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Como o exercício físico pode fazer bem ao cérebro e evitar perda de memória

Pesquisa indica que ser fisicamente ativo reduz o risco do mal de Alzheimer e outras demências - iStock
Pesquisa indica que ser fisicamente ativo reduz o risco do mal de Alzheimer e outras demências Imagem: iStock

Gretchen Reynolds

Do New York Times

23/01/2019 14h19

Um hormônio que é liberado durante o exercício físico pode melhorar a saúde do cérebro e diminuir os danos e a perda de memória que ocorrem durante a demência, descobriu um novo estudo. Publicado recentemente no periódico Nature Medicine, ele envolveu ratos, mas seus achados poderiam ajudar a explicar como, em um nível molecular, o exercício protege nosso cérebro e, possivelmente, preserva a memória e as habilidades de pensamento, mesmo em pessoas cujo passado está desaparecendo.

Evidências científicas consideráveis já demonstram que o exercício remodela o cérebro e afeta o pensamento. Os pesquisadores mostraram em ratos e camundongos que correr estimula a criação de novas células cerebrais no hipocampo, uma parte do cérebro dedicada à formação de memória e armazenamento. O exercício também pode melhorar a saúde e a função das sinapses entre os neurônios, permitindo que as células cerebrais se comuniquem melhor.

Nas pessoas, a pesquisa epidemiológica indica que ser fisicamente ativo reduz o risco do mal de Alzheimer e outras demências, e pode retardar a progressão da doença.

Mas ainda há muitas perguntas sobre como exatamente o exercício altera o funcionamento interno do cérebro e se os efeitos são o resultado de alterações em outras partes do corpo que também são boas para o cérebro, ou se as mudanças ocorrem realmente dentro do próprio órgão. Essas questões atraíram a atenção de um consórcio internacional de cientistas --neurocientistas e biólogos celulares--, todos focados na prevenção, tratamento e compreensão do mal de Alzheimer.

Essas preocupações fizeram com que se interessassem pelo hormônio chamado irisina. A irisina, identificada pela primeira vez em 2012 e com o nome inspirado em Íris, a mensageira dos deuses na mitologia grega, é produzida pelos músculos durante o exercício. O hormônio inicia múltiplas reações bioquímicas em todo o corpo, a maioria delas relacionadas ao metabolismo energético.

Acredita-se que o mal de Alzheimer envolva, em parte, mudanças na forma como as células cerebrais usam a energia, por isso os cientistas deduziram que o exercício pode ajudar a proteger o cérebro ao aumentar os níveis de irisina.

Mas eles perceberam que, se isso fosse verdade, a irisina teria de existir no cérebro humano. Para verificar esse fato, recolheram tecidos de bancos de cérebros e, usando testes sofisticados, encontraram o hormônio. Os padrões de expressão do gene naqueles tecidos também sugeriram que grande parte dessa irisina foi criada no próprio cérebro. Seus níveis eram especialmente elevados nas pessoas livres de demência quando morreram, mas mal eram detectados naquelas que haviam morrido com Alzheimer.

Mas esses testes, apesar de interessantes, não diziam aos cientistas qual o papel da irisina no cérebro. Assim, os pesquisadores agora usam ratos, alguns saudáveis e outros criados para desenvolver uma forma de Alzheimer.

Eles infundiram uma dose concentrada de irisina no cérebro dos animais criados para ter demência. Esses camundongos logo começaram a se sair melhor em testes de memória e mostraram sinais de melhora da saúde sináptica.

Ao mesmo tempo, encheram o cérebro dos animais saudáveis com uma substância que inibe a produção de irisina e, em seguida, bombearam uma forma de beta-amiloide, uma proteína que se agrupa para formar placas no cérebro de quem tem Alzheimer. Na verdade, produziram a demência nos ratos. E, sem nenhum irisina no cérebro, os indivíduos saudáveis logo mostraram sinais de memória comprometida e mau funcionamento das sinapses entre neurônios do hipocampo.

Os cientistas também examinaram neurônios individuais de camundongos saudáveis e descobriram que, quando adicionaram a irisina às células, a expressão gênica mudou de um modo que deveria diminuir os danos da beta-amiloide.

Por fim, e talvez o mais importante, os cientistas fizeram os ratos saudáveis se exercitar, nadando por uma hora quase todos os dias durante cinco semanas. Antes disso, alguns animais também foram tratados com uma substância que bloqueia a produção de irisina.

Nos animais não tratados, os níveis de irisina no cérebro aumentaram durante o exercício e, posteriormente, depois que o cérebro dos animais foi exposto à beta-amiloide, o hormônio parecia combater seus efeitos, possibilitando que os ratos se saíssem melhor em testes de memória do que os camundongos sedentários do controle, que também haviam sido expostos. Mas aqueles que não podiam criar a irisina não se beneficiaram muito do exercício. Após a exposição à beta-amiloide, eles se saíram tão mal nos testes de memória quanto os animais sedentários com beta-amiloide no cérebro.

Como um todo, esses experimentos sugerem que o exercício físico pode em parte proteger contra a demência, provocando um aumento na quantidade de irisina no cérebro, disse Ottavio Arancio, professor de patologia e biologia celular na Universidade Columbia, que conduziu a pesquisa juntamente com duas dezenas de colegas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Brasil, da Universidade Queen's, no Canadá, e de outras instituições.

Mas as experiências, mesmo elaboradas e com muitos elementos, usaram ratos, e assim não podem nos dizer se o exercício e a irisina vão funcionar nas pessoas do mesmo jeito, ou quanto e qual tipo de exercício pode ser melhor para a saúde do cérebro. Os resultados também não mostram se o exercício e a irisina podem prevenir o mal de Alzheimer; apenas parecem amenizar alguns dos efeitos da doença em camundongos quando ela aparece.

Os cientistas envolvidos no estudo esperam em breve testar uma forma farmacêutica da irisina como um tratamento para a demência em animais e, por fim, em pessoas, especialmente aquelas que perderam a capacidade de se exercitar, disse Arancio.

Mas, por enquanto, disse ele, a lição que pode ser tirada do estudo parece ser: "Se puder, vá caminhar."

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