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Saúde

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Estudo brasileiro mostra que exercício é eficaz em pacientes com câncer

Getty Images
Imagem: Getty Images

Do VivaBem, em São Paulo

26/09/2019 20h15

O exercício físico pode ser um parceiro em potencial para a melhora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. E um trabalho que contou com a participação do professor Fabricio Voltarelli, docente da Faculdade de Educação Física (FEF) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS), vinculado à Faculdade de Medicina (FM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), apontou que a prática do exercício pode inibir o crescimento do tumor e diminuir a perda de massa muscular, comparando-se aos sedentários.

Os resultados obtidos e publicados em artigo são derivados da pesquisa de pós-doutorado do docente. "O que há de novo são os dados referentes à maior vascularização do tumor dos ratos com câncer e treinados bem como os dados referentes aos marcadores de apoptose [morte celular programada] observados nos animais com câncer e treinados. Esses resultados são extremamente benéficos", explica.

A maior vascularização causada pelo exercício físico pode auxiliar o tratamento oncológico. "Caso fôssemos tratar os animais com algum fármaco, a 'entrega' dos mesmos seria mais facilitada (atualmente, em inglês, isso recebe o nome de "tumor-targeting drugs delivery"), ou seja, os medicamentos chegariam em maior concentração e maior chance de matar as células tumorais", aponta o docente, acrescentando que a neovascularização também facilita a infiltração de células imunes que irão atacar o tumor.

Para chegar aos resultados, ratos foram inoculados com tumores e, posteriormente, submetidos a um exercício físico programado que consistia em subir um aparelho de escada com cargas amarradas às caudas. "Não é um tipo de exercício de alto impacto para os ratos que realizaram o treinamento, pois escalar é uma habilidade natural desses animais.

As sobrecargas atadas à cauda são equivalentes à carga máxima determinada previamente por um teste padronizado, portanto eles suportaram a carga que realmente conseguiam e de forma individualizada, tanto que todos os animais, sejam os com câncer ou não, completaram as semanas de treinamento propostas", conta.

Segundo o docente, a observação de que o crescimento atenuado do tumor aponta a regressão da agressividade do mesmo. "Ou seja, ele não foi capaz de aumentar de tamanho devido aos efeitos benéficos do exercício físico, tais como indução de apoptose no tecido tumoral, maior infiltração de células imunes (tais como os macrófagos), aumento da espessura da capsula tumoral etc.", observa. "Caso estivéssemos falando de seres humanos, a redução na taxa de crescimento tumoral facilita intervenções do tipo cirurgia, quimioterapia e radioterapia com maior eficiência", completa.

Assim como em outros trabalhos já apresentados pelo professor Fabricio Voltarelli, também derivados de seu pós-doutorado, há a demonstração de que o exercício físico programado pode ser empregado como tratamento não farmacológico adjuvante, ou seja, após a quimioterapia, a radioterapia ou cirurgia, ou concomitante, quando for o caso, e até mesmo neoadjuvante, isto é, antes dos procedimentos de tratamento.

O docente ressalta que a utilização do exercício físico, pode ser considerado um tratamento, porém não pode, em hipótese alguma, ser definido como uma cura. "O ponto crucial é que o paciente melhora sua qualidade de vida, uma vez que os efeitos do exercício físico podem, também, combater os indesejáveis efeitos colaterais advindos dos tratamentos convencionais, tais como a hepato e cardiotoxicidade.

Além disso, é possível atualmente conjecturar que os efeitos transcendem aspectos bioquímicos, moleculares e farmacológicos, pois há, também, melhoras a nível de sistema nervoso central que impactam diretamente sobre o psicológico do paciente, tal como o aumento de uma proteína neurotrófica chamada BDNF", destaca.

"A partir desses resultados, podemos sugerir, entre outras coisas, que o tipo de câncer pode ser decisivo nessa questão. Por outro lado, é plausível dizer que os benefícios advindos do exercício físico podem sim aumentar a sobrevida dos pacientes e um fator importante nisso é que os treinados apresentaram menor perda de massa muscular (dados de área de secção transversa) que os sedentários", pontua.

"Atualmente, essa questão (menor ou maior quantidade de massa muscular) tem sido intimamente relacionada com a sobrevida, também em seres humanos. Humanos que apresentam sarcopenia (perda de massa magra) antes de uma cirurgia, por exemplo, tendem a ficar mais tempo internados do que aqueles que apresentavam massa magra preservada. Portanto, obviamente, há uma sinalização de que a preservação da massa magra (que ocorre quando o tumor é menos agressivo) é um bom marcador para a sobrevida", acrescenta o docente.

O docente, que também coordena, há um ano, projeto de pesquisa desenvolvido no Hospital do Câncer de Mato Grosso, com apoio de equipe multiprofissional, composta por médicos e nutricionistas para sua execução, conta que há uma perspectiva deste trabalho ser desenvolvido com seres humanos.

"[No projeto em desenvolvimento no Hospital do Câncer] realizamos testes físicos com pacientes pré-cirúrgicos. Demos o passo seguinte recentemente, pois acabamos de conseguir um espaço no Hospital para implementação da estação de exercícios para os pacientes. Recebemos algumas doações de equipamentos e, em breve, essa nova etapa terá início. A princípio, iremos prescrever exercícios para mulheres com câncer na mama e já estamos com aproximadamente 30 pacientes que aceitaram participar", finaliza.

O artigo, intitulado "Resistance Exercise Counteracts Tumor Growth in Two Carcinoma Rodent Models", também contou com a autoria dos pesquisadores Camila S. Padilha, Fernando T. Frajacomo, Flavia Guarnier, José Alberto R. Duartes, Mayra Testa, Poliana C. Marinello, Paola S. Cella, Rafael Deminice e Rubens Cechini e foi publicado no periódico "Medicine & Science in Sports & Exercise", avaliado com Qualis A1.