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Gustavo Cabral

A ciência dá esperança e resultado e recebe do governo cortes e depreciação

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

15/01/2021 04h00

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O ano de 2021 começou com uma mistura de emoções na sociedade: a grande esperança pela chegada de vacinas contra a covid-19 e a desconfiança por parte das pessoas pela velocidade no desenvolvimento destas vacinas. Ambos os sentimentos são extremamente compreensíveis, mas cabe a nós, especialistas da área cientifica, juntamente com os meios de comunicação e os representantes políticos, trazer informações confiáveis e acessíveis para que as pessoas compreendam que a resposta da ciência contra essa pandemia tem sido espetacular, que ajudou a salvar muitas vidas em 2020 e assim continuará em 2021.

Hoje, a ciência está no dia a dia da sociedade de uma forma que nunca imaginávamos. Tem um lado muito bom, pois a sociedade compreende que a ciência é parte de nossas vidas. Porém, tem um lado que nos expõe como país que politicamente pensa e age como nação de "quinta categoria" quando o assunto é suporte para o desenvolvimento científico. Não conseguem compreender nem desenvolver projetos tendo a ciência como motor para saída da crise em longo prazo.

O posicionamento do Governo Federal e de muitos governos estaduais está condenando gerações a serem apenas consumidores do que ciência e tecnologia produzem, tornando o Brasil um "minúsculo" produtor tecnológico. Mesmo tendo excelentes universidades, institutos de pesquisa como Fiocruz, Butantan, ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), entre outras.

Imaginávamos que poderia ser diferente após essa pandemia, devido a todo destaque e importância na luta contra o coronavírus que a ciência tem mostrado nesse momento. Mas não esperaram nem a sociedade esquecer disso e a poeira baixar. Foram lá e esfaquearem ainda mais o desenvolvimento científico do país.

Só para ter uma ideia, de acordo com a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em 2021 o governo brasileiro vai aprofundar ainda mais os cortes na ciência, tecnologia e inovação (CTI), propondo a retirada de R$ 4,8 bilhões do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que é o principal mecanismo de aporte à ciência, tecnologia e inovação (CTI) no Brasil.

Analisando os dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) relacionados ao orçamento dos principais fundos de apoio à pesquisa do Brasil, como o FNDCT, CNPq e Capes, hoje o investimento para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), se compararmos ao ano de 2015, antes dos cortes violentos no investimento em CTI, a ciência do Brasil está sobrevivendo com menos de um quarto dos investimentos. Uma das áreas mais prejudicadas é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde o orçamento reservado para o órgão é 57,2% inferior.

Os valores destinados a bolsas de estudo sofreram um corte de 64% —é importante levar em consideração que a pesquisa no país é feita, em sua grande maioria, por estudantes, desde a iniciação científica, mestrado e doutorado, assim como profissionais de pós-doutorado. Dessa forma, com os cortes que estão acontecendo, a ciência estagnará de uma maneira que nem imaginamos o tamanho dos prejuízos futuro.

Além disso, 2021 começa com o nosso ilustríssimo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, simplesmente vetando a liberação total dos recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), uma das principais fontes de financiamento da ciência, tecnologia e inovação no país. Desta maneira, com esse veto, mais de R$ 4 bilhões continuarão retidos nos cofres do governo federal, que está trabalhando intensamente no projeto de sucateamento das universidades, de centros de pesquisa, laboratórios, enfim da ciência e tecnologia brasileira. Isso vai gerar impactos devastadores para sociedade, pois afetará na estabilidade social num todo, desde economia, indústria, meio ambiente, agro negócios e saúde.

Vale lembrar que, quando o Senado aprovou a proibição de contingenciamento de recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ou seja, vetou que fossem retirados seus recursos, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações disse que essa foi uma vitória história para a ciência do país. Mas e agora que Bolsonaro vetou a proibição de contingenciamento, onde está o ministério que não se posicionou?

Daí surgem algumas perguntas: o que fazemos? Polarizar o país ainda mais? Ou levantar uma bandeira e brigar pelo que realmente importa, que é um projeto nacional de desenvolvimento social-humano, que tem como base a educação e como estratégia de desenvolvimento do país a ciência, tecnologia e inovação?

Caso a gente não levante essa bandeira, nobres leitores, estaremos profundamente condenados à derrota como nação!