Taise Spolti

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Opinião

Tadalafila não ajuda o desempenho físico e pode inclusive piorá-lo; entenda

Já se passaram alguns dias desde que o integrante do Big Brother Brasil MC Bin Laden declarou usar tadalafila para melhorar a performance durante os treinos na academia. De lá para cá, o uso se mostrou mais comum do que já era. Não é raro os praticantes de atividades físicas mais extenuantes querem usar de artifícios para melhorar performance, porém, na busca por essas saídas emergenciais e rápidas, o resultado nem sempre é o melhor, ou próximo do esperado.

Eu trabalho há alguns anos na área da performance, acompanho atletas e esportistas tempo o suficiente para listar as idas e vindas de muitas substâncias usadas para fins estéticos e para fins de melhora de performance, e garanto: 99% delas surtem efeitos adversos nada agradáveis (a curto e longo prazo).

O que muitos praticantes esquecem é que justamente o que mais desejam é chegar ao fim da vida com boas condições de saúde, ou com a melhor taxa de independência possível.

Em se tratando dessas práticas, o processo de envelhecimento não será tão agradável. Fica o alerta.

Para o uso da tadalafila, sabemos que o principal objetivo é melhorar o fluxo sanguíneo na região genital masculina, auxiliando na disfunção erétil.

Já para quem faz exercícios, o uso seria para melhorar a vasodilatação, o que, em tese, melhoraria a performance, diminuiria o cansaço e a fadiga, aumentaria força e explosão.

Vamos aos fatos, como ela funciona no organismo?

A tadalafila é um medicamento que inibe a função de uma enzima, chamada fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), que degrada óxido nítrico no organismo. Com a saturação de óxido nítrico, há maior vasodilatação, principalmente de capilares e em áreas periféricas, como mãos, pés e, no homem, o pênis.

Uma função do óxido nítrico é também o relaxamento dos músculos, mas os músculos lisos, como intestinos, vias aéreas, esôfago, estômago, bexiga e parede de vasos sanguíneos.

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Quando há relaxamento dessas musculaturas, suas funções são reduzidas, como o peristaltismo e a motilidade do trato gastrointestinal. Pelas vias aéreas, o relaxamento dos músculos acessórios à respiração dificulta a capacidade de respiração profunda —para quem precisa de resistência, essa não é a melhor opção.

Agora, para quem trabalha força, aumentar produção de óxido nítrico é uma capacidade de melhoria de performance a longo prazo: quanto mais treinado você é, maior será sua produção desse óxido, então sua performance poderá ser aumentada. Mas produzir óxido nítrico é diferente de inibir a degradação de suas quantidades presentes. Ou seja, você não está produzindo mais dinheiro, você apenas não está gastando o que tem —acho que assim fica mais claro.

Ao não degradar o óxido nítrico presente, e ainda assim estimular pelo treino o aumento da produção naturalmente esperada pela atividade física, você concentra mais essa substância no organismo, e apesar de ela ter efeitos positivos e esperados no nosso corpo, o seu excesso traz, sim, riscos:

Sobrecarregar o sistema cardiovascular, especialmente durante atividades físicas intensas: isso pode aumentar o risco de complicações cardiovasculares, como arritmias cardíacas, aumento da pressão arterial e até mesmo eventos cardiovasculares graves, como ataques cardíacos, principalmente em praticantes que são do grupo que nunca visitam médicos para check-up anual.

Dor muscular: quem usa afirma que a resistência à dor fica maior, o que não é verdade, é o oposto, o excesso de óxido nítrico no organismo causa maior sensação de dor nos músculos esqueléticos, além de tonturas e dores de cabeça. A sensação de diminuição de dor vem do relaxamento de outras musculaturas, como das vias respiratórias.

Ataques cardíacos e hipotensão severa: duas condições muito perigosas, e que você já deve ter ouvido falar em indivíduos que abusaram do medicamento e foram a óbito, por uma mistura de causas e efeitos.

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Toxicidade e danos ao DNA: em concentrações muito elevadas, o óxido nítrico pode se tornar tóxico para as células, causando danos ao DNA, às proteínas e às membranas celulares. Isso pode levar à morte celular e contribuir para várias condições patológicas.

"Ah, mas os níveis devem estar excessivamente altos", você deve dizer. Pois bem, não é de se duvidar que o somatório de esforço físico, uso de medicamento recreativo (sem o fim patológico) causará esse nível alto, né?

Tome cuidado com as modas que prometem resultados rápidos ou aumentar sua performance "sem esforço". O treino sério, a dedicação aos treinos com regularidade e planejamento, aliados à suplementação e dieta adequadas, vão fazer esse papel de performance a longo prazo e sem efeitos colaterais.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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