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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como lidar com um fetiche inusitado, como o que Andressa Urach experimentou

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de VivaBem

09/03/2023 16h00

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A modelo Andresa Urach, 35, confidenciou em uma entrevista recente ao podcast Inteligência Limitada, de Rogério Vilela, que no período em que trabalhou como prostituta de luxo, um cliente famoso tinha um fetiche doloroso: gostava de morder sua cabeça com força durante o sexo.

Segundo Urach, ela topou o fetiche do parceiro-celebridade porque na época se considerava um pouco masoquista (curtia sentir dor no sexo) e porque o "negócio estava bom".

Mas, afinal de contas, o que é um fetiche e quais seus limites na vida sexual de uma pessoa ou de um casal?

  • Fetiche é uma condição em que alguém tem uma atração erótica específica por um determinado tipo de objeto, parte do corpo ou comportamento e, assim, a pessoa se excita mais ao vivenciar essa prática em um momento de intimidade.
  • O fetiche pode ficar só no campo da fantasia (ideias, imagens mentais e vontades) ou pode ser colocado em prática.

Sociedade mais flexível, experiências expandidas

O nome científico dos fetiches é parafilia, termo que vem do grego e indica preferências sexuais que se distanciam de um comportamento tido como padrão, de uma norma. É claro que, à medida que a sociedade se torna mais flexível com a sexualidade humana e suas amplas possibilidades, o que é considerado padrão tende a ser cada vez mais expandido.

O indivíduo pode ter um fetiche, por exemplo, por salto alto, luvas, roupa de borracha ou couro, pelo pé de outra pessoa, por provocar ou sentir dor no momento do sexo, por espiar ou ser espiado na hora da relação sexual, por ser amarrado durante o ato, por se vestir com roupas e indumentárias do gênero oposto para a prática do sexo, entre outras infinitas possibilidades.

A presença do objeto ou de uma situação pode ser um facilitador importante para o desejo de se engajar em um ato sexual, para o prazer durante o sexo, para se chegar ao orgasmo ou, ainda, em todas essas fases da resposta sexual humana.

Para a maior parte das pessoas um fetiche ou uma fantasia não constituem nenhum tipo de distúrbio psíquico, são elementos adicionais nas experiências sexuais.

Quando vira um problema?

Os problemas de um fetiche podem surgir quando a pessoa passa a depender exclusivamente dele para ter prazer, ou seja, ele pode provocar uma fixação em determinado objeto ou comportamento, levando a um estreitamento das experiências sexuais, o que pode limitar muito as possibilidades de um indivíduo ter prazer.

Nessa condição, o fetiche deixa de ser um facilitador da experiência erótica para ser um elemento de restrição, de impedimento. Isso pode provocar angústia e sofrimento psíquico no indivíduo.

Outra questão importante é quando o fetichista não consegue encontrar um parceiro, parceira ou grupo que "tope" as suas preferências sexuais. Nesse caso, ele pode se ver impedido de colocar seu desejo em prática, ou ainda, pode tentar forçar uma situação que causa constrangimento, humilhação ou até violência aos demais envolvidos.

Em casos mais graves, em que pode existir um transtorno psiquiátrico relacionado às parafilias, inclusive com uma interface importante com a justiça criminal, o indivíduo pode se colocar em risco de vida ou trazer perigo para outras pessoas —por exemplo, exibicionistas que podem se expor em público para obter prazer, pessoas que se arriscam em práticas de asfixia durante as experiências sexuais ou, ainda, indivíduos que direcionam seu desejo sexual para crianças e adolescentes pré-púberes (pedofilia).

Fetiches no Brasil

Uma enquete com mais de 51 mil consultas sobre esse assunto, publicada em 2021, mostrou quais eram os principais fetiches e fantasias dos brasileiros. O BDSM (dominação e submissão), a fantasia de ser traído, o swing (troca de casais), o uso de fantasia e as roupas de látex estavam no top 5 das preferências nacionais. Curiosamente, existem variações regionais importantes.

Voltando ao caso da modelo Andressa Urach, na época ela topou o fetiche do parceiro e se excitou com a experiência. Talvez hoje ela agisse de outra maneira, o que reforça a ideia de como as questões que envolvem desejo e prazer são dinâmicas e podem mudar ao longo da vida.

Em resumo, se você não está a fim de entrar na fantasia de um parceiro, basta dizer não, e o outro tem que respeitar seu limite.

Um fetiche ou qualquer proposta na esfera sexual só é válida se todos os envolvidos toparem e se sentirem confortáveis com a experiência. O que você acha?