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Larissa Cassiano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como a fisioterapia gestacional pode ajudar antes, durante e após o parto

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

26/01/2022 04h00

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A fisioterapia é responsável por avaliar, prevenir e tratar alterações do movimento, com diversas formas de terapia e locais que vão de clínicas, hospitais, centros de parto e maternidades. Pensando nas alterações e em abordagens obstétricas baseadas em evidências científicas, a fisioterapia tem a possibilidade de abordar pontos durante a gestação, parto e pós-parto, tanto na preparação do corpo para essas alterações como para alívio.

Alexandre Delgado, fisioterapeuta e especialista em saúde da mulher, explica sobre seu trabalho: "Temos uma especialidade reconhecida pelo Coffito (Conselho Federal de Fisioterapia), que é a fisioterapia na saúde da mulher. Dentro dessa grande área, destaca-se a fisioterapia em obstetrícia. O profissional fisioterapeuta que atua na obstetrícia pode realizar uma especialização lato sensu, ou fazer uma residência."

Entre as possibilidades, a fisioterapia em obstetrícia aborda o assoalho pélvico nas diversas fases da vida, com medidas para prevenção e tratamento para reduzir a possibilidade de distensão e rotura. Na gravidez, os músculos do abdome passam por um alongamento, para comportar o aumento do útero durante a gestação, os ligamentos perdem parte da sua tensão, mas têm um aumento na mobilidade. As alterações possibilitam que o assoalho pélvico comporte, ao final da gestação, o peso do feto, líquido amniótico, placenta e o útero.

A fisioterapia pélvica possui muitos benefícios durante o pré-natal. Laura Della Negra, fisioterapeuta especializada em reabilitação do assoalho pélvico pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Rolfista, nos conta um pouco sobre as vantagens que a prática traz: "Existem estudos que comprovam que, quando a mulher faz fisioterapia na gestação, diminuiu em 20 minutos o tempo do expulsivo e, além disso, tem 43% menos risco de ter laceração de terceiro ou quarto grau no pós-parto. Mulheres que fizeram fisioterapia também têm 29% menos probabilidade de ter incontinência urinária."

Mas engana-se quem pensa na fisioterapia como algo pontual. Laura Della Negar destaca que a fisioterapia tem impactos importantes na consciência corporal para ter prazer, boa postura, não sentir dores e não ter continência fecal.

Ela explica uma dúvida frequente, que é qual a diferença entre pilates e fisioterapia pélvica: "O pilates trabalha respiração, alinhamento, postura, entre outras coisas, mas de forma global. Existe uma avaliação para cada paciente, mas não uma avaliação pélvica. A fisioterapia pélvica avalia a musculatura do assoalho pélvico de cada paciente e consegue tratar as disfunções de forma individualizada. Apesar da gente só ouvir que o assoalho pélvico precisa ser fortalecido, muitas vezes ele precisa trabalhar a coordenação, o relaxamento, etc."

Alexandre Delgado conta que o fisioterapeuta pode atuar de diversas formas durante a gestação, prescrevendo exercícios físicos para prevenir o diabetes gestacional e as síndromes hipertensivas, como, a pré-eclâmpsia. Tratando e prevenindo a incontinência urinária e fecal, comum de acontecer nesse período. O treinamento da musculatura do assoalho pélvico, supervisionado por fisioterapeutas, é padrão ouro na prevenção e tratamento desses distúrbios.

Hoje, muitas gestantes procuram a assistência fisioterapêutica para a preparação do parto, com massagem perineal, exercícios perineais (para facilitar o melhor posicionamento fetal), exercícios respiratórios e aulas de parto com o casal, para demonstrar movimentos e posturas que eles irão utilizar em cada fase do trabalho de parto, sempre respeitando suas escolhas e preferências.

Para a gestante que deseja realizar fisioterapia pélvica, Delgado conta que uma avaliação deve ser feita para que os objetivos e as condutas sejam traçados. Não há um consenso de quando iniciar o atendimento fisioterapêutico. Mas, agindo de forma prudente, seria mais indicado a assistência após o fim do primeiro trimestre gestacional, ou seja, depois das 13 semanas.

Independentemente da via de nascimento, a assistência fisioterapêutica é recomendada, pois já temos evidências científicas mostrando que não é o parto vaginal o grande vilão para o períneo. A própria gestação é um fator de risco para aparecimento de disfunções nessa musculatura no pós-parto.

No acompanhamento do parto, a fisioterapeuta Bianca Mesquita de Moraes conta que a fisioterapia pode atuar no suporte físico à gestante, dispondo de recursos não farmacológicos para alívio da dor, auxílio para descida do bebê pelo canal do parto, redução dos riscos, lacerações e sobrecargas nos músculos do assoalho pélvico. A abordagem sempre começa por uma avaliação, propondo recursos segundo a necessidade individual de cada gestante, de cada parto, quando de fato houver necessidade, pois as técnicas podem contribuir ou atrapalhar o desfecho de um parto, caso seja mal utilizada.

Uma das possibilidades durante a gestação é o Epi-no (expansor perineal). Bianca Bianca Mesquita de Moraes conta a funcionalidade dele:

"É um dispositivo, composto por um balonete de silicone, uma bomba de pressão manual. Ele é utilizado como recurso fisioterapêutico para o preparo do assoalho pélvico para o parto. O objetivo do uso do dispositivo é o ganho de alongamento e percepção dos músculos do assoalho pélvico. O balonete é introduzido no canal vaginal e inflado manualmente, por meio da bomba de pressão. Vale ressaltar que nem todas as gestantes têm indicação para usar o Epi-no e que ele não é o único recurso de preparo do assoalho pélvico para o parto, nem o com maiores evidências científicas, como a massagem perineal. A utilização do dispositivo precisa ser orientada e supervisionada por um fisioterapeuta especializado, já que o uso incorreto pode gerar lesões e disfunções para a musculatura do assoalho pélvico."

Conhecer a fisioterapia pélvica e ter acesso a ela pode mudar o curso da gestação, tanto pelas possibilidades físicas apresentadas aqui como pelos benefícios associados ao conhecimento. Hoje, é possível encontrar fisioterapeutas pélvicos no sistema privado e público de saúde, mas esse mercado de trabalho ainda carece de mais investimentos para que a população saiba sobre os benefícios que eles trazem, por este motivo falar sobre o tema e questionar os centros de atendimento é uma forma de disponibilizar para mais pessoas a abordagem.

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