Elânia Francisca

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Opinião

Por que preciso dizer onde estou? Quando é monitoramento e quando é cuidado

Desde que iniciei os trabalhos como psicóloga e educadora de promoção à saúde infantojuvenil, recebo questionamentos de adolescentes com a seguinte frase: "Minha mãe quer me monitorar, fica querendo saber onde estou e parece que não confia em mim".

A princípio, eu me atento ao que é dito e busco compreender que tipo de monitoramento está sendo referido na conversa. Busco acolher o sentimento de adolescentes com relação a essa situação, mas também proponho que reflitam sobre os motivos que levariam uma pessoa adulta a querer "monitorar" adolescentes.

Muitas vezes, a reclamação que adolescentes trazem é sobre não compreender o motivo de ter que informar sobre os lugares onde estão, com quem estão e a que horas voltam. "Meu pai tem que acreditar em mim, confiar em mim. Então, para que saber com quem eu estou?"

Diante dessas questões, acredito ser importante convidar as pessoas adultas para uma conversa com objetivo de contribuir para a construção de um dialogo com adolescentes sobre os motivos de querer saber para onde vão, com quem e estabelecer horário de retorno para casa.

Muitas pessoas adultas sabem que é importante que adolescentes informem onde irão e também deixem o contato telefônico dos familiares de suas amizades, mas será que temos sabido explicar a adolescentes o motivo desse "monitoramento"?

Desde o começo do texto, tenho me referido à monitorar sempre usando aspas, isso porque não considero que a palavra "monitoramento" seja a mais adequada nesse caso. Monitorar me remete a uma conotação de rastrear ou vigiar. No caso de pessoas adultas responsáveis, é muito importante que tenhamos ciência de que saber onde adolescentes estão, com quem e como contatar é um ato de cuidado, e não de vigilância. Se sabemos disso, é importante que informemos a adolescentes também.

O ideal é que, no início da adolescência, expliquemos que se está iniciando uma nova fase da vida, na qual uma nova responsabilidade aparece, que é a responsabilidade de sair sem uma pessoa adulta, e isso requer alguns cuidados, como se planejar, deixar contatos de emergência e informar para onde está indo.

É importante também que adolescentes saibam que essa é uma atitude para o resto da vida, e não só na adolescência. Pessoas adultas também precisam informar aos seus pares para onde vão e com quem, pois caso algo aconteça, as pessoas próximas saberão onde procurar.

Dialogar com adolescentes sobre cuidado é mais vantajoso e fortalecedor do que fomentar a ideia de vigilância.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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