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Taise Spolti

Comida do futuro? Cacto é uma força do 'No Limite' para toda população

No Limite: Kaysar prepara cactos para colegas da tribo calango - Reprodução/TV Globo
No Limite: Kaysar prepara cactos para colegas da tribo calango Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

30/05/2021 04h00

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Mais um assunto polêmico dos últimos dias: comer cacto.A final, pode ou não pode comer?

No último episódio do reality "No Limite", a tribo calango venceu duas provas seguidas e, coincidentemente ou não, teve que comer cacto, que ela já tinha comido antes, como um prato 'especial' que o participante Kaysar preparou, usando óleo de sardinha.

Deu bastante repercussão o assunto, e isso você já deve ter lido por aí, mas o meu objetivo aqui é outro, referindo-me ao fato de o 'poder' do cacto ser ou não o coadjuvante nessa vitória.

Você já deve ter ouvido falar em PANCs, ou melhor, plantas alimentícias não convencionais, e algumas espécies de cactos vêm ganhando espaço nessa classificação. Tem até uma publicação especial feita pela FAO em 2017, especialmente falando de uma das espécies comestíveis, e que está sendo amplamente pesquisada como o alimento do futuro.

Mas por quê? A espécie Opuntia Ficus, amplamente encontrada na América Latina, inclusive aqui no Brasil, assim como outras especificamente brasileiras como a palma Forrageira, e que encontramos em praias como a Praia Brava, onde se passa o programa. São espécies de cactos que podem ser consumidos tanto por animais quanto pelo homem, sendo o corpo ou seus frutos o alvo de uso na alimentação.

Chama-se de 'alimento do futuro' pois o cacto pode ser uma das saídas para populações que enfrentam secas intensas, onde o terreno não é propicio ao cultivo de outras espécies frutíferas ou de pasto para o gado, trazendo fome para o animal, e, consequentemente, sua morte, prejuízos à família que tinha o animal como sustento (como o leite da vaca) e assim gerando fome, já que no terreno 'nada se cria'. Sabemos que essa é, infelizmente, a realidade de uma grande parcela da população do nosso país, assim como outros na África e Ásia.

Essa condição de deserto gera dificuldades até para armazenamento e estocagem de água, inegável à saúde do homem, higiene, e também para cultivo na terra. Por essas e outras perspectivas é que vem se estudando cada vez mais o emprego do plantio de cacto em regiões de extrema necessidade.

Talvez muitos não saibam, mas o uso do cacto é muito antigo. No México é empregado como base de muitas receitas e produtos alimentícios e você é capaz de encontrar o uso de cacto hoje em dia em produtos de beleza e até em bebidas alcoólicas, como no caso do Campari, para o qual é extraído a coloração da cochonilha que habita no cacto.

Outra opção para ser usada como 'alimento do futuro' está no uso de produtos veganos —já é usado como geleias e cremes, mas também por ser aliado no combate a fome.

É sabido que muitas espécies não são comestíveis, até pelo fato de possuírem espinhos, como no caso da Opuntia, que parecem pelos pequenos e muito afiados, sendo assim há a necessidade de sempre fazer algumas manobras:

  • Secar no forno junto à casca para que os espinhos sequem e fique mais fácil a retirada, ou cortar toda a casca usando luvas para evitar se machucar.
  • As flores e frutos não são indicados para o consumo por não existirem ainda muitas pesquisas comprovando benefícios ou possíveis níveis de toxicidade, porém a espécie Opuntia é sim conhecida pelo 'figo da índia', fruto de polpa vermelha que lembra muito uma pitaya.

Mas e os fins nutricionais, existem?

Existem sim, e muitos! Além de terem um teor de água aumentado, são conhecidos por serem energéticos, ou seja, há um teor de açúcares que promovem essa energia de forma rápida ao organismo.

Não há grandes valores de proteína, mas um detalhe chama a atenção: alto teor de pectina, uma 'baba' natural que protege a parede intestinal, oferece saciedade e pode estar associada à proteção contra ulcerações no trato gastrointestinal.

Em termos nutricionais, o cato, no geral, possui fibras excelentes ao organismo, teores ótimos de vitamina A, B1, B2 e B3, vitamina C, lítio, silício e potássio, tanto que produtos que contenham ingredientes vindos do cacto na medicina homeopática são muito empregados para indivíduos que possuem hipertensão arterial, assim como diabetes.

Então, será que ingerir o cacto pode ter favorecido a tribo? Por sim e por não, prefiro designar a vitória ao grupo que se esforçou, mas há uma grande chance de os participantes terem de fato recebido uma boa dose de energia antes da prova que favoreceu a resistência. Mas vamos combinar: não precisava ser frito, né, gente?

A fritura, em qualquer momento da vida, principalmente antes de provas extenuantes, gera desconforto, má digestão e poderia sim ter feito uma queda de performance nos participantes e até um mal estar danado. Já na segunda prova, onde o consumo foi puro, aí sim, o cacto teve sua vez aprovada: hidratou, deu energia e suporte, além de que os participantes colocaram toda fé nele, e a fé move montanhas, certo?