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Covid: Por que uso de máscara voltou a ser recomendado em partes dos EUA

Máscaras profissionais, como a N95, podem ser utilizadas por idosos, pacientes com doenças crônicas ou quando o indivíduo vai se expor a uma situação de alto risco de infecção pelo coronavírus - Getty Images
Máscaras profissionais, como a N95, podem ser utilizadas por idosos, pacientes com doenças crônicas ou quando o indivíduo vai se expor a uma situação de alto risco de infecção pelo coronavírus Imagem: Getty Images

Alessandra Corrêa - De Washington (EUA) para a BBC News Brasil

02/07/2021 08h57

Avanço da variante Delta, mais contagiosa, vem fazendo com que uso de máscaras para proteção contra doença entre pessoas já vacinadas volte a gerar debate nos Estados Unidos.

O avanço da Delta, a variante do coronavírus inicialmente detectada na Índia e que cientistas afirmam ser mais contagiosa que as anteriores, vem fazendo com que o uso de máscaras para proteção contra a covid-19 entre pessoas já vacinadas volte a gerar debate nos Estados Unidos.

Na metade de maio, o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde) atualizou sua recomendação, ao afirmar que pessoas completamente imunizadas não precisariam mais usar máscaras, nem mesmo em ambientes fechados (com poucas exceções, entre elas em transporte público ou hospitais).

Na época, o CDC citou pesquisas que indicavam que as vacinas em uso nos Estados Unidos (Pfizer-BioNTech e Moderna, com duas doses necessárias para imunização completa, e Johnson & Johnson, aplicada em dose única) oferecem alta proteção mesmo contra variantes e também reduzem o risco de transmitir o vírus a outras pessoas.

Desde então, os americanos começaram a retomar a sensação de normalidade, com bares, restaurantes e locais de lazer reabertos com capacidade normal, grande parte do público sem máscaras e o número de casos, hospitalizações e mortes se mantendo nos níveis mais baixos desde o início da pandemia.

Mas, nesta semana, o Departamento de Saúde Pública do Condado de Los Angeles, na Califórnia, virou notícia ao recomendar que mesmo os residentes vacinados do condado (que é o mais populoso do país, com 10 milhões de moradores, e inclui a cidade de Los Angeles) voltem a usar máscaras quando estiverem em locais públicos fechados.

Apesar de afirmar que pessoas completamente imunizadas "parecem estar bem protegidas contra infecção com a variante Delta", as autoridades de saúde locais disseram que, como medida de precaução, recomendam "fortemente que as pessoas usem máscaras em locais fechados como supermercados, lojas, teatros, centros de entretenimento e locais de trabalho quando não souberem o status de vacinação de todos os presentes".

A recomendação não é uma regra obrigatória, e sim uma orientação à população, mas serviu para lembrar os americanos de que, apesar do sucesso recente do país no combate à covid-19, a pandemia ainda não acabou.

Segundo autoridades de saúde, o surgimento da Delta, que vem se propagando com rapidez e já representa 20% dos casos de covid-19 nos Estados Unidos, reforça os riscos para a parcela da população que ainda não foi imunizada. Dados recentes indicam que quase todas as novas hospitalizações por covid-19 no país são entre pessoas que não foram vacinadas.

Nos Estados Unidos, todos com 12 anos de idade ou mais podem receber a vacina contra covid-19. Mas, apesar da ampla disponibilidade, o ritmo de aplicação de novas doses vem caindo, reflexo da resistência de algumas parcelas da população, como os moradores de zonas rurais e os mais jovens.

Até quinta-feira (1/7), 46% da população estava completamente imunizada, e 54% com pelo menos uma dose. Na fatia a partir de 12 anos de idade, 54% estão totalmente imunizados, e 63% receberam pelo menos uma dose.

Recomendação da OMS

Diante desse quadro, a posição das autoridades de Los Angeles não é única. Também nesta semana, o governador do Estado de Illinois, o democrata J.B. Pritzker, deu declaração semelhante, encorajando mesmo as pessoas vacinadas a continuarem a usar máscaras, dependendo da situação.

"Do meu ponto de vista, se você vai a um local lotado, não sabe se alguém não está vacinado, e (nesse caso) você deveria levar uma máscara e ficar seguro", disse Pritzker, cujo Estado registra taxa de vacinação semelhante à nacional, com 54% da população acima de 12 anos completamente imunizada.

Na semana passada, em orientação a todos os países, a OMS (Organização Mundial da Saúde) reforçou sua recomendação de que mesmo pessoas vacinadas continuem a observar distanciamento social e usar máscara em ambientes lotados, fechados ou com pouca ventilação.

"Enquanto a vacina contra a covid-19 evita doença grave e morte, nós ainda não sabemos o quanto evita que você seja infectado e transmita o vírus a outros", disse a OMS, salientando que, quanto mais o vírus se propagar, maior a oportunidade para mutações.

Na quarta-feira (30/7), a diretora do CDC, Rochelle P. Walensky, disse em uma série de entrevistas a redes de TV americanas que sua agência mantém a posição de que pessoas completamente vacinadas não precisam usar máscara.

Mas Walensky ressaltou que a população deve seguir as orientações dos seus departamentos de saúde locais e que há situações em que essas autoridades locais podem recomendar medidas mais rígidas para proteger os que não estão vacinados.

"Nós ainda estamos vendo um ligeiro aumento de casos em áreas com baixa vacinação, e nessa situação nós estamos sugerindo que as políticas sejam feitas em nível local", disse em entrevista à emissora ABC.

Proteção com vacinas

Estudos realizados até agora demonstram que as vacinas são bem-sucedidas mesmo contra as variantes. No caso da Delta, algumas pesquisas sugerem que a proteção contra infecção possa ser um pouco menor do que a registrada em outras variantes, mas ainda assim robusta.

Apesar de ser mais contagiosa, não há comprovação de que a variante Delta seja mais severa que as outras. Além disso, mesmo em caso de infecção, estudos indicam que as vacinas são altamente eficientes contra o risco de doença grave ou morte. Com isso, os poucos casos entre vacinados seriam assintomáticos ou com sintomas leves.

"O que queremos de uma vacina é que evite doença severa, hospitalização e morte", diz à BBC News Brasil o especialista em doenças infecciosas e preparação para pandemias Amesh Adalja, do Centro para Segurança de Saúde da Universidade Johns Hopkins.

"E as vacinas estão sendo bem-sucedidas nisso, mesmo contra variantes problemáticas como a Delta", afirma Adalja, ressaltando que seus dados são baseados na eficácia das três vacinas usadas nos EUA e da AstraZeneca.

Mas uma das preocupações de autoridades de saúde e alguns especialistas é a de que pacientes vacinados que tiverem casos leves ou assintomáticos de covid-19 possam transmitir a doença aos que não foram imunizados, contribuindo para a propagação do vírus.

Quanto mais o vírus circular, mais chances tem de se modificar, e há o temor de que uma futura mutação possa ser mais resistente às vacinas.

"Nós sabemos que as vacinas funcionam contra essa variante. No entanto, essa variante representa um conjunto de mutações que pode levar a futuras mutações que escapem da vacina", disse Walensky, do CDC, em entrevista coletiva na semana passada.

Variante dominante

Segundo a OMS, a Delta já foi detectada em pelo menos 96 países e é cerca de 55% mais transmissível que a Alfa, variante inicialmente identificada no Reino Unido e atualmente presente em pelo menos 172 países. A Alfa já era cerca de 50% mais contagiosa que o vírus original e provocou novas ondas de infecções em vários países no início do ano.

"Devido ao aumento na transmissibilidade, a Delta deverá superar rapidamente as outras variantes e se tornar a variante dominante nos próximos meses", diz a OMS.

A rápida propagação da Delta já provocou novas restrições em diversos países. Na Austrália, várias cidades, entre elas Sydney, Melbourne, Perth e Brisbane, decidiram reimpor lockdowns. Na Malásia, o governo estendeu o período de lockdown, inicialmente previsto para terminar nesta semana.

Até mesmo Israel, que tem alto índice de vacinação, com quase 60% da população imunizada com duas doses, decidiu voltar a exigir o uso de máscaras em ambientes públicos fechados e em locais ao ar livre com grande concentração de pessoas diante de um aumento no número de casos, que é atribuído à nova variante.

Mas, enquanto a Delta vem provocando crescimento no número de mortes em áreas com baixos índices de vacinação, como nações africanas ou a Rússia, nos países onde grande parte da população já foi inoculada, como Reino Unido ou Israel, espera-se que um salto no número de casos não resulte em aumento de mortes tão significativo como o registrado em ondas anteriores.

Nesses locais, o risco é para a parcela da população que ainda não foi vacinada. O mesmo é esperado nos Estados Unidos, à medida que a Delta vem ganhando espaço.

"Esta é uma pandemia de pessoas não vacinadas", ressaltou na semana passada, a diretora de Saúde Pública do condado de Los Angeles, Barbara Ferrer, ao comentar os números da Delta na região.

Entre 123 casos da nova variante confirmados no condado até então, apenas 10 eram em pessoas completamente imunizadas. Nenhuma dessas 10 pessoas precisou de hospitalização.

Confiança

Enquanto alguns países e regiões optaram por uma reabertura gradual e ligada ao percentual de vacinados na população, nos Estados Unidos o fim da recomendação do uso de máscaras para os imunizados não levou em conta as disparidades no país.

Em alguns Estados americanos, principalmente na região Sul, o índice de vacinação permanece bem abaixo do nível nacional. Além disso, ainda não há vacina autorizada no país para crianças menores de 12 anos.

Isso faz com que alguns especialistas defendam uma abordagem diferenciada para cada parte do país em relação ao uso de máscaras, dependendo do nível de vacinação.

A ideia seria que os vacinados continuem a usar máscaras em ambientes fechados em áreas com baixos índices de imunização ou alta circulação do vírus.

Mas alguns cientistas temem que recomendações para que pessoas já imunizadas voltem a usar máscaras possam reduzir a confiança nas vacinas e fazer com que os que ainda não receberam a sua dose desistam de ser imunizados.

"Aqueles que ainda estão hesitantes em receber a vacina podem pensar: 'Por que me vacinar se nada vai mudar para mim?'", observa Adalja.