Topo

Terapia orgástica promete levar a ápice do prazer. Vale experimentar?

iStock
Imagem: iStock

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa

30/10/2022 04h00

Chegar ao ápice do prazer é o desejo de muitos, mas, mesmo assim, nem sempre esse caminho é fácil. Alcançar o orgasmo parece até privilégio de um grupo e muitas mulheres relatam nunca terem experimentado a sensação - até conhecerem a terapia orgástica, segundo especialistas. Essa terapia, também chamada orgásmica, promete ajudar paciente melhorar, potencializar e atingir o orgasmo, independentemente do seu gênero.

"Abordamos a sexualidade e não apenas o sexo, a prática sexual ou penetração, que uma parcela bastante relevante da população entende como sendo premissa básica e sinônimo de orgasmo. Sexo é apenas um referencial; sexualidade é para além de sexo", diz a sexóloga Gislene Teixeira.

A especialista explica que esse tipo de terapia proporciona muitos benefícios ao corpo, inclusive o autoconhecimento profundo, permitindo às pessoas entenderem que não existe um modelo padrão de prazer e que muitas áreas devem ser exploradas, justamente por terem esse potencial.

"Para isso, é preciso entrega, querer, dedicação para as descobertas, para carícias, toque, movimentos. Obviamente, tabus e preconceitos, assim como crenças limitadoras, devem ser mitigados, extintos ou reajustados", observa Gislene.

Quem pode e quem não pode

De acordo com a sexóloga, a indicação vale tanto para mulheres quanto homens, casais de qualquer formato e para quem deseja ativar ou mesmo reativar a vida sexual. Afinal, em algum momento da vida, pode bater aquele sentimento de que a prática sexual já não é mais a mesma, levando a buscar por essa ajuda.

Ainda assim, existem algumas histórias que se encaixam mais no perfil de quem busca - ou deveria buscar - a técnica, como pessoas que têm medo de se entregar por diversas razões ou, então, quem já soube bem o que era prazer, mas decidiu se fechar para o assunto.

Há algumas possíveis contraindicações ao método. Mulheres que sofreram traumas, por exemplo, podem precisar de um atendimento mais abrangente, envolvendo outros tipos de terapias e cuidados.

"Para isso, é preciso que profissionais entendam o que realmente está acontecendo, busquem a causa, a motivação que culminou na perda ou baixa da libido, ou questões mais complexas que impedem a vida sexual não só de ser prazerosa, mas até de existir", fala.

Vale lembrar que uma eventual restrição não significa impedimento para viver a experiência. Nesses casos, pode ser necessário acompanhamento prévio de outros profissionais, como ginecologistas, endocrinologistas, psicólogos, entre outros, que atuem em sua área específica.

Não existe milagre, mas há boas técnicas

Pode não haver receita de bolo ou fórmulas matemáticas para entender o que cada um precisa quando o assunto é sexualidade. Entretanto, existem muitos princípios e técnicas dentro da terapia orgástica capazes de proporcionar ótimas experiências.

Gistene explica que, através das pautas de autoconhecimento corporal, busca pelo prazer e alinhamento de corpo, mente e alma, várias modalidades podem ser usadas, como hipnose orgástica, massagens eróticas, danças, exercícios guiados e atendimentos no campo da conscientização da inteligência erótica, sensorial, sensual e sexual.

Massagem 'desperta' o corpo

Umas das variantes da terapia orgástica é a massagem tântrica, uma das ferramentas mais conhecidas no universo sexual. Segundo Talita Moraes, psicanalista, terapeuta integrativa bioenergética e especialista tântrica, a técnica vem do Tantra, filosofia milenar a partir de estudos dos corpos sutis e dos chakras, entre outros temas.

Inventada no fim da década de 70, na Alemanha, a massagem tântrica trabalha a energia sexual e visa trazer fluidez, alegria, vitalidade, libido e sentimento - ou seja, o prazer como um todo. Tudo isso é feito através de respiração e toques sutis por toda a extensão do corpo.

"A massagem tântrica - ou terapia corporal, como gosto de chamar - serve para desenvolver o potencial orgástico e fazer a pessoa se sentir livre de couraças, bloqueios que tanto impedem de ver e sentir prazer em outras coisas. É um trabalho de desrepressão corporal", pontua Talita.

E, assim como na terapia orgástica de um modo geral, a técnica pode ser aplicada para e por homens ou mulheres. No caso da massagem, há algumas contraindicações, de acordo com a especialista - como casos de esquizofrenia ou epilepsia, gestantes de até três meses e, também, gestantes de alto risco.

Sem a possibilidade de auto massagem, a massagem corporal deve ser feita por um especialista e aplicada no chão. "É necessário justamente porque o corpo, às vezes, traz emoções vividas e começa a se comunicar, podendo a pessoa sentir raiva e tristeza, pode gritar, chorar, rir", esclarece a profissional.

De acordo com Talita, o procedimento que ela executa começa com conversa para entender a história do paciente, seguida por meditação. Nesse processo, a pessoa costuma ficar totalmente despida, porém, a massagem tântrica não envolve as genitais, obrigatoriamente. Com o início da massagem, a respiração é orientada e os toques, sutis, servem para despertar o corpo.

"A terapia corporal serve para expandir horizontes e, mesmo sem o objetivo de atingir o orgasmo, a experiência é sempre muito prazerosa, positiva", afirma a psicanalista.

Como a massagem pode envolver toques nas genitais, ela recomenda uma idade mínima de 18 anos ou, se mais cedo, com autorização por escrito dos pais e apenas para casos específicos, como de abuso. A frequência das sessões depende do objetivo individual, mas o mínimo são dois encontros, podendo posteriormente ser repetida a cada quinzena ou mês.

Hipnose promete experiência forte

Outra modalidade contemplada pela terapia orgástica é a hipnose, que propõe um "orgasmo hipnótico" para ajudar pessoas com limitações sexuais - que passaram por traumas ou sofreram bloqueios ao longo da vida, que impedem a pessoa de sentir prazer.

Entre os casos, o destaca traumas e bloqueios, que podem ter levado esse cliente a não sentir mais prazer ou até mesmo tê-lo impedido de desfrutar algum dia. Nesse tipo de abordagem, o primeiro passo é entender as razões que levaram ao sintoma.

"Depois da conversa, levamos a pessoa a uma viagem dentro do seu subconsciente - sua verdadeira história -, encontramos o problema e o ressignificamos. Após, e só com a permissão, fazemos um teste de orgasmo hipnótico, onde não existe toque do hipnólogo na pessoa. Ou, às vezes, com permissão, tocamos apenas as mãos", explica o hipnoterapeuta Dácio Rodrigues.

Segundo ele, embora a procura pelo serviço seja majoritariamente por mulheres, a hipnose orgástica é indicado para qualquer gênero, desde que a pessoa seja maior de idade. O especialista afirma ser possível provocar uma reação mais forte do que o orgasmo convencional, já que o subconsciente tem poder suficiente para isso - em ambos os sexos.

"O objetivo é realmente destravar a pessoa para que ela possa voltar a sentir o máximo do seu prazer, ter orgasmos muito fortes, ter uma vida sexual sadia. Às vezes, as travas estão ligadas a ter o parceiro errado e/ou não ter o diálogo necessário", aponta Dácio.

Embora a técnica possa ser aplicada virtualmente, o hipnoterapeuta prefere o presencial, principalmente para reconhecer os sintomas capazes de indicar que a pessoa está mesmo hipnotizada. "Apesar de estar consciente, há pessoas que, ao terem orgasmos fortes, se contorcem, gritam. Então, prefiro ter o controle pessoalmente", diz.

Com duração de até três horas, o profissional lembra que a frequência da hipnose depende de cada caso. Desse modo, se for necessário ou surgir alguma questão, o paciente pode procurar o serviço. Por essa razão, ele salienta que estar à vontade para conversar e se abrir é muito importante.

Tudo bem ser um pouco de egoísmo

Para fazer a terapia orgástica, o medo de ser egoísta com o par deve ser deixado de lado. Afinal, em primeiro lugar, é importante que cada pessoa esteja inteira, conheça seu corpo, seus prazeres e desejos, e, assim, entenda verdadeiramente sobre sexo e sexualidade.

"Só então conseguiremos saber quem somos no campo dos prazeres e, depois, poderemos colocar outra pessoa para compartilharmos também afetos, fantasia, carinho, tesão e orgasmo. Compartilhar é não esperar que o outro me supra, mas que me transborde", argumenta a sexóloga Gislene Teixeira.

Cuidado com o profissional

Um dos grandes receios de quem se interessa pelas terapias orgásticas é ter certeza de que o terapeuta é alguém que não queira se aproveitar do momento de vulnerabilidade do paciente.

Gislene conta que, mesmo não havendo distinção de gêneros entre pacientes ou profissionais, observa-se que as mulheres recorrem a especialistas também do sexo feminino, tudo questão de segurança.

"Vivemos em uma era onde assédio e importunação ainda são uma realidade. Então, buscamos todos, profissionais e clientes, por ambientes seguros.", comenta a especialista.

Por isso é importante o cuidado com os falsos profissionais, aqueles que, no final das contas, não prestam o trabalho divulgado e ainda podem colocar a paciente em risco. Para evitar essa cilada, a sexóloga aconselha procurar mais sobre o trabalho dessa pessoa antes de agendar uma consulta.

Também vale buscar por indicações e, caso a sessão seja presencialmente, tentar ir acompanhada ou compartilhar a localização em tempo real com alguém de confiança, além de pesquisar previamente o endereço.

"Não se deixar levar apenas por números de seguidores em redes sociais como parâmetro, pois, hoje, sabemos que é possível comprar seguidores e, assim, criar uma autoridade", orienta ela.