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Dante Senra

Conheça melhor primeiro remédio específico para enxaqueca, aprovado nos EUA

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

14/09/2019 04h00

Com frequência amigos e familiares acham exagerados os relatos de sofrimento e angustia descritos pelo portador de enxaqueca. Mas quem sofre com ela sabe que passar por uma crise de enxaqueca definitivamente não é para fracos. Pode muitas vezes ser pressentida, o que geralmente muda o humor antes do desconforto e a dor começarem. Um amigo diz que sua maior felicidade é acordar e ver que a enxaqueca já passou.

Assim, a enxaqueca não é considerada uma simples dor de cabeça. Ela é uma doença neurológica incapacitante que atinge trinta milhões de brasileiros e 50 milhões de pessoas na Europa. E quem mais sofre são as mulheres. Chega a afetar até 20% da população feminina e 10% dos homens. É possível ocorrer também em crianças, afetando igualmente ambos os gêneros antes da puberdade, mas com predomínio no sexo feminino após essa fase. Mais de metade das pessoas que sofrem de enxaquecas tem familiares com o mesmo diagnóstico.

Existe como aliviar esse sofrimento?

Como infelizmente a doença ainda não tem cura, a prevenção e o tratamento dos sintomas permanecem como grandes desafios da medicina. Assim, por anos vem-se utilizando inúmeros medicamentos com resultados variados e efeitos colaterais já esperados, que suavizam os sintomas, mas que foram desenvolvidos para outras patologias (antidepressivos, medicamentos para epilepsia e até para o coração).

Mas a boa notícia é que já foi aprovada em maio de 2018 FDA (departamento norte-americano que funciona como a Anvisa no Brasil), um novo medicamento para enxaqueca produzido em forma de injeção, o Erenumab que promete revolucionar o tratamento de quem sofre com essa doença. Esse tratamento deve chegar no Brasil em breve, talvez ainda este ano.

Esta é a primeira vez que uma droga é desenvolvida especificamente para tratar enxaqueca. O medicamento, que pode ser aplicada mensalmente pelo próprio paciente, é considerado uma revolução por ser capaz de reconhecer a proteína que causa a enxaqueca e destruí-la.

O primeiro estudo foi publicado na revista cientifica The New England Journal of Medicine, o resultado obtido pelos pesquisadores do King's College de Londres (na Inglaterra, 8,5 milhões de pessoas convivem com a enxaqueca), em que foram analisados 955 pessoas. Os resultados foram bastante animadores, com considerável redução da ocorrência e do tempo de dor. Além disso, o impacto dessas ocorrências na qualidade de vida diminuiu significativamente, o que sugere uma menor intensidade dos sintomas.

A prescrição deverá ser de uso contínuo, mensal ou trimestral (adaptado ao quadro clinico) de maneira que não apenas trate a dor quando ela apareça, mas previna seu surgimento.

Obviamente, os efeitos colaterais têm peso importante em qualquer prescrição mas, identifica-se até o momento apenas reações no local da injeção e constipação intestinal leve.

A conferir estes resultados (precisamos aguardar inclusive o custo), a medicina da mais um importante passo na busca pela qualidade de vida oferecendo a esses pacientes mais oportunidades para definir seu próprio destino.

Por que a enxaqueca ocorre?

Parece que algumas pessoas tem o sistema nervoso mais sensível do que outras e, portanto, as células nervosas no cérebro são mais facilmente estimuladas. Estas células reagem a algum gatilho frequentemente externo, enviando impulsos para os vasos sanguíneos, causando sua constrição seguida de uma dilatação e libertação substâncias inflamatórias que causam a dor. Esse gatilho para as crises de enxaqueca varia de indivíduo para indivíduo, mas em algumas pessoas ele pode não existir. Podem ser certos alimentos ou bebidas alcoólicas (vinho tinto é comum), privação de sono, estresse, ou estimulação excessiva dos sentidos (por exemplo, por luzes intermitentes, barulhos intensos ou odores fortes).

Existe uma clara ligação da enxaqueca com os níveis de estrogênio. Parece que são desencadeadas quando os níveis desse hormônio aumentam ou flutuam. Durante a puberdade (quando os níveis desse hormônio aumentam), a enxaqueca é muito mais frequente entre as jovens mulheres do que entre os rapazes da mesma idade. E aos 50 anos nas mulheres, quando se aproximam da menopausa, os valores desse hormônio ficam instáveis, tornando a enxaqueca particularmente difícil de controlar.

Sintomas

Embora os sintomas da enxaqueca possam variar de pessoa para pessoa, são sempre limitantes, atrapalhando invariavelmente a vida produtiva. O quadro típico é a dor de forte a moderada intensidade, latejante que incide mais sobre um lado da cabeça.
Essa dor tem duração média de 3 horas mas pode persistir por até 72 horas. Náuseas e vômitos, sensibilidade à luz e a ruídos e alterações visuais podem estar presentes.

Ainda é frequente a chamada enxaqueca com aura (10% a 15% dos pacientes com enxaqueca), cujas manifestações mais comuns são os distúrbios visuais, como flashes de luz, manchas escuras ou imagens visuais brilhantes, visão duplicada ou visão desfocada. Esses sintomas podem durar de 15 a 60 minutos, seguidos de dor de cabeça. Além da dor de cabeça e das sensações visuais, a enxaqueca com aura pode manifestar-se com as chamadas alterações sensitivas, que são basicamente a transpiração excessiva, náuseas e dificuldades para falar.

Ainda para piorar, existem alguns subtipos como:

  • Enxaqueca crônica, em que a dor permanece por mais de 15 dias por mês, durante um período de três meses.
  • Enxaqueca menstrual, associada à queda dos níveis de estrogênio, pode começar um pouco antes da menstruação, podendo durar até a finalização dela.
  • Enxaqueca hemiplégica, que se manifesta com fraqueza temporária de um dos lados do corpo associado a dores de cabeça (muito confundida com acidente vascular cerebral, até por médicos).
  • Enxaqueca da gravidez, onde as variações hormonais fazem com que as gestantes apresentem crises mais frequentes de enxaqueca.