Cavalera desfila no rio Tietê com chuva, lixo e mau cheiro
Por Fernanda Ezabella
SÃO PAULO (Reuters) - Não vá de salto, alertava o convite para o desfile de outono-inverno da Cavalera, neste domingo na margem do rio Tietê, em meio a chuva, muito lixo, mau cheiro e clima de protesto.
A marca, com Marcelo Sommer na coordenação criativa, fez um desfile-manifesto para chamar atenção sobre os problemas ambientais da cidade. A inspiração veio de um movimento chamado "Remember Chernobyl", de um amigo do estilista engajado na luta contra as usinas nucleares.
A imprensa que cobre o São Paulo Fashion Week, cuja maioria dos desfiles acontece no pavilhão da Bienal, trocou os sapatos ousados por tênis e botas de galocha, embora algumas mulheres estivessem de sandálias e até mesmo de salto.
Os jornalistas e convidados também substituíram as roupas da última moda por capas de chuva amarelas e máscaras azuis para tampar nariz e boca, distribuídas pela própria grife.
"Achei fantástico a Cavalera ter coragem de realmente despertar uma consciência ambiental na gente", disse a editora de moda e apresentadora Lilian Pacce, usando a máscara e botas pretas de galocha.
O desfile aconteceu em uma margem do rio na altura do trecho conhecido como Cebolão, debaixo de uma das várias pontes, que protegeu os modelos da chuva ininterrupta.
A imprensa assistiu de um barco de três andares, que não saiu do lugar, atracado na margem.
Sem trilha sonora, o desfile começou com uma sirene. Os modelos desceram por duas escadas de madeira, vindo da margem mais alta para uma à beira do rio, pertinho do barco. Depois, ficaram circulando por ali, meio como zumbis, arrastando casacos e vestidos pelas poças de água.
O cenário era de fato apocalíptico. As águas barrentas do rio levavam os mais diversos tipos de lixo, de embalagens de detergente e margarina, a camisinhas, copos plásticos e garrafas de refrigerante.
O céu estava cinza, as pontes pichadas e ainda havia alguns barcos abandonados na região, completamente enferrujados.
Um dos primeiros looks exibidos no desfile foi um moleton de capuz e bolso estilo canguru, na cor laranja e com um esquilo desenhado em preto.
A marca usou muito xadrez, como um vestido tomara-que-caia de flanela azul escuro. O símbolo nuclear, formado por três hélices, apareceu desenhado em diversas peças de modelagem ampla, como jaquetas e calças masculinas.
"O desfile foi excelente, tem uma moda incrível, com toda esse caráter de contestação e conscientização", disse Pacce à Reuters, ao final da apresentação. "Tudo bem que aqui não é Chernobyl, mas está quase, olha só quanto lixo boiando."
Sommer, em entrevista recente, disse que o desfile era para ser "menos feliz e animado como normalmente é a Cavalera." "É mais um alerta, um manifesto. Vamos falar sobre lixo atômico, lixo humano, sobre viver na cidade grande", disse.
A grife fez uma parceria com o Instituto Navega São Paulo, que tem a concessão para circular pelo rio com o barco Almirante do Lago --o mesmo que levou 1.700 pessoas em dois meses de 2006 na temporada de uma peça do Teatro da Vertigem.
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