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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Coceira no ânus é comum e afeta mais homens; quando se preocupar?

Coceira no ânus: o que pode ser e como aliviar o incômodo? - Getty Images/iStockphoto
Coceira no ânus: o que pode ser e como aliviar o incômodo? Imagem: Getty Images/iStockphoto

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

10/12/2021 04h00

O dito popular "comer e coçar basta começar", quem diria, tem seu fundamento médico. Isso porque, quando a coceira ocorre no ânus, as terminações nervosas lá existentes fazem que quanto mais se coce, mais se queira coçar. Apesar de parecer engraçado, não há nada de divertido nesse incômodo sintoma que, quando persiste, jamais deve ser ignorado.

Na literatura médica, a coceira no ânus é definida como prurido anal e é considerada uma condição comum que acomete de 1% a 5% da população mundial. Mais frequente entre homens, principalmente na idade madura, esse tipo de coceira tem causas múltiplas. No entanto, em 80% dos casos, a origem do problema é desconhecida (idiopática). Por outro lado, ela também pode estar relacionada à higiene local, infecções, doenças perianais ou sistêmicas e até tumores.

O objetivo do tratamento é aliviar e evitar a recorrência do sintoma. Para a maioria dos pacientes a estratégia terapêutica se baseia em orientações de higiene, além de outras medidas. Casos mais graves requerem o uso de medicamentos e até técnicas mais agressivas.

Nos quadros idiopáticos, porém, nem sempre a solução do problema é rápida e definitiva.

Coceira no ânus: o que pode ser e como melhorar

O que é coceira anal?

Trata-se de um sintoma que se apresenta como uma sensação desagradável traduzida pelo desejo —esporádico ou frequente— de coçar a região perianal, e se manifesta na forma de um círculo vicioso: quanto mais se é impelido a responder a este estímulo, mais se tem a vontade de coçar.

O que causa coceira no ânus?

O sintoma tem causas multifatoriais que são classificadas como primárias e secundárias. As mais comuns são as primárias —o que representa 80% dos casos— e estas também são chamadas de idiopáticas porque não é possível identificar as suas origens.

Já as secundárias decorrem de enfermidades locais, sistêmicas e outras situações. Confira:

  • Higiene anal incorreta (resíduos fecais; agentes irritantes como sabonetes e outros produtos)
  • Fissuras
  • Fístulas
  • Prolapsos
  • Hemorroidas
  • Hidradenite (lesão da pele decorrente de inflamação ou infecção)
  • Neoplasias
  • Alterações dermatológicas (dermatite de contato, psoríase, líquen)
  • Infecções Sexualmente Transmissíveis (como o HPV)
  • Parasitoses (enteróbio ou oxiuriase)
  • Bactérias
  • Fungos
  • Sífilis
  • Diabetes
  • Doença de Crohn
  • Doença renal crônica
  • Uso de determinados medicamentos (laxantes, antibióticos etc.)
  • Consumo de alimentos irritantes (itens que contenham cafeína, bebidas alcoólicas, laticínios, amendoim, condimentos, frutas cítricas, uva, tomate, chocolate)
  • Vestuário íntimo que impeça a circulação do ar
  • Fatores psicológicos (estresse, depressão, ansiedade - mais raramente)

Quem está mais propenso ao problema?

O prurido anal pode acometer homens, mulheres e crianças, mas é mais comum no grupo masculino (75%), especialmente na quinta e na sexta décadas de vida.

Pessoas com doenças sistêmicas predisponentes e anorretais também estão mais suscetíveis à sua manifestação.

Quando devo procurar ajuda médica?

A sugestão dos especialistas é que você procure assistência médica quando observar que o sintoma perdura por mais de 1 semana e não melhora —mesmo após cuidados como a melhora da higiene local. O mesmo se aplica aos casos em que, nesse período, ocorra uma piora na intensidade da manifestação.

O coloproctologista é o especialista treinado para fazer uma avaliação inicial, mas eventualmente será necessário um apoio multidisciplinar, isto é, de outros médicos —como o dermatologista, o clínico geral e até o psiquiatra poderão ser também consultados.

"Evite adiar a consulta porque muitas das causas do prurido são doenças sistêmicas, por vezes ainda não diagnosticadas", fala a proctologista Raquel Kelner Silveira, do HC-UFPE. "Nas mulheres, principalmente, o prurido anal pode decorrer da candidíase vaginal ou perianal, o que também tem relação com o diabetes descompensado, sem falar em outra possibilidade, que são as neoplasias decorrentes de ISTs [Infecções Sexualmente Transmissíveis]", completa a médica.

O que acontece na hora da consulta?

O médico vai ouvir sua queixa, levantar seu histórico de saúde, e ainda investigará as características do prurido. Esteja pronto para responder a ele detalhes da manifestação dos sintomas, como em qual horário do dia ele se manifesta, e também questões sobre os seus hábitos de higiene e estilo de vida (como dieta), atividade sexual e uso de medicamentos.

Na sequência, será feito o exame físico e proctológico, para avaliar a existência de lesões ou doenças. Em geral esta parte da consulta é rápida para que a avaliação seja mais confortável para o paciente.

É também comum que sejam solicitados exames laboratoriais complementares, como os exames para investigação de parasitas, fungos, IST etc., assim como testes de alergia ou doenças associadas.

Como é o tratamento da coceira no ânus?

O objetivo do tratamento é aliviar e evitar a recorrência do sintoma, mas ele também dependerá da causa identificada no exame clínico e laboratorial.

De acordo com José Joaquim Ribeiro da Rocha, docente da divisão de coloproctologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia do HCFMRP-USP, na grande maioria das vezes não se acha uma causa específica para o problema. Assim, a estratégia terapêutica se baseia em orientações de higiene anal, além de outras medidas. Veja, a seguir, quais são elas:

  • Evitar papel higiênico na limpeza anal após a evacuação;
  • Lavar sempre a região com água, se possível morna;
  • Evitar deixar resíduos fecais no local;
  • Usar papel higiênico macio apenas para absorver levemente a água da lavagem, sem friccionar a pele;
  • Preferir roupas íntimas folgadas, se possível de algodão;
  • Adequar a dieta para evitar alimentos que possam estar relacionados ao sintoma, tais como café, frutas cítricas, bebidas alcoólicas, chocolates, nozes, pimenta etc.

"Quando o quadro já é crônico e já houve desenvolvimento de dermatite, são indicados o uso de medicamentos como corticosteroides tópicos, hidratantes, antialérgicos e até ansiolíticos. Nos casos que não respondem ao tratamento, fazemos uso de técnicas que destroem as terminações nervosas na região da pele perianal, por meio de injeções e soluções locais", acrescenta Rocha.

Quando a coceira no ânus irá parar?

Boa parte das pessoas responde bem ao tratamento. Contudo, pacientes com prurido anal devem saber que nem sempre a solução do problema é rápida e definitiva, principalmente nos casos idiopáticos. Os sintomas podem melhorar, mas não desaparecer por completo, e ainda podem ser observados períodos de melhora que se intercalam com outros de piora.

Embora tais condições possam ser frustrantes, esteja ciente desses possíveis resultados. Caso tenha dúvidas, fale com seu médico. A relação de confiança entre você e ele deve permanecer intacta.

Quando é possível diagnosticar a causa do problema, geralmente o tratamento evolui favoravelmente.

Conheça as possíveis complicações

Elas estão relacionadas ao atraso no diagnóstico que poderiam agravar tanto doenças como uma fístula perianal, IST ou tumores, bem como acarretar lesões mais profundas da pele, como ulcerações, infecções secundárias (oportunistas) e dor local.

Como evitar a manifestação de coceira no ânus?

Quando se conhecem os fatores externos que podem desencadear o problema, como higiene local e roupa íntima inadequadas e o consumo de alimentos irritantes, por exemplo, evitar a prática de tais comportamentos pode impedir ou espaçar as crises nos casos idiopáticos.

Nas hipóteses em que as causas relacionadas são secundárias, o diagnóstico precoce das doenças pode prevenir o sintoma.

Fontes

José Joaquim Ribeiro da Rocha, docente da divisão de coloproctologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia do HCFMRP-USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), e responsável técnico da Proctogastroclínica (Ribeirão Preto); Raquel Kelner Silveira, chefe do Setor de Gestão de Pesquisa em Inovação Tecnológica do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), que integra a rede Ebserh, proctologista e professora adjunta da área acadêmica de cirurgia da mesma instituição, titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia) e membro da Câmara Técnica do CRM (Conselho Regional de Medicina), na área de coloproctologia. Revisão médica: José Joaquim Ribeiro da Rocha.