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Corrimento com sangue não é normal: 8 principais causas e quando é grave

Veja as principais causas de corrimento com sangue, o que pode ser e quando se preocupar - iStock
Veja as principais causas de corrimento com sangue, o que pode ser e quando se preocupar Imagem: iStock

Diana Cortez

Colaboração para VivaBem

03/10/2022 04h00Atualizada em 01/04/2024 16h17

A vagina produz naturalmente secreções que têm, entre suas funções, a ação de lubrificar, eliminar sujeiras e manter a umidade do local.

Esse corrimento pode vir acompanhado de sangue ou ganhar aspecto mais escurecido (amarronzado), rosado ou vermelho. Os especialistas são unânimes: se sangrou, é melhor investigar.

Isso porque o quadro pode ter diversas causas —das mais simples às mais graves.

A seguir, conheça as situações em que o corrimento com sangue pode surgir.

Corrimento com sangue: principais causas

1. Ovulação

A presença de sangue no corrimento pode ser considerada normal quando acontece na ovulação ou até dois dias depois. Isso acontece por conta de picos de hormônios comuns da fase (LH e estrogênio), que estimulam a descamação do endométrio, gerando um pequeno escape. O volume desse sangramento é bem menor do que o da menstruação e pode ser acompanhado ou não de cólica.

2. Pílulas anticoncepcionais

Isso tem a ver com a adaptação de cada mulher à pílula e da dosagem hormonal que está sendo usada. Pacientes que fazem uso das pílulas com baixa dosagem hormonal indicadas para uso contínuo costumam ter sangramento mais frequente. Isso pode ser um indicativo de que a pílula não tem ação suficiente para bloquear o sangramento, apesar de ainda estar funcionando como contraceptivo.

Se virar um incômodo no dia a dia, o médico vai avaliar se é necessário trocar o contraceptivo por outro que ofereça doses maiores.

"Antes, pode sugerir uma pausa na medicação e a retomada após um período para avaliar se o endométrio volta a receber estímulo necessário para não descamar", comenta Lilian Fiorelli, ginecologista, especialista em sexualidade feminina e uroginecologia.

Pequenos sangramentos também podem surgir nas mulheres que usam pílulas após o uso de antibióticos ou diante de quadros de vômito e diarreia, uma vez que essas situações comprometem a absorção do anticoncepcional oral, levando à falha na ação do medicamento. Nesses casos, deve-se usar camisinha para não haver uma gravidez indesejada e seguir com o medicamento até que sua ação seja normalizada.

3. Estresse

Isso acontece devido ao aumento nos níveis do hormônio cortisol que interfere nos hormônios sexuais, podendo gerar os escapes nas mulheres que fazem uso da pílula anticoncepcional com o objetivo de bloquear a menstruação. Mas a situação costuma normalizar assim que o estresse passa.

4. Lesões no colo do útero

Essa possibilidade deve ser investigada por meio do exame clínico feito pelo ginecologista, que vai descartar se a paciente sofre de ectopia cervical —condição em que as células do colo do útero se tornam mais delicadas por questões genéticas e hormonais, levando à formação de lesões e, consequentemente, sangramentos quando há relação sexual com penetração.

"Se a mulher apresenta sangramentos de repetição devido à ectopia, a cauterização do colo de útero pode ser indicada para reduzir os sintomas dessa condição", explica Marla Niag dos Santos Rocha, professora de ginecologia e obstetrícia da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia).

5. Infecção por fungos e bactérias

Conheça os quadros mais comuns que podem apresentar esse sintoma de corrimento com sangue:

  • Candidíase

Causada pelo fungo Candida albicans, a infecção altera o aspecto do corrimento, que se torna mais amarelado e coalhado, com a presença de laivos de sangue. O fungo provoca pequenas fissuras na mucosa vaginal, que sangram, principalmente, com a penetração, já que a mucosa está mais sensível.

  • Clamídia e a gonorreia

São doenças sexualmente transmissíveis que têm bactérias que causam sangramento quase que contínuo, mesmo sem relação sexual, gerando um maior volume de menstruação em algumas mulheres e dor na penetração.

Se não tratadas, podem poder evoluir para uma endometrite (inflamação do endométrio), comprometer as tubas uterinas e diminuir as chances de gravidez. Em casos extremamente graves, podem gerar abcessos internos, que podem exigir internação.

  • Mycoplasma genitalium e Ureaplasma urealyticum

Ambas são bactérias silenciosas, contraídas por relação sexual, que podem gerar corrimento com sangue. Devem ser tratadas com antibióticos orais, sendo que os casos mais resistentes e graves podem exigir o medicamento por via endovenosa.

6. Sexo

O sexo pode ser uma causa, mas geralmente as lesões surgem porque já existe alguma condição que predispõe a mulher a ter o problema. Podem ser infecções ou mesmo a atrofia do vestíbulo, tecido localizado na entrada da vagina.

Outras situações que aumentam os riscos de lesões, apesar de pouco comuns, são: relação sexual em piscina, uma vez que a água impede a lubrificação adequada da vagina, e usar produtos de sex shop não adequados, que devem ter textura macia e o formato fálico.

7. Grávidas no início da gestação

No início da gravidez, pode haver sangramento quando acontece a nidação —fixação do embrião ao endométrio. Geralmente, envolve um volume bem pequeno que acontece por até dois dias. Depois disso, não é comum a grávida apresentar mais sangramentos. Caso aconteça, logo deve ser investigado, pois pode indicar um risco de aborto.

8. Presença de pólipos

Os pólipos são lesões que podem sangrar, principalmente, se estiverem no colo (pólipos cervicais) ou dentro do útero (pólipos endometriais). É mais comum que isso aconteça durante a menstruação, prolongando o tempo ou até mesmo o volume, por estimular o endométrio. Seu tratamento é cirúrgico, com bisturi elétrico, mas a retirada do pólipo pode ser feita no consultório.

O mesmo acontece com os tumores benignos do útero —os miomas— localizados dentro do endométrio (submucosos) e no músculo do útero (intramurais). O tratamento costuma ser com hormônios (pílulas anticoncepcionais) que bloqueiam o funcionamento do ovário e o crescimento do mioma.

"Nos casos em que o mioma apresenta mais de 4 cm ou que esteja localizado em regiões que dificultam uma possível gravidez, é indicada a cirurgia por videolaparoscopia", detalha Fiorelli.

Como é feito o diagnóstico

Para identificar a causa do corrimento com sangue, o médico faz perguntas para a paciente: se ela faz uso de anticoncepcionais, quanto tempo o sangramento persiste, se acontece apenas quando há relação sexual com penetração, se há outros sintomas associados (dor na relação, ardor, tem cheiro, coceira).

A ideia é identificar desde uma lesão mais simples, infecções por bactérias, fungos ou protozoários e até mesmo câncer.

"Lesões podem facilitar a instalação do vírus HPV, que é contraído na relação sexual, podendo evoluir para o câncer de colo de útero", alerta Fernando Prado, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana.

Com a paciente deitada na maca, o médico realiza um exame clínico de toque para checar se a paciente sente dor e avaliar a presença de abaulamentos no colo do útero e no canal vaginal.

Em seguida, introduz o espéculo (equipamento que facilita a visualização das estruturas internas) para analisar a olho nu se há a presença de fissuras e outras lesões na parede da vagina e no colo do útero, além do turgor (se a vagina é ou não ressecada).

Então, é realizado o exame preventivo com a coleta de uma amostra da secreção que será observada no microscópio a fim de identificar alterações celulares que possam se tornar um câncer no futuro.

Também podem ser realizados exames de culturas vaginais e endocervicais (do colo do útero) específicas para identificar se há a presença de alguma bactéria ou outro microrganismo (fungo e protozoário), que causam infecções.

A cor do sangue no corrimento

O volume do corrimento, o cheiro e a sua cor (esverdeado, transparente ou branco) fornecem ao médico informações sobre o quadro da paciente. Mas, quando se trata de um sangramento, a coloração não é usada como parâmetro, uma vez que varia de acordo com o tempo que levou para chegar à calcinha.

O sangue que demora mais tempo para sair oxida no contato com o ar e se torna amarronzado. Por outro lado, caso desça rapidamente pela vagina, poderá apresentar cor avermelhada ou rosada quando estiver em pequenas quantidades, misturado ao corrimento.

Corrimento com sangue pode indicar quadro grave?

Sim. Mulheres infectadas com o vírus HPV também podem apresentar corrimento com sangue, geralmente, na fase ativa da doença por conta de lesões presentes no colo do útero. Da mesma maneira, o câncer de colo de útero e de endométrio podem apresentar sangue no corrimento mesmo sem haver uma relação sexual.

Secreção com sangue após menopausa é sinal de alerta?

Apesar de ser um quadro benigno na maioria dos casos, o sangramento pós-menopausa pode indicar quadros mais sérios, como o de câncer de endométrio, que tem maior incidência nessa fase da vida. Portanto, é importante buscar orientação médica.

Mas a presença de sangue no corrimento também pode acontecer devido à atrofia genital, uma vez que a baixa nos níveis de estrogênio torna a mucosa mais fina e suscetível a fissuras durante as relações sexuais.

Em algumas pacientes, só o fato dela se limpar com papel higiênico gera um sangramento da mucosa.

Também pode ser resultado de atrofia endometrial, uma vez que a baixa de hormônios torna essa estrutura tão fina que expõe os vasos sanguíneos.

Nesses casos, avalia-se a necessidade de se fazer a reposição hormonal com o uso de cremes locais e outras terapias associadas como a aplicação de laser, ultrassom microfocado e radiofrequência para as células da região recuperarem um aspecto mais jovem.

Fontes

Lilian Fiorelli, médica ginecologista, especialista em sexualidade feminina e uroginecologia pela USP (Universidade de São Paulo); Marla Niag dos Santos Rocha, docente da disciplina de ginecologia e obstetrícia do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia); e Fernando Prado, médico ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, doutor pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pelo Imperial College London, de Londres (Reino Unido). É diretor-clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica.