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Como Luma de Oliveira: como se perdoar e ser perdoado após traição?

A empresária e atriz Luma de Oliveira ganhou as manchetes ao admitir ter sido infiel na juventude - Roberto Filho/Brazil News
A empresária e atriz Luma de Oliveira ganhou as manchetes ao admitir ter sido infiel na juventude Imagem: Roberto Filho/Brazil News

Rute Pina

De Universa, em São Paulo

18/07/2022 11h53

Aos 57 anos, a empresária e atriz Luma de Oliveira ganhou as manchetes neste final de semana ao admitir ter sido infiel em vários momentos da sua juventude.

Luma mostrou maturidade ao reconhecer publicamente as traições em entrevista à revista Veja. "Traí sim, e várias vezes na minha juventude, mas não tenho orgulho disso. Eu era imatura, impulsiva. Não fui fiel e, quando traída, me senti diminuída", afirmou.

Universa conversou com psicólogas especializadas em terapia de casais para entender: e quando você é a pessoa que trai, como se perdoar e ser perdoado?

Como se perdoar?

A psicóloga clínica Triana Portal afirma que o ato de ruminar internamente uma traição está relacionado ao sentimento de culpa e perda. "Algumas pessoas não sentem tanta culpa: elas sentem que aquilo que aconteceu foi mais uma pisada de bola, mas não existe aquela dor interior, aquele sentimento de 'não deveria ter feito isso'. Quem sente culpa e fica remoendo aquilo é porque, geralmente, teve uma perda grande ou tem medo dessa perda. A pessoa tem medo de não ser perdoada e sente que não valorizou o outro", analisa a psicóloga.

E se a pessoa está se sentindo culpada, diz Triana, um processo de autoanálise é necessário. "Assim como a Luma identifica, hoje, que foi uma imaturidade, é preciso se entender e entender o contexto para se aceitar: o que me levou aquilo? Me apaixonei ou me entusiasmei? Foi uma atitude inconsequente? Essa reflexão é importante", afirma a psicóloga.

Marcia Neumann, terapeuta de casais, pontua que não existe um momento certo para atingir esta etapa, já que cada história tem sua particularidade. "Existe o tempo da pessoa, quando ela consegue ser mais racional e menos passional, em que a razão e a relação pesam mais do que o fato que ocorreu", explica a psicóloga.

"O importante para se perdoar é estar aberta a se perdoar e entender como isso aconteceu, qual foi o contexto disso. E pensar no perdão não só para o outro, mas para você também, para os nossos próprios valores, poder rever seus padrões."

A psicóloga destaca a coragem para falar do assunto publicamente por existir ainda muito julgamento. E ela pontua ainda que existe diferença de gênero no tratamento que as pessoas dão à traição: a mulher, no caso, seria muito mais julgada que o homem. "Existe um padrão. Quando o homem trai é mais fácil quando uma mulher trai, uma mulher corajosa, tranquila, sem se importar com a opinião dos outros, isso é uma questão de maturidade."

Triana concorda que existe essa diferença de gênero e afirma que o sentimento de culpa também é maior para as mulheres. "Mesmo quando ela é traída, ela se sente culpada, porque o companheiro traiu por ela não estar tão bonita, não ter suprido todas as necessidades esperadas da mulher na relação. Já quando o homem é traído, a mulher não presta. Tem todo um estigma social envolvido e, para falar disso publicamente, a mulher tem de estar em uma fase da vida de muita maturidade e muito segura de si."

Como ser perdoado?

Depois de se perdoar, como ser perdoado e seguir com a relação? Segundo Triana Portal, para um relacionamento sobreviver à traição, é preciso conversar muito abertamente sobre o que ocorreu.

"É um trauma e é preciso haver muito trabalho até que a intensidade vá passando", diz. "Mesmo que o casal tenha uma história juntos, dar essa segunda chance é um processo de luto: vai ter raiva, precisa falar bastante até voltar a um estado 'normal' da relação. E, caso exista esse perdão, é necessária maturidade para esse passado não ser 'jogado na cara'."

"Já a pessoa que traiu tem que ter humildade de falar a respeito. Não dá para falar em virar a página. Tem que falar muito sobre o assunto, principalmente porque a pessoa que foi traída sente que precisa de respostas. Reconstruir a confiança é um processo doloroso, demorado e exige muito investimento das duas partes", finaliza Triana.

É o que afirma também Márcia Neumann. "O processo de ser perdoado exige paciência. É uma questão muito particular, não tem certo ou errado: a pessoa traída pode sentir que nunca mais vai restaurar a confiança. E se ela sente que não vai poder dar esse passo talvez não seja saudável tentar —e no caso de ser uma figura pública, tudo isso é potencializado, já que todo mundo quer dar opinião", diz.

"Às vezes, a pessoa sente que pode perdoar, mas tem receio de que isso abra as portas para que ela seja julgada. É comum as pessoas falarem do que aconteceu no momento de raiva e depois ficar com medo de ficar como a boba, alguém que perdoa", diz. "Então, é preciso deixar passar o momento da raiva e pesar se sua relação é importante, avaliar o quanto ama o outro e entender que ninguém é perfeito. Você só sabe dizer se perdoaria ou não uma pessoa quando está apta para responder por isso."