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Larissa Cassiano

Endometriose: mulheres devem parar de naturalizar a dor e procurar ajuda

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

22/09/2020 04h00

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Você já sentiu dor e esperou ela passar ou apenas tomou um analgésico sem consultar um médico? Dor é um dos sintomas que mais tentamos evitar, porém muitas das vezes o tratamento da dor se torna algo pontual e momentâneo, tratamos apenas aquele sintoma, aquele momento, sem investigar por que ele está acontecendo e, assim, a endometriose persiste por anos na vida de muitas mulheres, aquela dor que é prontamente medicada, raramente estudada, fortemente sentida e invisivelmente cuidada.

Endometriose é uma doença crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial (conteúdo da menstruação) fora da camada interna do útero, o local que habitualmente deveria estar. Ela é responsável por 30 a 50% dos casos de dor pélvica e infertilidade.

A endometriose pode ocorrer de maneiras diferentes, pode ser adenomiose: quando ela invade a camada de músculo do útero; ou endometriose externa: quando ela vai para regiões próximas como ovário, trompas e intestino.

As causas possuem diferentes teorias, uma das que mais se aceita é a menstruação retrógrada, que seria uma menstruação para fora do útero e que se fixa em mulheres com maior predisposição genética e imunológica.

Os sintomas costumam se iniciar na adolescência de forma leve, e geralmente só 8 a 10 anos depois o diagnóstico é feito.

Esses sintomas são:

  • cólica menstrual
  • dor durante a relação sexual
  • dor pélvica crônica fora da menstruarão
  • alterações intestinais como intestino preso e dor para urinar

Embora a dor durante a relação sexual seja um dos sintomas mais frequentes, ela também é uma das mais ocultadas e negligenciadas. Isso porque falar de algo tão íntimo pode ser difícil para algumas mulheres, ignorado por alguns profissionais, e justificado porque muitas vezes acredita-se que tenha a ver com a posição sexual.

Para o diagnóstico existem métodos diferentes como ultrassom transvaginal com preparo intestinal que facilita a visualização de focos pequenos, ressonância magnética, laparoscopia cirurgia por vídeo, em que os pontos de endometriose são vistos e podem ser enviados para a biópsia e que é considerada a única forma de confirmação, pois os focos podem confirmar que o tecido fora do útero é realmente endometriose.

O tratamento depende dos sintomas e do grau da endometriose, o objetivo é reduzir a dor, controlar o surgimento de novos focos e, para mulheres com dificuldade de engravidar, possibilitar que a gravidez ocorra.

As opções de tratamento começam com medicações que bloqueiam a menstruação: anticoncepcionais e analgésicos.

A laparoscopia serve como diagnóstico e tratamento, pois retira os focos visíveis de endometriose e aderências em outros órgãos se houver.

Para as mulheres com dificuldade de engravidar, o tratamento tem que focar tanto na endometriose quanto nesta dificuldade, para que o tratamento de um não prejudique o outro. É possível realizar cirurgia e fertilização nas trompas se elas estiverem obstruídas.

Quem não deseja realizar tratamento ou não tem indicação de tratamento é importante saber que a chance de malignidade da endometriose é menor de 1%, ou seja, a chance de se transformar em uma doença maligna é extremamente baixa. Além disso, mudanças de hábitos alimentares e atividades físicas podem trazer muitos benefícios.

Mulheres crescem naturalizando a dor, seja a cólica menstrual, parto, procedimento estéticos e vestimentas apertadas e desconfortáveis. A dor, embora invisível, é sentida, e a melhor maneira de tratá-la é compreendendo que a sentir não precisa e não deve ser natural, busque por ajuda.

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