Antes e durante o parto: entenda em quais situações a cesárea é indicada

A escolha do parto, após receber todas as informações sobre as possibilidades e riscos, deveria ser um direito assegurado a todas as gestantes. Isso tudo sem julgamentos e pressões que coloquem na pessoa que está grávida a responsabilidade de qualquer contratempo que possa ocorrer, seja na cesárea ou no parto vaginal.

No entanto, essa liberdade de escolha, com conhecimento, não ocorre para todas, infelizmente. Hoje temos altos índices de cesárea por desinformação, pressão e, muitas vezes, por indicações irreais.

Operação cesariana ou cesárea é a forma de nascimento através de uma cirurgia abdominal. É essencial em situações em que o parto vaginal está contraindicado ou possui alguma alteração no seu curso ou risco.

Além disso, é uma das cirurgias mais antigas da medicina que foi se popularizando no século 20 com a melhora das: técnicas cirúrgicas, limpeza, anestesia, antibióticos e medicações para contrair o útero e evitar sangramentos. Tornando-se a cirurgia mais realizada entre as mulheres.

Atualmente vemos que a cesárea se tornou uma opção de parto considerada mais segura por algumas pessoas em ambientes de assistência violenta, sem vínculo entre médico e paciente, sem informação e sem incentivo ao parto vaginal.

Ela passa uma sensação de controle e segurança, mas as evidências científicas mostram que ter taxas altas de cesárea não garante boa assistência materna e fetal, visto o Brasil é o segundo país em número de cesáreas, contabilizando 55% dos partos e não pode ser considerada a segunda melhor assistência obstétrica do mundo.

Indicações de cesárea antes do trabalho de parto*

• Placenta prévia, acreta e vasa prévia;
• Gestação gemelar, caso o primeiro gemelar não esteja cefálico (quando o bebê não está com a cabeça para baixo);
• Infecção por HIV com alta carga viral ou carga viral desconhecida;
• Infecção ativa de herpes vaginal;
• Macrossomia fetal;
• Múltiplas cesáreas anteriores;
• Apresentação não cefálica (quando o bebê não está com a cabeça para baixo).

Indicações de cesárea durante o trabalho de parto

• Descolamento prematuro de placenta;
• Falha de progressão do parto;
• Prolapso do cordão umbilical;
• Desproporção entre a pelve e o feto;
• Anormalidades da frequência cardíaca fetal.

E por que temos taxas tão altas de cesárea?

Quésia Villamil, ginecologista, obstetra e fundadora do Instituto Villamil, traz alguns pontos importantes sobre quem se beneficia da cesárea sem indicação:

• O médico quando ele pode agendar a operação e não precisa ficar disponível todas as suas horas para pacientes que podem entrar em trabalho de parto.
• O sistema hospitalar, que vende mais insumos: anestésicos, medicamentos, além de mais diárias hospitalares;
• A indústria farmacêutica, em geral, pois se vende mais medicamentos.

Para reduzir esses índices altos de cesáreas sem indicação um longo trabalho de informação, empoderamento e mudança na remuneração de parto são fundamentais, além disso, Quésia traz mais pontos para essa mudança:

"Melhorando a assistência ao parto normal, tanto na esfera pública quanto privada, dando treinamento de qualidade aos médicos e enfermeiras que prestam assistência ao parto, para estarem aptos a intervir a tempo no caso de circunstâncias especiais, melhorando a ambiência para o parto, através da construção de suítes de parto nas maternidades brasileiras, públicas e privadas."

A cesárea está relacionada com taxas quatro a cinco vezes maiores de mortalidade materna se comparadas com o parto vaginal, assim a liberdade sobre a via de parto deve ser um direto, mas a informação e assistência adequada devem ser os pilares para que essa escolha aconteça o melhor possível pesando riscos e benefícios para a mãe e para o feto.

* Em alguns casos essas indicações são absolutas, mas em outros, com equipes habituadas, o parto vaginal pode ocorrer.

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Referências:

Paro, Helena Borges Martins da Silva. Indicações de cesárea: Protocolo Assistencial do Hospital de Clínicas de Uberlândia / Helena Borges Martins da Silva Paro, Renata Rodrigues Catani. Uberlândia: EDUFU, 2019. 35 p. : il.

Amorim, Melania Maria Ramos; Souza, Alex Sandro Rolland; Porto, Ana Maria Feitosa. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte I / Evidence-based cesarean section indications: part I. Femina;38(8), ago. 2010.

Chervenak FA, McCullough LB. The professional responsibility model of obstetric ethics and caesarean delivery. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol 2013;27(2):153-64.

Trapani Júnior A, Faust LW, Trapani TF. Cesárea: indicações. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 106/ Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério).