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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fadiga de decisão: será que você tem isso?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

04/02/2022 04h00

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Se você tem se sentido cansado de ter que decidir tudo o que vai fazer, pode apostar que não está sozinho. Além das questões cotidianas que habitualmente temos que lidar, as restrições e incertezas trazidas pela pandemia obrigaram cada um de nós a reavaliar e mudar diversos aspectos da nossa vida, o que pode levar a um fenômeno conhecido como "fadiga de decisão".

O fato de ter que tomar diversas decisões ao mesmo tempo, por um período prolongado, pode levar a uma queda da nossa capacidade de decidir. Diante de um novo desafio, a pessoa pode ficar paralisada e demorar muito mais para fazer escolhas simples. Ou, então, esgotada, ela pode tomar decisões mais rápidas e impulsivas, o que pode gerar um arrependimento posterior.

Um artigo do periódico Medical News Today trouxe dados de uma uma pesquisa da APA (Associação Americana de Psicologia), de outubro de 2021, que revelava que um terço dos adultos dos EUA vinha enfrentando dificuldade de ter que tomar decisões básicas como "que roupa vestir", por causa do estresse causado pelo enfrentamento da covid-19.

Segundo a pesquisa, os millennials (nascido entre os anos 1980 e o final do século 20) foram os mais afetados: quase a metade deles enfrentou "fadiga de decisão". As gerações mais novas foram mais expostas ao estresse da pandemia do que as mais velhas, e pais com filhos menores de 18 anos também foram mais impactados pelo cansaço de tomar decisões do que aqueles que não tinham filhos.

Capacidade limitada de decidir

A fadiga de decisão é um conceito do final dos anos 1990 baseado em uma capacidade limitada das pessoas de regular seus comportamentos. Ela pode acontecer quando alguém tem que tomar sucessivas decisões por muito tempo, o que levaria a uma exaustão para tomar decisões adicionais, desde as mais simples até as mais complexas.

A pessoa passaria a enfrentar maior dificuldade de focar, processar informações, seguir motivações e decidir. Assim, ela pode demorar a responder ou agir de forma mais impulsiva e menos racional.

Como suspeitar de uma fadiga?

Você é sempre seu melhor termômetro para saber se seu poder de decidir está comprometido e se pode estar enfrentado fadiga de decisão, mas a combinação de alguns dos sinais da lista abaixo pode ajudar nessa suspeita.

  • Mais cansaço que o habitual
  • Fadiga física e mental
  • Dificuldade em tomar decisões que normalmente seriam facilmente resolvidas
  • Sentir-se sobrecarregado com as emoções
  • Piora na capacidade de lembrar coisas
  • Falta de foco
  • Procrastinação
  • Introspecção maior que a habitual
  • Falta de energia para decidir

O processo de decisão

Toda vez que tomamos uma decisão, examinamos cuidadosamente o cenário, pesamos prós e contras, avaliamos riscos e benefícios, medimos eventuais impactos e esse processo, mesmo que rápido, acaba sendo bastante custoso do ponto de vista de esforço mental. Quando ele acontece de forma repetida, pode haver maior risco de fadiga.

A fadiga de decisão acontece não só pela sucessão interminável de decisões, como também em situações que exigem um excesso de autocontrole, tais como ter que controlar demais as emoções, atividades que demandam grande esforço cognitivo ou, ainda, esforço físico intenso e prolongado.

Na pandemia, ter que adaptar nossa rotina a um cenário em permanente mudança (onde ir, quem encontrar, como organizar o tempo, etc.) pode ter potencializado em muita gente o risco da fadiga de decisão. Em resumo, as novas complexidades da vida pandêmica introduziram variáveis que nos cobram um esforço diário adicional, o que pode ser bastante estressante e pesar em nosso poder de decidir.

Como superar a dificuldade?

Superar essa fadiga é um passo importante. Segue um resumo de algumas dicas do artigo do Medical News Today de como tentar superar essa fadiga de decidir. Vamos lá?

- Adote rotinas que reduzam a necessidade de ter que tomar decisões mais básicas o tempo todo —o que comer? O que vestir? Para onde ir?—, reservando energia para as decisões mais complexas.

-Seja mais tolerante com você mesmo e se permita mais tempo de descanso e lazer, inclusive com direito a dias para não fazer nada (e não ter que tomar decisões).

-Cuide-se mais e tente dormir e comer bem, fazer atividade física regular e manejar melhor seu estresse.

-Divida as decisões mais complexas com pessoas em quem você confia, já que isso pode reduzir sua ansiedade.

-Não busque apenas decisões perfeitas. Uma decisão boa ou razoável pode ser suficiente para a maior parte das questões da vida. E, se não for a melhor decisão, em geral, dá tempo de mudar.

-Use decisões passadas como parâmetro e tente identificar em que situações a fadiga pode ter atrapalhado, para aprender a aprimorar seu processo de decidir.

Antes de terminar o texto fiquei aqui pensando que boa parte de nós enfrentou, pelo menos em algum grau, esse tipo de fadiga nesses últimos dois anos. Se a questão não se resolveu, mesmo seguindo algumas as dicas acima, talvez seja interessante procurar a ajuda de um profissional de saúde mental. Boa sorte!