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Gustavo Cabral

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estamos vivendo uma nova onda de covid? Ou um aumento esperado da doença?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

06/06/2022 04h00

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A pandemia de covid-19 parece ter virado uma novela sem fim, não é verdade? É sempre a mesma coisa: quando achamos estar em uma situação confortável, baixamos a guarda, flexibilizamos as medidas de proteção de forma exacerbada e irresponsável e voltamos a ver os números da doença aumentar, como está acontecendo agora.

Muitas pessoas vieram me perguntar se esse aumento dos casos pode ser chamado de "nova onda", se é só um pico de infecções ou se é uma elevação esperada. Definir o que é uma onda de covid-19 não é tão simples assim, principalmente porque cada país monta suas estratégias de controle e de parâmetros da doença.

A China, por exemplo, adotou uma política de "covid zero" e decretou lockdown em determinadas regiões após a notificação de aproximadamente 20 mil casos positivos para o coronavírus e menos de 10 mortes por dia. Já o Brasil decreta "o fim da pandemia" com uma média móvel perto de 100 mortes diárias.

Como falei, o conceito de onda não é algo simples de definir, pois não há critérios mundialmente estabelecidos. E, antes de seguir, quero deixar claro que qualquer aumento de casos de uma doença merece atenção e cuidados —no caso da covid, uso de máscaras e tomar a dose de reforço da vacina.

No entanto, como a alta no número de casos e mortes ainda é pequena se comparada com a que tivemos nas ondas anteriores, acredito que ainda é questionável dizer que estamos diante de uma nova onda.

Nas outras ondas de covid no Brasil, tivemos por muito tempo médias móveis acima de 60 mil, de 80 mil, e até de quase 190 mil infectados —esse último número no começo deste ano, provocado pela variante ômicron. Agora, estamos com uma média móvel crescente, mas perto dos 30 mil casos. No passado, vivemos os números trágicos de 1.000, 2.000, 3.000 e até 4.000 mortes diárias, e agora a média de mortes está baixo de 100 —graças à vacinação, que fique claro.

Esses números mais baixos de agora geram certo alívio social de seguirmos com sanidade, depois de tanto sofrimento. Mas não podemos relaxar com os cuidados e muito menos achar que é "normal" perder 100 vidas diárias, pois isso é praticamente ter um avião caindo diariamente.

Independentemente de ser ou não uma nova onda da doença, devemos nos prevenir da covid-19 e não repetir nossos maus exemplos de combate à pandemia, baixando a guarda completamente

Precisamos intensificar as campanhas de vacinação, principalmente com a dose de reforço que estacionou na casa dos 50%. Também é importante orientar a sociedade a buscar estratégias de autoproteção, pois a flexibilização, da forma que foi feita, colocou toda a proteção contra a covid-19 nas mãos da vacinação —mesmo ainda ano "meio" da pandemia e sabendo que nem todos estão vacinados, incluindo crianças abaixo de cinco anos, além de que, tem os grupos imunossuprimidos, ou pessoas com alguma doença crônica, que podem ser afetadas consideravelmente com o aumento da circulação viral.

Não será um número X de casos e/ou de mortes que vai dizer se é uma nova onda ou não, nem qualquer aumento no gráfico que dure um tempo Y. Mas, sim, tudo que envolve a covid-19, desde as mortes até as sequelas que ela pode deixar nas pessoas, por afetar o sistema de saúde, além dos prejuízos na educação e/ou na economia.

Apesar de ainda não estarmos em uma nova onda, não podemos fechar os olhos para o fato de que nunca deixamos de ter tragédias diárias provocadas pela coronavírus. Devemos tomar vergonha na cara e exigir ações públicas e pessoais que façam com que essa peste fique sob controle o mais rapidamente possível.