nada sobre os CRIEs. E mesmo entre a classe médica há desinformação.

Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, a pedido da farmacêutica Pfizer, revela que um a cada cinco profissionais (21%) nunca ouviu falar sobre eles, e parte dos que conhecem o serviço têm referências antigas, da época de faculdade ou da residência.

O estudo revela ainda que 36% dos médicos não costumam encaminhar os pacientes de risco para esses locais. Suas indicações normalmente são os postos de saúde, apesar de eles não contemplarem todas as opções oferecidas pelos CRIEs, e os laboratórios ou clínicas particulares.

Além disso, os especialistas consultados relatam que apenas 68% das pessoas que recebem o encaminhamento chegam a se vacinar nos centros. Algumas das explicações para isso são o sentimento de desconfiança em relação às vacinas (28% consideram a imunização importante, mas dizem ter um certo temor na hora de atualizar a carteira de vacinação) e a percepção equivocada em relação ao SUS, rotulado como de baixa qualidade.

"Ainda existe em nosso país um receio em relação aos serviços públicos, o que é um grande erro. O trabalho realizado pelos CRIEs é de qualidade excepcional, bastante cuidadoso e pode ser considerado exemplar", afirma Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer.

Quando o paciente se insere no programa, no entanto, a situação muda. Segundo a pesquisa, 93% reconhecem o alto padrão de atendimento e a boa capacitação dos profissionais e 64% dizem que as equipes dos centros passam informações mais detalhadas sobre vacinas do que os médicos.

Para Dulcine, falta promover os CRIEs no meio médico e dissipar os mitos e as dúvidas que ainda provocam insegurança no paciente. Nesse sentido, a Pfizer e a SBIm desenvolveram a campanha CRIE+Proteção, com ações digitais e presenciais, como uma webserie apresentada pelo doutor Drauzio Varella, com o objetivo não apenas de reforçar a relevância dos centros de referência, mas também disseminar o conhecimento sobre a importância da vacinação nos pacientes imunocomprometidos.