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Não fiquemos 'tristes' com vacina de Oxford, diz ex-Anvisa: 'Fé na ciência'

Pausa nos testes da vacina de Oxford foi motivada por uma "reação grave" em um paciente, segundo a AstraZeneca - Lidianne Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo
Pausa nos testes da vacina de Oxford foi motivada por uma "reação grave" em um paciente, segundo a AstraZeneca Imagem: Lidianne Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo

Do VivaBem, em São Paulo

09/09/2020 14h51Atualizada em 09/09/2020 15h39

A suspensão dos testes da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria com a farmacêutica AstraZeneca é procedimento comum e não é motivo para tristeza, segundo Gonzalo Vecina Neto, professor da USP e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Segundo ele, o momento é de ter fé na pesquisa e na ciência.

"A certeza de que isso está sendo feito com todo cuidado é que não deve deixar a gente triste com o que a AstraZeneca fez. [O estudo] Está sendo feito com muita coragem e muita fé na ciência, e tem que fazer desse jeito para garantir que teremos um produto seguro e que produza os efeitos que queremos que ele produza, que é a imunidade", disse o professor em entrevista à CNN Brasil.

A pausa nos testes, anunciada ontem pela AstraZeneca, foi motivada por uma "reação adversa grave" desenvolvida por um dos participantes do estudo. Segundo a farmacêutica, é um procedimento padrão, "que deve acontecer sempre que for identificada uma potencial reação adversa inesperada". Ainda não se sabe se o efeito colateral foi causado pela vacina.

Vecina Neto explicou que nenhuma vacina — seja a de Oxford ou qualquer outra em desenvolvimento — será aprovada se houver evidências de que causa reações adversas graves. Isso porque a covid-19 tem baixa letalidade, e não faria sentido adotar um tipo de profilaxia que seja ainda mais prejudicial que a própria doença.

"Se essa vacina fosse uma vacina para um vírus como o ebola, que tem alta letalidade, talvez nós tivéssemos uma aceitação maior para eventos adversos graves. Mas essa doença tem uma letalidade baixa, então provavelmente não vamos aceitar [efeitos colaterais sérios]. Tem que ter certeza que esse evento é devido à vacina, e não a uma condição clínica do paciente", ponderou.

Com tom tranquilizador, o professor ainda afirmou que o fato de os testes da vacina de Oxford terem sido suspensos não significa, necessariamente, que outras candidatas em desenvolvimento que adotam tecnologia semelhante, como as da Moderna e da Pfizer, também apresentarão problemas.

"O problema das expectativas das pessoas é incontrolável, é uma questão de fé. Mas esta vacina é uma vacina, as outras vacinas são outras vacinas. Elas têm a mesma tecnologia, a tecnologia do vetor viral. Se esse efeito adverso se comprovar, até que ponto será devido à tecnologia ou a algum tipo de componente que a vacina tem? Esse é o momento de olhar para isso e estudar", disse.

Vecina Neto também se mostrou otimista quanto à retomada dos estudos e disse acreditar que em breve serão apresentadas as respostas para as principais dúvidas levantadas após o anúncio da suspensão. "Tenho certeza que os cientistas vão tentar encontrar as explicações o mais rápido possível. É o compromisso da ciência", declarou.