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Berlim proíbe "soldados" no antigo Checkpoint Charlie

O tradicional Checkpoint Charlie, uma das mais famosas fronteiras estrangeiras para o setor Ocidental da época da Berlim dividida - Eduardo Vessoni/UOL
O tradicional Checkpoint Charlie, uma das mais famosas fronteiras estrangeiras para o setor Ocidental da época da Berlim dividida Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

05/11/2019 08h18

Atores uniformizados que posam para fotos com turistas não poderão mais atuar na antiga passagem que se tornou célebre na Guerra Fria. Governo diz que grupo se comportava de forma "agressiva" para coletar dinheiro.As autoridades de Berlim anunciaram nesta segunda-feira (04/11) que vão vetar as atividades de atores que se vestem como militares americanos para posar em fotografias ao lado de turistas no antigo Checkpoint Charlie, na região central da capital alemã.

O Checkpoint Charlie era um dos vários postos de controle entre o setor americano e soviético da cidade quando Berlim esteve dividida durante a Guerra Fria. O local servia especificamente para a passagem de estrangeiros e tropas aliadas. Depois da queda do Muro, a região foi revitalizada e passou a ser um dos locais turísticos mais frequentados da capital.

Ao justificar o veto aos atores, as autoridades afirmaram que uma investigação conduzida pela polícia apontou que alguns deles costumavam pressionar turistas a pagar pelas fotos, muitas vezes de forma "agressiva".

Pelo menos dez atores de um coletivo chamado Dance Factory se revezavam em frente a uma réplica do antigo posto de controle. De acordo com o tabloide Bild, o negócio é lucrativo e o grupo chegava a faturar 5 mil euros por dia. Ainda segundo o Bild, o líder da trupe de atores negou que o grupo fosse agressivo com os turistas. Segundo ele, as doações eram voluntárias.

A proibição de atores no local também voltou a alimentar as discussões sobre o futuro do Checkpoint Charlie. O local que chegou a ser um dos principais símbolos da antiga divisão da cidade se tornou um ímã para turistas, mas também perdeu parte da sua dimensão histórica ao ser tomado por lojas de bugigangas para turistas e cadeias de fast-food.

No ano passado, o anúncio da construção no local de um hotel da bandeira Hard Rock (a mesma da cadeia de restaurantes) provocou críticas na imprensa local.

Recentemente, o chefe da agência de promoção de turismo de Berlim, Burkhard Kieker, disse que ao jornal Tagesspiegel que o checkpoint se tornou algo "ofensivo aos olhos". Políticos e historiadores locais já criticaram o que classificaram como "disneyficação" do local, que foi palco de alguns dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Em 1961, logo após a construção do muro, tanques de guerra americanos e soviéticos posicionaram-se frente a frente no antigo posto de fronteira da rua Friedrichstrasse.

A decisão de Berlim de banir os atores segue o exemplo de Roma, que em 2016 proibiu qualquer atividade que incluísse a "disponibilidade de ser retratado em vestimentas históricas em fotografias ou vídeos em troca de dinheiro".

A proibição mirou especificamente nos "gladiadores" da cidade, homens fantasiados com armaduras, espadas e capas vermelhas, que costumavam ocupar os arredores do Coliseu se oferecendo para tirar fotos com os turistas em troca de dinheiro. Assim como em Berlim, eles eram regularmente acusados de agir de maneira inoportuna e agressiva para cobrar os turistas.