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Paulo Chaccur

Dor de garganta não tratada corretamente traz risco ao coração

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

15/09/2019 04h00

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A garganta começa a incomodar, você sente aquela raspadinha ao engolir a saliva e geralmente já associa o sintoma a uma gripe ou resfriado. Se não for acompanhada de febre então, é comum que as pessoas se automediquem e esperem que passe. O problema é que nem sempre o incômodo vai embora e mesmo assim não recebe a devida atenção.

Saiba que essa negligencia com a saúde pode ser perigosa! Infecções corriqueiras na garganta, sem o tratamento adequado, podem afetar e trazer problemas ao coração. O fato é que quando a infecção bacteriana na garganta, como no caso de amigdalites e faringites, não é devidamente tratada há o risco de que se torne um gatilho para a chamada doença ou febre reumática.

Possível agravamento

A responsável pelo problema é a bactéria Streptococcus. A febre reumática é uma doença inflamatória considerada autoimune, ou seja, o sistema imunológico passa a identificar células e tecidos saudáveis do corpo como invasores, atacando-os e assim desencadeando diversos problemas à saúde.

Em cerca de três semanas começam a surgir essas manifestações inflamatórias em várias partes do organismo, entre eles o coração, que sofre alterações das válvulas ou até do músculo cardíaco e pericárdio. Articulações, pele e cérebro também podem ser comprometidos.

Entre os sintomas estão:

  • Febre;
  • Taquicardia;
  • Falta de ar;
  • Cansaço;
  • Perda de peso;
  • Sensibilidade e dor nas articulações (de modo geral nos tornozelos, joelhos e pulsos, mas também podem aparecer nos ombros, quadris, mãos e pés);
  • Surgimento de pequenos nódulos indolores na pele;
  • Coreia de Sydenham, distúrbio neurlógico que causa instabilidade emocional, fraqueza muscular e movimentos rápidos, descoordenados e espasmódicos, que afetam principalmente o rosto, os pés e as mãos.

No coração

Em consequência da doença, o sistema imunológico ataca, por exemplo, as válvulas cardíacas, responsáveis pelo fluxo de sangue no coração e que costumam abrir e fechar cerca de 100 mil vezes por dia.

Assim, as lesões e sequelas da atividade inflamatória podem desencadear uma estenose da válvula mitral —ou seja, um estreitamento da abertura da válvula mitral que bloqueia o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo.

Quando a atividade inflamatória sobre a válvula for ainda mais intensa, existe a possibilidade de uma retração e rigidez do tecido que levam a uma dupla disfunção do órgão, com estenose e insuficiência valvar (a válvula passa a não fechar completamente e o sangue pode fluir para trás em vez de apenas para frente).

Também há casos de envolvimento simultâneo, quando além da mitral, as alterações acontecem também na valva aórtica. Trata-se de uma situação mais complexa e de risco cirúrgico um pouco maior, com necessidade da troca dessas duas válvulas.

Portanto, é fundamental o diagnóstico precoce e tratamento adequado de uma infecção bacteriana na garganta para não permitir um processo tão agressivo sobre as válvulas e o próprio coração.

Incidência

A febre reumática afeta principalmente crianças e adolescentes na faixa entre 5 e 15 anos. A incidência também é maior entre a população mais carente, pela dificuldade de acesso a tratamentos médicos. Fatores como superlotação de habitações e falta de saneamento básico também interferem na transmissão e contaminação pela bactéria do estreptococo.

Além da garganta, outra porta de entrada dessa bactéria pode ocorrer pela pele, no quadro conhecido como escarlatina, doença que tem como característica a descamação da pele das mãos.

Tratamento

Os principais objetivos do tratamento da febre reumática visam destruir qualquer vestígio de bactérias estreptococos no organismo, bem como aliviar os sintomas, controlar a inflamação e prevenir novos episódios da doença. O tratamento é feito com antibiótico. Em casos mais graves, quando há, por exemplo, comprometimento cardíaco, é possível também a necessidade de procedimentos cirúrgicos.

É importante reforçar ainda que as recomendações médicas devem ser seguidas a risca. Há muitos casos em que os pais suspendem os antibióticos ao notarem uma melhora no estado de saúde dos filhos. No entanto, é fundamental que o tratamento seja cumprido até o fim, evitando desta forma uma possível volta ou piora do quadro infeccioso.

E como evitar que uma dor de garganta evolua para a febre reumática?

Alimentação balanceada e nutritiva, cuidados com a higiene e até mesmo o estado psicológico podem evitar as infecções. A queda na imunidade é outro fator que favorece o surgimento da doença.

É importante enfatizar, no entanto, que nem toda infecção de garganta evolui para uma febre reumática, mas é fundamental procurar ajuda médica para o devido diagnóstico e o tratamento precoce, que poderá minimizar as alterações inflamatórias e suas possíveis consequências.