Conteúdo publicado há 24 dias

Mais uma mulher diz ter sofrido estupro em boate no RJ: 'Me violaram'

Uma segunda mulher denunciou ter sofrido estupro dentro da boate Portal Club, na Lapa, na Região Central do Rio. A casa noturna é o mesmo local em que uma universitária sul-americana de 25 anos foi vítima de um abuso coletivo, na madrugada do último domingo (31).

O que aconteceu

O outro caso de violência sexual ocorreu no dia 11 de novembro de 2023, contou a vítima. A mulher, que preferiu não ser identificada, conversou com o UOL e contou que havia ido ao local para assistir um show de pagode. Ele relembrou que o evento era open bar, com bebida liberada. "Fui me divertir em um dia vago", disse.

Ela contou que um homem já a havia importunado ao longo da noite, mas que conseguiu se afastar. "O DJ estava tocando e já tinha esse cara me importunando, me afastei, fui para o lado de um bombeiro e um segurança que não fizeram nada", relatou.

Ao fim do show, ela decidiu ficar um pouco mais na casa noturna. "Resolvi ficar para curtir um pouco sozinha o DJ. Tomei um pouco de álcool, comi algo no local e fui ao banheiro. Lembro que apaguei", acrescentou.

A mulher diz que acordou atordoada em um "dark room", um quarto escuro dentro da boate, com um homem na sua frente. Ela estava sem calça e sem calcinha. Ela lembrou que foi ao banheiro e percebeu que havia um líquido saindo de sua vagina. "Tinha acabado de acordar, estava uma barulheira, desci, peguei minhas coisas na chapelaria e, quando estava indo embora, uma funcionária me perguntou se eu tinha consciência de onde estava. Falei que não. Foi aí que ele me disse que eu havia saído de um dark room. Eu respondi e disse que nunca entraria nesse tipo de local", destacou.

Ela registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Atendimento à Mulher. "No dia seguinte, passei muito mal, de uma forma muito diferente. Só à noite tomei consciência de que poderia ter sido estuprada". Além de prestar queixa, ela tomou medicação para se resguardar contra infecções sexualmente transmissíveis e tentou realizar o exame no IML.

Exame no IML não foi realizado no dia seguinte. A vítima ouviu de um médico que ele não poderia realizar o exame, pois era homem. Falaram para ela voltar no dia seguinte. Ao retornar, ouviu a mesma mensagem. Não havia mulheres para desempenhar a função. "Me senti violada", lamentou. A função principal do exame no crime de estupro é comprovar a realização do crime.

A vítima acusa a boate de omissão. "Nunca me responderam, até hoje espero uma mensagem". Ela também denunciou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro não deu andamento ao seu caso. Foi apenas nesta semana, ao tomar conhecimento da violência sofrida por uma estrangeira na mesma casa noturna, que decidiu expor o caso.

Me senti machucada, o caso dela me gerou gatilhos. Estou indignada que ninguém fez nada. Essa boate tem que ser responsabilizada de alguma forma. Me parece que os funcionários têm a noção de que isso acontece e não fazem nada.

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Comissão da Alerj acompanha o caso

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj acompanha a denúncia. Ao UOL, a deputada Renata Souza (Psol) declarou que cobra das autoridades policias uma investigação concreta, em que os criminosos sejam identificados e a boate seja responsabilizada. "Não é possível que uma pessoa queira se divertir e passe por uma violência dessa", disse.

Ela citou que há semelhança nas duas violações sexuais. "As duas perderam a consciência, foram culpabilizadas, como se tivessem consentido".

A reportagem do UOL procurou a Polícia Civil do Rio de Janeiro, mas a corporação não informou se o caso está sendo investigado e se os responsáveis pela casa noturna foram ouvidos. O espaço segue aberto para manifestação.

O que diz a boate

Boate publicou nota nas redes sociais. O texto diz que a casa de shows repudia veementemente e nunca irá apoiar qualquer forma de intolerância, opressão ou violência contra as mulheres.

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No caso da estrangeira, o estabelecimento declarou que acolheu a vítima. "Assim que tomamos conhecimento do incidente, a casa prontamente acolheu a vítima e se colocou à disposição das autoridades para que os fatos sejam imediatamente investigados e esclarecidos. Além disso, fornecemos as imagens e áudio do circuito de segurança aos responsáveis pela investigação".

Sobre o crime ocorrido em novembro, a boate disse que "nunca tomou conhecimento da ocorrência". A casa noturna declarou em nota que não foi procurada pela polícia ou pela vítima. Afirmou ainda que está à disposição "para colaborar com as investigações".

Polícia Civil investiga denuncia de estrangeira

A turista estrangeira que denunciou ter sofrido um estupro coletivo na mesma boate. Ela se pronunciou sobre o ocorrido por meio de carta.

O boletim de ocorrência foi registrado na terça-feira (2). A violência sexual ocorreu na madrugada do domingo (31), relatou a vítima à Polícia Civil. O crime foi denunciado pela deputada Renata Souza (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj.

Homens esperavam vítima em sala reservada, afirmou mulher à polícia. A vítima foi à boate Portal Club Rio, na Lapa, com uma amiga e entrou em um "dark room" com um homem que conheceu no local. Dentro da sala, ela foi violada por outros homens, informou em depoimento.

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Vítima contou que perdeu a consciência. A estrangeira disse à polícia que não sabe se algo foi colocado na bebida dela e não soube precisar quantos homens cometeram a violência.

Universitária tinha acabado de chegar no Brasil. Ela viajaria à Bahia no dia seguinte e pretendia passar um ano no país para aprender português.

Autores ainda não foram identificados. Ao UOL, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que as imagens de câmeras de segurança do local são analisadas para tentar identificar os suspeitos do crime.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

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Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.

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