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Febre maculosa mata 75% dos que se infectam; por que taxa é tão alta?

14/06/2023 12h13Atualizada em 14/06/2023 17h24

O estado de São Paulo registrou 62 casos de febre maculosa no ano passado e, destes, 47 resultaram em morte. O índice de letalidade, de 75%, mostra o quanto a doença, que tem no carrapato-estrela seu principal transmissor, é perigosa. Nesta semana, foi confirmada a morte de um casal em Campinas.

A alta taxa de mortalidade se explica, entre outros motivos, pelo avanço rápido dos sintomas e a confusão com outras doenças. O número de contaminados pela febre maculosa, no entanto, é baixo em comparação com outras doenças — e alguns cuidados ajudam a prevenir.

Os casos de febre maculosa estão concentrados no Sudeste. De 1.216 casos registrados de 2018 até março deste ano, 759 foram nos quatro estados da região, liderada por São Paulo, com 386. Já os óbitos somaram 380 no País, sendo 342 no Sudeste e, destes, 219 em municípios paulistas, segundo dados do Ministério da Saúde.

Nenhuma morte por febre maculosa foi registrada na região Norte entre 2012 e 2022. A doença foi confirmada em todas as regiões do país, mas os estados do Amazonas, Amapá, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe não tiveram nenhum caso confirmado nesse período, segundo informações da agência Deutsche Welle.

O epicentro da febre maculosa brasileira é a região de Campinas, de acordo com o professor Matias Szabó, da Universidade Federal de Uberlândia (MG), especialista em carrapatos. No ano passado, houve sete óbitos na cidade.

Americana, cidade da mesma região, entrou em emergência, em 2018, após registrar 11 mortes por febre maculosa. Reservas e parques onde viviam capivaras chegaram a ser interditados, com previsão de multa para invasores.

Em Jundiaí, onde foi registrado o óbito do piloto Marcelo Costa, não houve registro de casos este ano. A prefeitura informou que as capivaras são animais da fauna silvestre, portanto, protegidos por lei. Por conta da adaptação a ambientes urbanos e instinto migratório, esses animais estão mais próximos da região central. Por serem roedores e herbívoros, não representam risco de ataques a humanos. O Departamento de Meio Ambiente monitora as colônias e orienta a população a ficar atenta no uso de áreas onde podem existir carrapatos.

A infecção simultânea pela febre maculosa, como aconteceu com o casal, não é caso raro, segundo Szabó.

A bactéria que causa a febre também é lesiva para o carrapato e, para transmitir a doença, ele precisa picar uma capivara que ainda não tenha tido contato com a Rickettsia [bactéria]. Quando isso acontece, é comum que muitos carrapatos suguem a mesma capivara e passem a transmitir em conjunto, como pequenas explosões de infecção. Se várias pessoas vão a esse lugar infestado, é provável que mais de uma seja contaminada. Temos casos de famílias inteiras que pegaram a doença
Matias Szabó, da Universidade Federal de Uberlândia

Por que taxa de mortalidade é tão alta?

Doença pode ser confundida com outras. "A doença é tratável com antibióticos específicos, mas os sintomas iniciais se confundem com os de outras doenças, como leptospirose, dengue e até a covid. A pessoa fica dois ou três dias com febre, enquanto a bactéria vai destruindo os vasos sanguíneos, o que causa as lesões na pele. Aí é ladeira abaixo. Se não é tratada no início, a mortalidade é altíssima, chega a passar de 80%."

Sintomas avançam rapidamente. Uma vez que a pessoa é infectada, os sintomas surgem de forma repentina e progridem rapidamente, causando febre alta, dores no corpo e o aparecimento de manchas vermelhas, inclusive na palma das mãos e na planta dos pés. Essas manchas crescem e se tornam salientes.
Tratamento depende de diagnóstico ágil. No início, a doença pode ser tratada com antibióticos, o que torna imprescindível o diagnóstico rápido. Como os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, a imprecisão no diagnóstico inicial pode gerar complicações graves. Após 4 ou 5 dias, a medicação não surte o efeito esperado.

Papel do carrapato

Transmissão ocorre por carrapato infectado. O carrapato-estrela, que transmite a febre maculosa, tem como principal hospedeiro a capivara, animal que vive em áreas de banhados e beiras de rios. Para passar a doença aos humanos, é preciso que o carrapato esteja infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença. Bois, cavalos e cachorros também podem ser portadores de carrapato-estrela infectado. Não há transmissão de pessoa para pessoa.

Carrapato deve ficar 4 horas grudado na pele. Quando a pessoa vai para uma área sujeita à presença de carrapatos, que se fixam na roupa e passam para o corpo. Para transmitir a doença é preciso que o carrapato fique ao menos 4 horas grudado na pele da pessoa. O problema é que os micuins — carrapatos jovens e pequenos — também são transmissores e são difíceis de serem vistos a olho nu.

As lesões são parecidas com picadas de pulga. É importante informar ao médico se esteve em regiões onde há registro de capivaras ou casos da febre.

Proteção inclui retirada de carrapatos. Para se proteger e facilitar a visualização dos carrapatos, as pessoas devem usar roupas claras quando entrarem em locais de mato. Se localizar um carrapato na pele, é preciso retirar com cuidado, usando uma pinça, evitando esmagá-lo para que não libere as bactérias. O uso de repelentes também é recomendado.

Época mais comum. Embora não seja uma doença sazonal, a febre maculosa é mais comum entre os meses de junho e novembro, período em que predominam os micuins.