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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tem alguma fórmula mágica para falar com jovens sobre sexo?

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

10/04/2023 04h00

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Volta e meia alguém pergunta o segredo para falar por tantos anos seguidos (já são 30) com várias gerações de jovens sobre sexo. As mídias mudaram, do jornal para a internet, da TV para as redes sociais, do rádio para os podcasts, mas a gente segue firme e forte discutindo o assunto quase diariamente.

O meu principal termômetro desse jovem hoje é o TikTok. É lá que eles me procuram com suas dúvidas e angústias, muito parecidas com as de três décadas atrás, aliás, tema que comentei aqui recentemente.

Mas mesmo dentro dessa plataforma há variações significativas de performance dos diferentes vídeos. Os algoritmos que definem o sucesso e o alcance de um post variam de uma rede social para outra, mudam de tempos em tempos sem aviso prévio e seguem um imenso mistério para a maior parte dos produtores de conteúdo.

Hora ou outra você é "iluminado" por coincidências que levam a alguns insights e, talvez, a algumas conclusões (válidas pelo menos por alguns dias). Já percebi, por exemplo, que para mim não adianta tentar "colar" uma suposta linguagem ou maneirismos deles. Soa falso! O melhor é você se expressar do seu jeito mesmo, de forma direta e objetiva, sem muitos rodeios.

A dúvida do outro é, muitas vezes, mais importante para eles do que a própria resposta. Nessa fase de emancipação, de rompimento com os modelos tradicionais de comportamento e de construção da individualidade, eles precisam se identificar com um grupo. Eles olham para os outros para entender o seu lugar no mundo. E a dúvida, a pergunta, a angústia do outro, podem funcionar como balizadores.

Claro que eles querem rir, se divertir, tirar sarro, fazer comentários "5ª série", mas esse humor e ironia também podem ser um mecanismo que os ajuda a lidar de forma mais tranquila com seus próprios tabus e temas espinhosos. O importante é entender o limite desse humor para que um vídeo ou comentário não incomode ou machuque o outro.

Outro ponto importante: na era da geração da atenção flutuante, que faz diversas coisas ao mesmo tempo e tem tremenda dificuldade em focar em um único estímulo por muito tempo, a comunicação deve ser muito rápida. Um vídeo de mais de 20 ou 30 segundos pode ser uma eternidade para eles!

Recentemente, a gente teve dois vídeos que fugiram da curva e atingiram um número muito maior de visualizações e curtidas. O primeiro deles pegou uma dúvida bem comum (medo de engravidar) e respondeu de uma maneira 100% direta, com a seguinte resposta: Não, não e não! Sucesso de quase 1 milhão de views!

O outro era mais singelo: um casal que vivia se escondendo pelos quatro cantos da casa para tentar transar, já que os pais ficam vigiando os dois o tempo todo, e daí, lógico, a tensão dificultava a ereção do garoto. Não consegui esconder uma risada por me lembrar, olhando pelo retrovisor, das minhas próprias manobras nas minhas primeiras descobertas do sexo. Até pensei em regravar o vídeo, sem a risada, mas achei que ele iria perder a autenticidade. E bingo: me identifiquei com a dificuldade do casal e, o público, por tabela, deve ter se identificado com toda essa situação. A comunicação foi feita.

Se esses mecanismos funcionam dessa forma quando o assunto é sexo, por que não pensar em usar as redes para construir diálogos também muito mais efetivos em relação a temas complexos como diversidade, respeito e combate a bullying, preconceito, Intolerância, racismo e violência. Seria uma forma de olhar para o papel das grandes plataformas de uma maneira muita mais positiva, valorizando a vida em comunidade e a cultura da paz, um assunto tão central na vida de todos nós, principalmente depois das tragédias das últimas semanas. Quem topa esse desafio?