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Tá liberado: sexo na gravidez faz bem, não afeta bebê e até ajuda no parto

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Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

18/11/2019 04h00

Dúvidas para desencorajarem as mulheres a fazerem sexo durante a gravidez não faltam. Será que prejudica a gestação? Acelera o parto normal? Machuca o bebê? Segundo os médicos, se a gravidez não for de risco, o sexo está liberado do primeiro ao último trimestre. Transar, além de ser ótimo para a autoestima, controla a ansiedade, melhora o humor, aumenta a produção de anticorpos, libera endorfina (um hormônio que gera sensação de bem-estar e ajuda a ter um sono mais profundo) e fortalece não só a imunidade, como a musculatura da vagina.

"Como um exercício leve ou moderado, o sexo ajuda a melhorar o condicionamento físico e a massa muscular da gestante, tão importantes no trabalho de parto", explica o obstetra Daniel Rolnik, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

E o melhor: durante a gestação, transar pode ser ainda mais prazeroso. É que nesse período, aumentam-se os níveis de estrogênio e progesterona (hormônios femininos responsáveis por preparar o corpo da mulher para a gestação), como a lubrificação vaginal e o fluxo sanguíneo da região pélvica, o que predispõe excitações com maior frequência e orgasmos mais intensos.

Orgasmos e sêmen

Por falar em orgasmos, saiba que eles liberam ocitocina, um hormônio que desempenha papéis importantes na gestação, principalmente após o terceiro trimestre. É que além de reduzir a pressão arterial —que tende a aumentar nessa fase e se não controlada pode desencadear pré-eclâmpsia—, a substância induz contrações uterinas para o trabalho de parto.

Mas calma! Quando a gravidez está no início, essas contrações e mesmo o endurecimento uterino que elas podem desencadear momentaneamente são insuficientes para provocar o parto, sendo mais notáveis apenas quando o útero está dilatado e ao final da gestação.

E, para surtir resultado, a estimulação tem de ser intensa e durar, no mínimo, uma hora. "O sêmen também contém uma substância parecida com a ocitocina, a prostaglandina, que induz o parto, mas só quando o bebê está em vias de nascer", explica Rodolfo Favaretto, urologista pelo Hospital São Lucas e especialista pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).

O médico acrescenta que um esperma saudável ejaculado dentro da vagina não oferece risco algum para o bebê, mas que devem ser tomados cuidados com higiene e prevenção de DST's (doenças sexualmente transmissíveis). "A sífilis, por exemplo, é causada por uma bactéria que consegue infectar a placenta e o feto, que pode sofrer sequelas e até risco de vida", esclarece.

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Contraindicação de transar durante a gravidez só vale em alguns casos
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Penetração e posições sexuais

Mesmo que o canal vaginal seja penetrado com força, o bebê não sente nada. Isso ocorre porque ele está protegido na cavidade uterina por uma espessa musculatura, pelo saco gestacional e pelo liquido amniótico que evitam qualquer contato dele com o pênis, que sequer encosta na parte externa do colo.

Na entrada do útero existe ainda uma camada mucosa que mantém o órgão vedado contra bactérias e acaba eliminado pelo corpo pouco antes do parto.

Já o sexo anal e uso de vibradores (que devem ser flexíveis para evitar traumas) exigem maiores cuidados e, de preferência, devem ser evitados. É que a gestante costuma ter a imunidade um pouco mais baixa do que as demais mulheres e se não houver a higienização correta na manipulação do aparelho ou durante o contato da região anal para a vaginal, ela pode sofrer infecções. O risco de hemorroidas também é alto, ainda mais no final da gravidez.

Quanto às posições para a realização do ato sexual, a ginecologista, obstetra e sexóloga Carolina Ambrogini, do departamento de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esclarece que, com as mudanças anatômicas ocorridas ao longo da gestação, é preciso testar variações que não causem desconforto.

"Até o final da gestação, a maioria das grávidas se sente mais confortável por cima do companheiro. Deitar de lado na cama também costuma ser uma posição bastante adotada por elas, principalmente a partir da 20ª semana, quando a barriga está maior e não conseguem fazer o 'papai e mamãe'", explica.

Quando não transar?

Segundo Ambrogini, a contraindicação só vale em situações em que há ameaça de aborto espontâneo; placenta prévia (quando a placenta não se forma no local correto e fica na parte de baixo do útero, podendo sangrar durante o ato sexual); infecções graves; rompimento do saco gestacional; ou em casos específicos de sangramento, hipertensão e parto prematuro. Na ausência desses problemas, porém, é possível manter relações sexuais até o final da gravidez.

Algumas grávidas também podem sofrer queda na libido, principalmente no primeiro trimestre de gestação, mas isso não deve ser interpretado como um sintoma natural de que é preciso se abster de sexo.

Segundo Rolnik, o motivo está relacionado às mudanças corporais que ocorrem por conta da ação dos hormônios e que também podem provocar náuseas, cansaço e dores nas mamas. Porém, no segundo trimestre, por conta da estabilização hormonal, o apetite sexual costuma voltar e pode ser mantido até o dia do parto.

Após o parto, quando voltar a fazer sexo?

Por causa do período de regressão natural do útero e da cicatrização dos cortes (no períneo, para facilitar a expulsão do bebê no parto normal e na barriga quando é feita cirurgia cesariana), a recomendação padrão para se voltar a ter relações sexuais, em geral, é de pelo menos 40 dias. É um tempo considerado seguro para o organismo se recuperar para suportar esforços físicos, evitar infecções e a mulher se sentir mais segura e bem-disposta.

É importante também que, após essa fase, o casal retome o clima de intimidade e de sedução que havia antes da gestação. Naturalmente, a mulher pode se ver menos atraente como mãe e sofrer até mesmo de falta de desejo.

Segundo os especialistas, isso é comum devido a mudanças hormonais que contribuem para a produção de leite materno, mas provocam queda de lubrificação vaginal. A regularização ocorre espontaneamente, com a volta da menstruação.

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